6 mitos sobre o autismo que temos a responsabilidade de derrubar
Existem diversos mitos sobre o autismo que têm sobrevivido aos avanços científicos graças ao âmbito social. Essas crenças estão muito difundidas, e em vez de contribuírem para gerar uma imagem correta das pessoas com autismo e da própria condição em si, perpetuam um padrão inadequado e errôneo do transtorno.
São as ideias preconcebidas que se colocam como barreiras à adaptação de pessoas com o transtorno do espectro autista (TEA). Por isso, é essencial fazermos uma revisão dos mitos mais difundidos; assim, o objetivo será derrubá-los e facilitar a visão mais próxima possível da realidade.
Mitos sobre o autismo que é importante esclarecer
Dona Williams, diagnosticada com autismo de alto funcionamento, afirmou que “o autismo não é como um quebra-cabeças em que falta uma peça, mas como vários quebra-cabeças diferentes, com peças demais e peças de menos”.
1- As pessoas com autismo não gostam de pessoas e odeiam se relacionar
Não há motivo para as pessoas com TEA se afastarem dos outros, recusarem contato ou buscarem solidão constantemente. De fato, muitas crianças gostam muito de cócegas, abraços e jogos de contato. Além disso, muitos adolescentes e pré-adolescentes querem pertencer a um grupo social com o qual se identificam e compartilhar momentos, bem como hobbies e interesses.
Talvez, por sua compreensão do mundo social ser diferente e eles terem problemas para desenvolver habilidades sociais normativas, as relações sociais gerem ansiedade. Certas reações podem nos levar a pensar que sua condição faz com que sejam evitativos, mas este não é o caso. Eles podem, ocasionalmente, ter comportamentos evasivos para evitar a tensão, mas não é algo que caracterize essas pessoas.
Temos a responsabilidade de facilitar que as relações sociais gerem menos tensão. Por exemplo, o contato visual é desconfortável em muitos casos, e não devemos exigi-lo ou ridicularizar a tendência de olhar para o outro lado.
“Eu ouço melhor quando não estou olhando para você. O contato visual é desconfortável. As pessoas nunca entenderão a batalha que eu enfrento para fazer isso”.
-Wendy Lawson-
2- Eles não se importam que os rejeitem porque estão em seu mundo e não percebem
Podemos ter a sensação de que as pessoas com autismo não se conectam. No entanto, o que acontece é que sua conexão tem outra porta, outra forma de se sintonizar. Aceitar que não só a nossa maneira de nos relacionarmos e de nos interessarmos pelo mundo é correta é o primeiro passo para entender melhor essa condição.
A ferida da rejeição pode levar ao desenvolvimento de patologias como a depressão e a ansiedade em pessoas com transtorno do espectro autista. Sentir-se diferente e excluído pode gerar uma dor emocional imensa, principalmente a partir da adolescência, estágio em que o desejo de um relacionamento pode se tornar mais relevante.
“Reconheça que somos igualmente estranhos um para o outro, e que meu jeito de ser não é simplesmente uma versão deteriorada da sua”.
-Jim Sinclair-
3- Não demonstram afeto ou empatia por nenhuma pessoa
Este é um dos mitos sobre o autismo mais difundidos e prejudiciais que existem. Sua origem reside no fato de seu modo de expressar emoções e sentimentos ser diferente ou não convencional; no entanto, isso não significa que a afetividade seja uma área que não existe nas pessoas com autismo.
As pessoas com autismo podem ter dificuldade para para dar palavras ao que sentem ou se expressar da maneira socialmente conveniente, mas isso não implica que os sentimentos e as emoções não estejam presentes. Elas amam a seus entes queridos e sentem tristeza e alegria, assim como toda a gama de emoções e sentimentos existentes.
4- São agressivos com os outros e também agridem a si mesmos
A agressividade, os comportamentos de autolesão e outros problemas comportamentais não são sintomas próprios do autismo. Embora existam pessoas que apresentem em algum momento esse tipo de comportamento, não devemos esquecer que essa realidade se deve ao déficit de recursos de comunicação.
Quando os outros não nos entendem ou não sabemos expressar com palavras ou ações o que queremos, como nos sentimos ou simplesmente que nos preocupamos, as pessoas tendem a manifestar comportamentos agressivos. Isso ocorre em qualquer condição, seja no autismo de que falamos ou não.
Por exemplo, crianças com desenvolvimento normotípico tendem a ter acessos de raiva intensos por volta dos 2-4 anos. Isso acontece porque neste momento sua mente está à frente de sua capacidade expressiva e, portanto, a compreensão do ambiente é menor do que o desejado e esperado.
Este é apenas um exemplo que nos ajuda a entender que a capacidade expressiva e os recursos comunicativos andam de mãos dadas com os nossos comportamentos e a expressão emocional que fazemos através deles.
“Quando as birras começavam e a visita chegava ao fim, tínhamos outra tarde horrenda e mais uma noite de insônia. Nem sempre é fácil conviver com quem não entende o autismo ou, o que é pior, com quem sempre acredita saber mais do que o outro”.
-Hilde de Crercq-
5- Todos possuem habilidades savants, são grandes gênios em algumas áreas
Este mito foi perpetuado por séries como “The Big Bang Theory”, em que o protagonista, Sheldon, manifesta sintomas próprios do espectro autista combinados com uma grande capacidade lógico-matemática. Além disso, atualmente, têm-se dito de que pessoas com grandes habilidades como Lionel Messi ou Robbie Williams têm diagnósticos de autismo, especificamente da síndrome de Asperger.
Longe de entrar em um debate sobre se esta afirmação é não é correta, devemos saber que apenas 10% das pessoas diagnosticadas dentro do espectro do autismo mostram traços de habilidade em um domínio específico. Não devemos esperar que uma pessoa diagnosticada com TEA seja um gênio. Essa expectativa pode gerar uma grande frustração e sensação de ineficácia e fracasso tanto na família quanto na pessoa diagnosticada.
6- Não podem melhorar ou aprender, não deveriam ter uma educação normal
Todas as pessoas com autismo progridem e aprendem ao longo de sua vida. Algumas pessoas possuem um ritmo mais rápido do que outras, mas todas avançam em diferentes áreas de desenvolvimento.
Dessa forma, é muito importante que todas as pessoas, independentemente de sua condição, recebam a melhor educação possível, sendo uma educação inclusiva e que proporcione a oportunidade para se desenvolverem em um ambiente adequado às suas necessidades.
“A mudança constante das coisas nunca me dava a oportunidade de me preparar para elas. Por isso eu gostava de fazer as coisas repetidamente”.
-Donna Williams-
Como dissemos, estes são seis dos principais mitos sobre o autismo. Além disso, inclusive entre os profissionais da saúde e da educação, circulam mitos que prejudicam a percepção que temos dessa condição. Por isso, é essencial colocarmos em prática nosso conhecimento e assumirmos a responsabilidade de erradicar quaisquer ideias preconcebidas que limitem o desenvolvimento dessas pessoas.
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