Qual é a área do cérebro responsável pelo pessimismo?

Cientistas identificaram a área do cérebro responsável pelo pessimismo. Parece que a causa dessa forma de ver o mundo está ligada a uma superestimulação do núcleo caudado.
Qual é a área do cérebro responsável pelo pessimismo?
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A maioria de nós já experimentou um momento marcado por uma atitude mais pessimista em nossas vidas. Mas o que exatamente é o pessimismo? Há alguma área do cérebro responsável por ele?

O pessimismo é uma atitude mental que nos faz antecipar um resultado indesejável a partir de uma situação. Os pessimistas tendem a se concentrar somente nos aspectos negativos da situação ou inclusive da vida em geral.

Muitos pacientes com transtornos psicológicos, como a ansiedade e a depressão, experimentam estados de humor negativo que os levam a se concentrar nos possíveis inconvenientes de uma determinada situação em detrimento dos possíveis benefícios.

Uma equipe de neurocientistas identificou a área do cérebro responsável pelo pessimismo – ou pelo menos a região que pode participar da geração desse estado. A pesquisa sugere que tanto a ansiedade quanto a depressão são causadas por uma superestimulação do núcleo caudado.

Um novo estudo realizado por Ann Graybiel, professora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), e publicado na revista Neuron, examinou os fundamentos neurológicos do pessimismo em ratos e também encontrou pistas sobre a ansiedade e a depressão nos seres humanos.

As descobertas poderiam ajudar os cientistas a compreender como surgem alguns dos efeitos paralisantes da depressão e da ansiedade, e guiá-los no desenvolvimento de novos tratamentos.

A área do cérebro responsável pelo pessimismo

Os pesquisadores demonstraram que estimular o núcleo caudado pode gerar emoções e humores negativos que conduzem a uma tomada de decisão irracional. Segundo os resultados do estudo, a estimulação do núcleo caudado faz com que os animais deem muito mais peso para uma possível desvantagem de uma situação, que é antecipada, em detrimento de seu potencial benefício.

Para o estudo, Graybiel e seus colegas focaram em um tipo de processo de tomada de decisão conhecido como conflito de evitação e aproximação. O conflito de evitação e aproximação descreve situação nas quais as pessoas (e também outros mamíferos) têm que decidir entre duas opções, sopesando os aspectos positivos e negativos de cada alternativa.

Área do cérebro responsável pelo pessimismo

Uma pesquisa anterior realizada por esse mesmo grupo já havia identificado um circuito neural que está por trás desse tipo específico de tomada de decisão conhecido como conflito de aproximação e evitação. Esse tipo de decisão, que requer opções de ponderação com elementos tanto positivos quanto negativos, tende a provocar uma grande ansiedade.

Também haviam demonstrado que o estresse crônico afeta dramaticamente esse tipo de tomada de decisão, e mais estresse geralmente leva os animais a escolherem opções de alto risco e alta rentabilidade.

Nesse novo estudo, os pesquisadores queriam ver se podiam reproduzir o efeito que frequentemente é observado em pessoas com depressão, ansiedade ou transtorno obsessivo-compulsivo. Esses pacientes têm uma tendência a se envolver em comportamentos ritualísticos, desenhados para combater os pensamentos negativos e para dar mais peso ao possível resultado negativo de uma dada situação. Os pesquisadores suspeitavam que esse tipo de pensamento negativo podia influenciar a tomada de decisões para evitar o conflito.

Para recriar o cenário no qual os roedores devem escolher algo, pesando os aspectos positivos e negativos, os cientistas ofereceram aos ratos um pouco de suco como recompensa, mas esse suco estava combinado com um estímulo aversivo: uma bufada de ar no rosto.

Decisões emocionais

Para provar essa hipótese, os pesquisadores estimularam o núcleo caudado, uma região do cérebro vinculada com a tomada de decisões emocionais. Ao longo de vários experimentos, os pesquisadores variaram a relação entre a recompensa e os estímulos desagradáveis e deram aos roedores a capacidade de escolher entre aceitar a recompensa com o estímulo aversivo ou não.

Como explicam os cientistas, esse modelo requer que os roedores realizem uma análise de custo-benefício. Se a recompensa é suficientemente boa para equilibrar a desagradável bufada de ar, os animais escolheriam aceitá-la. Mas quando a proporção é muito baixa, eles a rejeitariam.

Quando os pesquisadores estimularam o núcleo caudado, o cálculo de custo-benefício foi desviado e os animais começaram a evitar as combinações que antes haviam aceitado. Isso continuou inclusive depois de a estimulação ter terminado, e também pôde ser visto no dia seguinte. A partir daí, ela foi desaparecendo gradualmente.

Esse resultado sugere que os animais começaram a não valorizar tanto a recompensa, e focaram muito mais no custo do estímulo aversivo. Graybiel explica que esse estado que eles haviam produzido é marcado por uma superestimação do custo em relação ao benefício.

Homem tomado pelo pessimismo

Ansiedade e depressão, um delicado equilíbrio

Os pesquisadores também descobriram que a atividade das ondas cerebrais no núcleo caudado se alterava quando os padrões de tomada de decisão mudavam. Essa mudança se encontra na frequência beta e poderia servir como um biomarcador para controlar se os animais ou os pacientes respondem a tratamentos farmacológicos.

Agora, os cientistas estão trabalhando no estudo dos pacientes que sofrem de ansiedade e depressão, para ver se seus cérebros mostram uma atividade anormal no núcleo do neocórtex e no núcleo caudado durante a tomada de decisões para evitar uma aproximação. Os estudos de ressonância magnética já mostraram uma atividade anormal em duas regiões do córtex pré-frontal medial que se conectam com o núcleo caudado.

O núcleo caudado tem em seu interior regiões conectadas com o sistema límbico, que regula o humor e envia informações para as áreas motoras do cérebro, assim como para as regiões produtoras de dopamina. Os pesquisadores acreditam que a atividade anormal observada no núcleo caudado nesse estudo poderia estar alterando de algum modo a atividade da dopamina no cérebro.


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  • Amemori, K., Amemori, S., Gibson, D., y Graybiel, A. (2018). Striatal Microstimulation Induces Persistent and Repetitive Negative Decision-Making Predicted by Striatal Beta-Band Oscillation. Neuron99(4), 829-841.e6. doi: 10.1016/j.neuron.2018.07.022

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