A dissonância cognitiva na dependência emocional

Neste artigo, vamos tratar da famosa teoria da dissonância cognitiva de Leon Festinger. Neste caso, vamos focar um âmbito em que essa dissonância tem uma importância maior devido aos danos que provoca quando mal gerida: o da dependência emocional.
A dissonância cognitiva na dependência emocional
Alicia Escaño Hidalgo

Escrito e verificado por a psicóloga Alicia Escaño Hidalgo.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A dissonância cognitiva é um conceito clássico em psicologia, cunhado pelo psicólogo Leon Festinger em 1957. Em síntese, refere-se ao fato de que as pessoas costumam se esforçar para manter uma coerência interna entre suas crenças, seus valores e seus comportamentos.

Quando esse equilíbrio é ameaçado, a pessoa se sente muito incomodada. Consequentemente, surge um interesse por restabelecê-lo.

A dissonância cognitiva é um efeito psicológico muito comum. Todos nós, em maior ou menor medida, já o experimentamos alguma vez. Neste artigo, vamos nos focar no efeito da dissonância cognitiva na dependência emocional (estado).

Muitas vezes não temos consciência dessa dissonância. Ao detectá-la neste plano, é comum colocarmos em prática diferentes estratégias, também de forma inconsciente, para enfrentá-la.

Dessa forma, ou trivializamos nossa conduta (“Não tem importância” “Vamos morrer por algum motivo mesmo”) ou enganamos a nós mesmos (“Tenho certeza de que tudo vai mudar”).

Em outras situações, também podemos mudar nossa própria opinião, tentar influenciar para que os outros mudem a deles e, inclusive, gerar estratégias para que outras pessoas deixem de ser semelhantes (“Sim, é verdade que morreu de câncer, mas ela tinha antecedentes familiares. Eu não tenho.”).

A dissonância cognitiva na dependência emocional é um tema bastante comum. Quando alguém está imerso em uma relação tóxica, no fundo do seu ser essa pessoa sabe que o ideal seria conseguir sair dessa situação. Mas, por outro lado, algo a impede de fazer isso.

Então, surge o embate entre o medo da solidão e de passar por uma situação de sofrimento, com o mal-estar que se sente diariamente por estar em uma relação destrutiva.

Mulher exausta e chateada

Quando o “devo” se choca com o “preciso”

A dissonância cognitiva na dependência emocional surge no momento em que a pessoa sente que cada dia faz parte de uma sentença ao lado da outra pessoa. Seja porque o outro a humilha, a anula, age com agressividade, crítica, infidelidade, etc.

O resultado é que, progressivamente, a autoestima da pessoa dependente é cada vez mais afetada.

No momento em que a pessoa que é dependente emocionalmente tem um instante de lucidez, abre os olhos e é capaz de contemplar essa realidade, ela toma consciência da dor que está sentindo. Nesse transe, seus pensamentos se voltam à ideia de “devo sair dessa relação porque me faz mal”.

Infelizmente, a dependência emocional carrega em suas entranhas um aspecto ainda mais poderoso: o medo da rejeição ou da solidão. O medo de ficar sozinho consigo mesmo. Portanto, esse instante de lucidez do qual falamos rapidamente desaparece.

Em vez de agir de acordo com a ideia de “devo sair dessa relação” e ser coerente, a pessoa se refugia no “preciso dessa pessoa para não ficar sozinha” e, portanto, mantém a conduta de sempre.

O indivíduo dependente persiste em uma relação tóxica e gera uma dissonância cognitiva muito incômoda: isso me faz mal, e eu deveria me afastar, mas o anúncio de uma possível solidão me aterroriza.

A dissonância cognitiva na dependência emocional se torna ainda mais desagradável quando o meio, desde seu próprio ponto de vista, percebe claramente que a pessoa deveria terminar a relação.

Portanto, com a melhor das intenções e com pretensão de ajudar, surgem mensagens e dicas de como agir: Mas você não vê que o outro está sendo infiel? Você não deveria aceitar que gritassem com você, termine antes que seja tarde demais.

Isso, evidentemente, gera um conflito interno muito maior, e o indivíduo dependente pode chegar, inclusive, a repudiar essas pessoas ou cortar essas relações para evitar que provoquem mais dissonância.

A dissonância cognitiva na dependência emocional aumenta quanto mais pessoas, sobretudo se forem importantes para nós, estiverem em desacordo com a forma como estamos nos comportando.

Casal superando dificuldades

Dissonância cognitiva na dependência emocional: desculpas e autoengano

No marco das relações tóxicas, são comuns as desculpas e a autoengano para reduzir o mal-estar produzido pela dissonância cognitiva. Dessa maneira, as pessoas acabam acreditando, como se fosse real, naquilo que foi gerado pelas suas mentes a fim de manter a ideia de coerência.

A dissonância cognitiva na dependência emocional nos dá pistas para que saibamos detectar esse autoengano. O aspecto que mais se destaca é o emocional.

Quando uma pessoa está em uma relação prejudicial e, no entanto, sua conduta é dissonante com esse fato, ela se sente incomodada. Às vezes, inclusive, pode chegar a sofrer um episódio depressivo, com tudo o que isso envolve: insônia, falta de apetite, apatia, etc.

Se sentimos um forte incômodo, um mal-estar contínuo ou uma sensação de que não estamos confortáveis, talvez devêssemos reformular nosso diálogo interno a fim de perceber que estamos dizendo a nós mesmos para seguir na mesma direção de sempre.

Outra das dicas para perceber que estamos nos enganando é pensar no possível término e senti-lo como se fosse um abismo profundo. Nesse sentido, certamente vamos sentir um medo intenso da incerteza provocada por um possível futuro com mudanças.

Isso pode ser traduzido em uma necessidade extrema de estar ao lado da pessoa “amada”, não tanto por amor, mas sim por pensar que não será possível ficar sozinho: eu não confio em minhas capacidades, meus recursos, minhas potencialidades, etc.

Recorrer à terapia é essencial para poder trazer à tona todos esses truques mentais com os quais tentamos garantir a nós mesmos um futuro conhecido, embora não desejado.

Nesse sentido, a terapia psicológica pode nos ajudar a reduzir a dissonância utilizando estratégias que não sejam prejudiciais a nós mesmos. A ideia é dar passos que nos conduzam ao caminho do enfrentamento da realidade.


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  • Morales, F.(1994). Psicología Social. Madrid: McGraw-Hill.

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