Abulomania: quando a indecisão se torna patológica

Abulomania: quando a indecisão se torna patológica
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Todos nós já tivemos que enfrentar algum momento de nossas vidas em que fomos obrigados a tomar uma decisão difícil. Ficamos em dúvida, começamos a ficar nervosos por não saber o que escolher… Isso é algo normal. Quando, no entanto, a indecisão começa a afetar a nossa vida e nossas relações com as outras pessoas, e junto com ela vem o estresse, a ansiedade ou inclusive a depressão, pode ser que estejamos diante de um caso de abulomania.

É necessário realçar que a abulomamia é um transtorno mental incapacitante, não só um problema de insegurança. As pessoas que sofrem desse transtorno não confiam em si mesmas para tomar decisões e, normalmente, têm muitos problema em suas relações, sejam elas amorosas, de amizade, familiares, de trabalho, etc. O fato de ter que escolher entre duas sobremesas pode se transformar em uma odisseia. É até esse ponto que chega a abulomania.

O que desencadeia a abulomania?

Para determinar as causas da abulomania temos que fazer uma investigação completa da pessoa que sofre do transtorno, pois ainda não está muito claro para a ciência quais são exatamente os fatores desencadeantes dessa doença. Não obstante, são várias as pesquisas que se aventuraram a criar diferentes hipóteses.

Mulher nervosa por sua indecisão

Uma possível origem pode estar no córtex pré-frontal do cérebro. É uma área relacionada com a tomada de decisões, e por isso vários pesquisadores acreditam que a base orgânica desse transtorno mental está aí. Outras causas levantadas, no entanto, têm relação com o estilo de criação da pessoa, ainda que esta seja uma hipótese tratada com bastante cautela pelos pesquisadores.

A aparição da abulomania provoca uma indecisão paralisante.

Nesse contexto, uma proteção excessiva durante a infância poderia ser a semente do desenvolvimento da abulomania, pois como sabemos a superproteção provoca uma dependência atroz da pessoa em relação a opiniões e decisões dos demais. Além disso, se na infância houver também humilhações ou abandono esse transtorno pode aparecer mais tarde. Isso porque a vergonha, a insegurança extrema e a falta de confiança em si mesmo podem ser causas da doença.

Não estão claras, no entanto, as causas exatas e os pesquisadores não conseguiram provar nenhuma hipótese de maneira empírica até agora. Por isso, ainda que se especule sobre os possíveis motivos, não há garantias que um deles seja realmente uma resposta, e muito menos uma única resposta, para explicar esse fenômeno em todos os casos.

A vida de uma pessoa com abulomania

Temos que ter muito cuidado para não confundir a abulomania com a dependência emocional. Por isso é tão importante pedir ajuda para um profissional que possa ajudar a dar um nome exato para o conjunto de sintomas que observamos. Como veremos a seguir, algumas das circunstâncias que uma pessoa com abulomania enfrenta podem ser facilmente confundidas com dependência ou insegurança.

O habitual é que uma pessoa com abulomania evite ficar sozinha em qualquer situação em que possa surgir um dilema diante dela. Isso não porque ela tem medo de ficar sem ninguém que a ame, mas sim porque acredita ter que ter alguém para tomar as decisões por ela, assumindo suas responsabilidades. Isso provoca e alimenta o medo do abandono, pois se está sozinha é então incapaz de tomar decisões. Por isso, infelizmente, uma das saídas encontradas pelas pessoas doentes é o suicídio.

Homem indeciso

Por ter esse jeito de se relacionar com os outros, essa forma tão dependente, a pessoa com abulomania pode ser manipulada ou enganada com mais facilidade que os demais. Pode ser que outra pessoa se aproveite, ou inclusive que um relacionamento amoroso a abandone por seu alto grau de passividade e por não saber expressar suas próprias opiniões. Se está sozinha, a pessoa com abulomania se sente desamparada, perdida e indefesa.

Diagnóstico e tratamento

Esse transtorno mental vem acompanhado de sintomas de ansiedade e depressão. Essas são na verdade as principais queixas que levam os pacientes a procurar ajuda profissional, aparecendo na consulta e mascarando a situação de outro transtorno. Por outro lado, há três testes que ajudam com o diagnóstico: inventário multiaxial clínico de Millon (MCMI-II), inventário multifásico de personalidade de Minnesota (MMPI-2) e o teste de apercepção temática (TAT).

Depois do diagnóstico, o recomendável é realizar uma intervenção para superar a abulomania. O processo consiste em, primeiro, aliviar os problemas causados pela ansiedade, depressão ou estresse que o paciente estiver sofrendo e, posteriormente, tratar o transtorno mental em si. Para fazer isso, o profissional fará uso de ferramentas que ajudem o paciente a adquirir uma maior autonomia e a desenvolver as suas habilidades sociais, como a assertividade. Além disso, em muitos casos também é necessário realizar um processo de reconstrução de autoestima.

Mulher sem saber qual caminho escolher

Quem sofre esse tipo de transtorno não é capaz de decidir nem os menores impasses. Uma refeição, um corte de cabelo, escolher um trabalho, levar ou não o guarda-chuva de manhã… Sua indecisão chega ao ponto de que, se tiver que decidir um lugar para sair no final de semana em um grupo de amigos, ninguém vai a lugar nenhum.

As pessoas com esse transtorno podem ser muito incômodas, já que quem está em volta delas fica com a sensação de que sempre deve dar um empurrão, esforçar-se para “tirar” algo delas. É verdade, mas também é verdade que quem está pior é a própria pessoa. Por outro lado, elas ficam encantadas quando criam uma relação que as permite criar pelo menos um pouco de autonomia e segurança. Não esqueçamos que o transtorno tem cura, e que nós podemos ajudar.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.