Zombieing, quando quem nos deixou sem dizer nada "volta à vida"

O zombieing define aquela pessoa que, depois de desaparecer de nossas vidas sem dizer nada, de repente retorna através de uma mensagem. No entanto, esse retorno não é acidental: o zumbi bate à nossa porta faminto, precisando nutrir seu ego e reforçar sua autoestima.
Zombieing, quando quem nos deixou sem dizer nada "volta à vida"
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Nos últimos anos, passamos a ficar familiarizados com termos como ghosting (desaparecer da vida afetiva de alguém sem explicação) ou orbiting (cortar o relacionamento com uma pessoa, mas continuar interagindo com ela através das redes sociais). Agora, parece que estamos sendo “quase forçados” a adicionar uma nova palavra a esta lista: zombieing.

Independentemente de gostarmos ou não dessa série de substantivos anglo-saxões, há um fato inegável. Nomear esses fenômenos intimamente ligados ao mundo das novas tecnologias já é uma necessidade, porque tais meios mudaram a maneira como nos relacionamos e, acima de tudo, a forma como construímos (e destruímos) nossos relacionamentos de casal e também de amizade.

Zombieing define um tipo de comportamento que pode ser familiar para nós: refere-se àquela pessoa que pratica o ghosting e, milagrosamente, “volta à vida”. Além disso, o faz através de uma mensagem de texto, um simples WhatsApp ou um comentário nas redes sociais. Alguém, que considerávamos desaparecido retorna ao nosso presente novamente, com total normalidade e com um único objetivo: reviver o relacionamento.

Além de único (ou bizarro), o termo zumbi não deixa de refletir uma realidade que ocorre com muita frequência. E o pior é que essas dinâmicas geram um grande sofrimento.

Se o fato de ter que assumir o inexplicável desaparecimento de uma pessoa com quem estávamos emocionalmente unidos já é difícil, lidar com o seu retorno coloca a pessoa em uma encruzilhada muito peculiar.

Vamos nos aprofundar neste tema a seguir.

Homem olhando celular na rua

Zombieing, o retorno de quem foi embora sem se despedir

Alguém está imerso em seu trabalho, em um momento de lazer com os amigos, ou compartilhando a vida com o parceiro atual e, de repente, acontece. Recebemos uma notificação no celular, damos uma olhada e ali está.

Alguém que era importante para nós e que decidiu parar de responder sem que houvesse um motivo retorna ao nosso presente com uma festividade alegre, inocência e até com um charme sutil.

Geralmente, o faz através de algumas frases muito comuns, como: “Oi, tudo bem? Como estão as coisas? Sinto sua falta” , “Oi, eu te vi nas suas fotos do Instagram; você está ótimo. Gostaria de sair para tomar alguma coisa?” Quando isso acontece na primeira pessoa, estamos experimentando o que é conhecido como Zombieing, um termo criado em 2016.

Além disso, esses zumbis do século XXI têm a incomum, e quase sobrenatural capacidade, de retornar exatamente quando superamos o luto pela sua ausência. Reconstruímos nossa vida com band-aids emocionais, com curativos e pontos tentando curar a ferida pela sua falta, por aquele fantasma que nos deixou quase fraturados e, de repente… ele bate em nossa porta.

O que fazer nessas situações? Além disso… que tipo de perfil está por trás do fenômeno do zombieing?

Em busca de combustível para o ego

A pessoa acostumada a praticar zombieing (comportamento que ocorre tanto em homens quanto em mulheres) não faz sua aparição estelar no Halloween.

O zumbi de verdade surge quando está com fome. Seu desejo de nutrir seu ego faminto faz com que ele busque o contato de quem, em algum momento, deu a ele o que ele mais precisava: admiração, carinho e atenção.

Nós poderíamos rotulá-los como narcisistas. Também como pessoas imaturas e sem empatia. No entanto, nesse tipo de comportamento, vários processos convergem. Um deles é a fragilização dos relacionamentos. Não é necessário ter nenhum transtorno de personalidade; em vez de recorrer à área clínica, devemos vê-lo como um comportamento social, um padrão cada vez mais difundido.

Quem foi embora um dia sem motivo algum não precisa de desculpa para voltar. Faz isso porque não valoriza os vínculos ou relacionamentos, porque não pesa a consciência nem vê algum problema em seu comportamento. Para quem já foi um fantasma antes e agora se tornou um zumbi, tudo flui e se move de acordo com desejos e necessidades. O amor é descartável, usado, jogado fora, e pode até ser reciclado, se desejado.

Se esse ex-parceiro retorna à nossa vida um tempo depois de nos deixar, o faz basicamente para reforçar seu ego e, certamente, sua realidade imediata não é muito estimulante. Precisa de novos reforços e, portanto, espera que possamos nutri-lo como antes.

Menina olhando celular

Diante do zombieing, é melhor não abrir a porta

Sofrer com o zombieing geralmente nos coloca em uma situação difícil. As feridas se abrem novamente, o equilíbrio que alcançamos após essa ausência fica perturbado e, acima de tudo, aparecem a raiva e a surpresa. Porque essas pessoas que retornam às nossas vidas fazem isso de forma nova e reluzente, buscando chamar nossa atenção… como se nada tivesse acontecido.

O que devemos fazer nessas circunstâncias? Em primeiro lugar, seja cauteloso. Não devemos perder a perspectiva, por mais tentados que nos sintamos ao ler aquelas mensagens, ouvir os áudios, receber os convites que nos relembram dias e momentos passados. Porque seu retorno nunca é acidental ou inócuo; o zumbi sempre exige alguma coisa, ele sempre volta com fome e é habilidoso em abrir cicatrizes já curadas.

Se serve de algo ter experimentado a vivência de um ghosting, é para não deixar que o mesmo aconteça conosco novamente. O amor não é sobre fantasmas ou zumbis; todo relacionamento que dói, fere e machuca não é real, e é melhor impor uma distância.

Assim, a melhor coisa a fazer é ignorar essas mensagens, bloqueá-las, impedi-las de entrar em nossas vidas e proteger, acima de tudo, o território sagrado do nosso coração.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.