As 6 emoções básicas: características e funções

As 6 emoções básicas: características e funções
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Temos o velho costume, herdado da filosofia, de confrontar sempre a razão e as emoções, como se as emoções alterassem o raciocínio. Atribuímos às emoções esse caráter hedônico, transcendental e irracional que nos faz pensar que elas não têm utilidade. Mas isso é um grave erro, as emoções cumprem um papel muito importante, ajudam a dirigir a nossa conduta e a agir rapidamente. Entre elas as mais relevantes são as emoções básicas: surpresa, nojo, medo, alegria, tristeza e raiva.

Essas emoções básicas aparecem durante o desenvolvimento de qualquer pessoa independentemente do contexto em que esteja. Em geral, são processos relacionados à evolução e à adaptação, que têm um substrato neural inato, universal, e um estado afetivo associado característico, que poderíamos chamar de sentimento.

Conheça as 6 emoções básicas do ser humano

A surpresa

A surpresa pode ser definida como uma reação causada por algo imprevisto, inédito ou estranho. Ou seja, quando aparece um estímulo que o sujeito não contemplava em suas previsões ou esquemas. A vivência subjetiva que a acompanha é uma sensação de incerteza junto a um estado em que a pessoa tem a sensação de ter a mente em branco.

Mulher surpresa com algo

Com respeito às reações fisiológicas, nos deparamos com uma desaceleração da frequência cardíaca e um aumento do tônus muscular e da amplitude respiratória. Além disso, aparece um tom de voz alto, junto a vocalizações espontâneas.

A função da surpresa é esvaziar a memória de trabalho de toda a atividade residual para lidar com o estímulo imprevisto. Portanto, esse estado ativa os processos de atenção, juntamente com a conduta de exploração e a curiosidade. Essa emoção é frequentemente seguida por outra emoção que vai depender da qualidade do estímulo imprevisto, mostrando assim sua positividade (alegria) ou negatividade (raiva).

O nojo

O nojo é uma das emoções básicas conhecidas desde os trabalhos de Darwin sobre a emoção animal. Caracteriza-se por uma sensação de repulsa ou de evitar algo diante da possibilidade, real ou imaginária, de ingerir uma substância nociva, que tenha propriedades contaminantes. A sensação subjetiva é de um grande desagrado e de uma nítida aversão ao estímulo indutor.

Os efeitos fisiológicos centrais são o aparecimento de diversos tipos de mal-estar gastrointestinais acompanhados de náuseas. Além disso, observa-se um aumento geral da ativação; visível através do aumento da frequência cardíaca e respiratória, condutância da pele e tensão muscular.

A função adaptadora que o nojo cumpre é rejeitar todos os estímulos que podem provocar uma intoxicação. As náuseas e o mal-estar contribuem para evitar qualquer ingestão danosa para o corpo. Além disso, com o tempo, essa emoção tem ganhado um caráter social de rejeitar os estímulos sociais tóxicos para nós.

O medo

É a emoção mais estudada nos animais e no ser humano. O medo é um estado emocional negativo ou aversivo com uma ativação muito elevada que incita o ato de evitar e de escapar de situações perigosas. A vivência dessa emoção provoca uma sensação de grande tensão junto a uma preocupação pela própria segurança e saúde.

Os correlatos fisiológicos nos mostram uma elevação rápida da ativação e uma preparação para a fuga. A atividade cardíaca dispara e a atividade respiratória acelera, causando uma respiração superficial e irregular.

O medo é um legado evolutivo que tem um valor de sobrevivência óbvio. Essa emoção é útil para preparar o corpo e gerar condutas de fuga ou enfrentamento frente a estímulos potencialmente perigosos. Além disso, facilita a aprendizagem de novas respostas que afastam a pessoa do perigo.

Mulher correndo com medo em floresta

A alegria

A alegria é, de todas as emoções básicas, talvez a mais positiva: está associada de forma direta com o prazer e a felicidade. Ela aparece, por exemplo, em resposta à conquista de alguma meta pessoal pessoal ou frente à atenuação de um estado de mal-estar. Pela forma como a manifestamos, pode parecer que ela não tem nenhuma função para nossa sobrevivência além de ser um mero reflexo do nosso estado interno.

No entanto, a alegria é um dos sistemas que o corpo tem para incentivar a ação. Além disso, serve como recompensa para aquelas condutas benéficas para si mesmo. A alegria dispara quando realizamos uma ação que alcança uma meta, e graças a isso, essa conduta se repetirá para que voltemos a vivenciar essa sensação de prazer. É, talvez, o reforço mais natural com o qual contamos.

A nível fisiológico encontramos um aumento da frequência cardíaca e um maior ritmo respiratório. Além disso, na química cerebral nos deparamos com uma maior liberação de endorfinas e dopamina.

A tristeza

Dentro das emoções básicas, a tristeza é a que implica a maior negatividade. Essa emoção se caracteriza por uma queda de ânimo e uma redução significativa no nível de atividade cognitiva e de conduta. Apesar da má fama que essa emoção tem, ela cumpre funções iguais ou mais importantes que as demais emoções básicas.

A função da tristeza é atuar em situações onde o sujeito se encontra impotente ou não pode dar continuidade a nenhuma ação direta para solucionar o que lhe traz sofrimento, como o falecimento de uma pessoa querido. Por isso a tristeza reduz o nível de atividade, com o objetivo de economizar recursos e evitar que façamos esforços desnecessários.

Além disso, atua de maneira autoprotetora, gerando um filtro perceptivo que centra a atenção na própria pessoa no lugar de um estímulo danoso. E o mais importante, instiga a busca do apoio social que facilite a fuga de uma situação depressora.

Mulher triste diante de janela

A raiva

A raiva é o sentimento que emerge quando a pessoa se vê submetida a situações que causam frustração ou que são hostis. A vivência que surge dessa emoção se categoriza como desagradável, junto a uma sensação de tensão que nos motiva a agir. É uma emoção de muitas faces e, em muitos casos, ambígua, pois dependendo da situação pode ser vista como mais ou menos justificada.

A nível fisiológico, identificamos no corpo um aumento excessivo da ativação e uma preparação para a ação. Observamos um aumento da atividade cardíaca, no tônus muscular e na amplitude respiratória. Além disso, observa-se um aumento significativo da adrenalina no sangue que, por sua vez, aumentará a tensão cognitiva.

A raiva tem uma função evolutiva clara, nos fornecendo recursos necessários para enfrentar uma situação frustrante. Quando temos que enfrentar algum perigo ou superar um desafio, esse gasto de recursos para aumentar a ativação nos ajuda a ter sucesso. Se mesmo com a raiva ainda não se consegue alcançar o objetivo, surge a tristeza; para solucionar o problema através de outras ferramentas.

Sejam de valência positiva, negativa ou neutra, o certo é que todas as emoções cumprem funções que favorecem nossa sobrevivência. Por outro lado, também trazem o perigo de, por sua intensidade, dominarem a nossa conduta. É nesses casos que a regulação emocional é especialmente importante, já que é ela que pode afastar o lado negativo desse sequestro emocional das rédeas da nossa vida.


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