Problemas psicológicos derivados da autoexigência

Embora a autoexigência consciente seja essencial para o nosso crescimento pessoal, o perfeccionismo disfuncional e a autoexigência excessiva são prejudiciais para a nossa saúde física e mental.
Problemas psicológicos derivados da autoexigência

Escrito por Helena Sutachan

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Embora seja importante estabelecer metas e se esforçar para alcançá-las, levar nossa ambição ao extremo também pode ser muito prejudicial para a nossa saúde. A autoexigência, atrelada ao perfeccionismo disfuncional, pode gerar desconforto psicológico e sentimentos de culpa e autoflagelação.

Neste artigo, exploraremos algumas das possíveis origens da autoexigência, os problemas psicológicos que ela pode trazer e as estratégias para mudar essa tendência.

O que é a autoexigência?

A autoexigência se manifesta na maneira como direcionamos nosso comportamento para a realização de objetivos irrealistas ou para o cumprimento de padrões autoimpostos que são muito rígidos e exigentes. Isso se traduz em insatisfação com o que está sendo feito, uma incapacidade de reconhecer as conquistas e uma tendência forte e prejudicial à autocrítica.

Da mesma forma, pessoas que são muito exigentes e perfeccionistas tendem a avaliar seu desempenho usando critérios absolutos como referência. Ou seja, eles sentem que fizeram as coisas certas ou erradas, sem avaliar objetivamente outros fatores que podem interferir no sucesso ou no fracasso. Aqueles que exigem demais de si mesmos tendem a apresentar uma autoestima instável e mutável. Por exemplo, eles podem ir muito rapidamente do orgulho e da alegria para a frustração e a raiva.

Além disso, para pessoas que são muito perfeccionistas, a validação externa pode ser muito importante. Elas temem potenciais avaliações negativas.

Em suma, a autoexigência e o perfeccionismo são características multidimensionais em que, por um lado, criam-se padrões de desempenho excessivamente elevados e, por outro, surgem sentimentos de ansiedade quanto à possibilidade de não alcançar esses padrões.

Homem pensando preocupado

Qual é a origem da autoexigência?

Sendo uma característica multidimensional da nossa personalidade, a autoexigência pode ter diferentes origens em relação às nossas histórias de vida particulares.

Em primeiro lugar, essa forma de perfeccionismo pode ser aprendida, tendo sua origem nas normas culturais nas quais fomos criados. Também pode ter sido aprendida com os princípios da nossa família.

Por exemplo, nossos pais podem ter valorizado nossas notas em excesso ou sido muito rígidos quanto à distribuição do nosso trabalho e tempo de lazer. Essas aprendizagens que vêm da infância podem se instalar na nossa vida adulta e nos levar a padrões prejudiciais de autoexigência.

Além do exposto, ela também pode surgir em diferentes momentos da nossa história pessoal. Pode estar ligada a um momento em que sentimos que poderíamos ter nos esforçado mais para atingir um objetivo. Ou até a um ponto em nosso passado em que acreditávamos que, ao nos esforçarmos mais, atingiríamos um padrão de desempenho validado socialmente.

Essas formas disfuncionais de perfeccionismo também podem ter se originado das relações sociais que construímos. Talvez, em algum momento, nos comparamos a alguém e quisemos imitá-lo, ou sentimos que era preciso nos esforçar demais para fazer parte de um grupo ou ser aceitos por nossos parceiros.

Em conclusão, a autoexigência pode ter começado ou aumentado seu fluxo em diferentes histórias do nosso passado.

Como a autoexigência pode me afetar?

Em geral, a pouca ou nenhuma flexibilidade nos critérios que construímos pode ser a fonte do nosso sofrimento. Ser excessivamente exigente pode gerar sintomas de depressão e ansiedade por não nos sentirmos bons o suficiente e pela maneira como isso afeta a percepção do nosso valor pessoal.

Isso pode ter um impacto negativo em nossa autoestima e nos levar a ser muito competitivos ou a experimentar sentimentos de isolamento que podem afetar os nossos relacionamentos afetivos.

Além disso, esses altos níveis de autoexigência podem levar à inação. É possível que, devido à natureza inatingível dos nossos padrões, fiquemos paralisados, incapazes de agir pelo medo que a possibilidade de fracasso gera em nós. Isso, no final, nos fará perder oportunidades ou não utilizar o tempo da melhor forma, alimentando o ciclo de recriminações porque nossa ação não condiz com o modelo idealizado que construímos.

Finalmente, é possível que nosso corpo físico seja afetado. O estresse que costuma acompanhar a autoexigência pode causar desconfortos, como insônia, problemas gastrointestinais, cansaço constante e tensão muscular.

Mulher estressada

É possível mudar esse comportamento?

Como mencionamos anteriormente, a tendência à autoexigência é aprendida e, nesse sentido, pode ser modificada. Um bom primeiro passo é mudar a maneira como falamos com nós mesmos. Substituir o “Eu tenho que” ou “Eu devo” por um educado “Eu quero fazer” ou “Eu gostaria de fazer” pode transformar progressivamente a maneira como avaliamos o nosso próprio desempenho. Este é o primeiro passo para ver de outra forma o reflexo que nosso espelho interno nos devolve.

Valorizar nossas conquistas e reconhecer o esforço que fizemos para alcançá-las pode ser outra estratégia para administrar o nosso perfeccionismo. Lembremo-nos de que existem expressões de autoexigência que são saudáveis, nos orientam para os objetivos, nos permitem reconhecer e transformar os nossos erros e nos ajudam no nosso crescimento pessoal.


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