A filosofia helenística e a arte de viver: como aplicar seus ensinamentos à vida cotidiana

Nos últimos anos, ressurgiu a filosofia helenística em chave moderna. Pensadores tão antigos servem hoje para repensar aqueles juízos que prejudicam o desenvolvimento de uma vida plena. Neste artigo você irá descobrir os ensinamentos que eles nos deixaram.
A filosofia helenística e a arte de viver: como aplicar seus ensinamentos à vida cotidiana
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 14 abril, 2023

A filosofia helenística considera que a vida pode ser melhorada através do estudo e da prática do conhecimento. Neste artigo, exploraremos a conexão entre a referida filosofia e a arte de viver, entendendo a atividade filosófica como um modo de vida.

Nosso propósito é que os leitores tenham uma compreensão mais profunda sobre o assunto e como essa corrente pode ser usada a seu favor.

Filosofia helenística

A filosofia helenística foi um movimento que surgiu na época de Alexandre Magno. Desenvolveu-se durante os séculos III e II a. C. na Grécia. Assim, esse modo de pensar se caracterizava pela busca da felicidade e do bem-estar do indivíduo.

Surgiu durante a perda de autonomia das cidades gregas. Em seu lugar, surgem impérios caracterizados por suas grandes extensões de terra. Nesse contexto, o cidadão torna-se um indivíduo isolado e subjugado pela imensidão em que logo está submerso.

Por isso, foi muito importante o aparecimento das escolas helenísticas: perante o indivíduo solitário nasce uma nova forma de filosofar. Assim, fundamenta um determinado modo de vida de acordo com os tempos de então, proporcionando uma forma de lidar com o mundo que os cerca.

Entre as principais escolas destacam-se o epicurismo, o cinismo e o estoicismo. Cada uma delas propunha um determinado modo de vida, mas todas tinham em comum ver na filosofia uma possibilidade de cura para o que afligia o ser humano.

Epicurismo

Seu principal expoente foi Epicuro de Samos, que sustentava que a filosofia era o meio para alcançar a felicidade. Segundo esse pensador, filosofar era uma dinâmica urgente para eliminar certos medos que impediam uma vida feliz. Esses medos estavam relacionados à morte, aos deuses e ao sofrimento.

Epicuro pensou a filosofia como remédio, ou seja, que o discurso poderia curar nossos males. Nesse sentido, os argumentos claros e coerentes que a corrente oferece nos ajudam a superar os medos fundados na ignorância.

Que ninguém, quando jovem, demore em filosofar, nem, quando velho, se canse de filosofar, pois nunca é cedo ou tarde demais para obter a saúde da alma.

-Epicuro-

Cinismo

Seu criador foi Antístenes, embora o iniciador do movimento tenha sido Diógenes de Sinope. Sua filosofia consistia em questionar costumes e regras sociais. No lugar delas, buscavam despertar a consciência das pessoas por meio de um modo de vida de acordo com a natureza e longe de luxos.

Da mesma forma, eles consideravam que uma personalidade forte era essencial para resistir em momentos de sofrimento; para desenvolver essa personalidade resistente propuseram exercícios. Por exemplo, uma forma de resistir melhor ao frio é se expor a ele, para que nosso corpo se adapte mais rapidamente às mudanças de temperatura.

Estoicismo

Seu fundador foi Zenão de Cítio, embora essa corrente filosófica também seja conhecida pelos filósofos Marco Aurélio e Epiteto, que enfatizaram a importância de aceitar as coisas que não podemos mudar. Dessa forma, as emoções negativas eram resultado de pensamentos irracionais corrigíveis por meio da reflexão e do autocontrole.

Forma de rosto humano com ramos que simulam o cérebro
A filosofia helenística fundou suas bases em ser uma cura para os problemas que afligiam a sociedade.

Filosofia como arte de viver

Na antiguidade havia uma relação muito forte entre pensar e agir, ou seja, o pensamento guiava os estilos de vida. Nesse sentido, a filosofia era compreendida como um estilo de vida ou a arte de viver. O discurso filosófico foi adotado como opção de vida e também como opção existencial. Eles escolheram existir de acordo com os ditames da disciplina filosófica.

Em consonância com isso, surge com as escolas helenísticas considerar a filosofia como uma prática da cura. Isso significa que, por meio de uma argumentação clara, concisa e sem ambiguidades era possível encontrar a felicidade ou o bem-estar humano. Assim, podemos encontrar os primórdios da terapia nessa forma de conceber a corrente.

Como acontece hoje com a terapia psicológica, tratava-se de resolver os problemas reais e concretos que afligiam os indivíduos. Hoje dizemos que temos sentimentos de angústia, tristeza e ansiedade. No entanto, na Grécia antiga, não existiam todos esses termos.

Nesse caso, eram os medos que causavam doenças de pensamento devido a julgamentos ruins, errôneos e corruptos.

Filosofia helenística e seus ensinamentos na vida cotidiana

Claro, podemos extrair certas práticas da filosofia helenística para melhorar nossas vidas. Estão intimamente relacionadas com a técnica psicológica que conhecemos como terapia. Mas é possível fazer um uso cotidiano de sua essência.

Diálogo e autorreflexão

Em primeiro lugar, trata-se de estabelecer diálogos com os outros e consigo mesmo. Quando colocamos nossos pensamentos em palavras, os interlocutores podem rastrear essas reflexões errôneas. Da mesma forma, podemos fazer uma autocrítica para conseguir o mesmo, mas sem a necessidade de que o outro nos escute.

O que alcançamos fazendo isso? Trazemos à consciência, compreendemos e criticamos nossa realidade. Quantas vezes já nos aconteceu que os nossos pensamentos nos “encerram” e não conseguimos ver além deles? Adquirir uma atitude crítica em relação a nós mesmos serve para nos corrigir e adotar pensamentos favoráveis.

Uso da argumentação

Em segundo lugar, usar argumentação racional e lógica serve para identificar as falácias encontradas nos discursos. Trata-se de encontrar um novo significado que alivie nossa consciência. Por exemplo, se o problema é que pensamos muito no futuro, então devemos focar no presente: viver um dia de cada vez!

Atitude prudente

Em terceiro lugar, uma atitude prudente, tanto no que diz respeito ao ambiente social como material. Não tomar a fala dos outros como uma verdade fechada e fugir de luxos pode simplificar nossas vidas.

Embora seja necessário dialogar com os outros, devemos ter cuidado com as coisas que nos dizem. Aqui temos que fazer uso de toda a nossa capacidade de discernimento e argumentação, para diferenciar se os discursos estão corretos ou incorretos.

Fotografia de uma jovem pensando e o sol refletindo em seu cabelo
Ouvir a nós mesmos é tão importante quanto ouvir os outros, de acordo com essa escola de pensamento.

Filosofia não só para acadêmicos

Como podemos perceber, a filosofia não é apenas para acadêmicos. É uma excelente disciplina, recomendada a todos aqueles que procuram uma vida melhor e mais plena.

Nesse sentido, a filosofia helenística nos ensina que devemos ouvir criticamente os outros e a nós mesmos. A fala tem o poder de curar aquelas inquietações que nos perseguem no dia a dia. Portanto, abordar essa filosofia é um retorno à origem da psicoterapia.


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