A importância do afeto na primeira infância

A falta de afeto na infância pode causar consequências psicológicas graves? Graças aos estudos sobre o apego e os efeitos da separação de bebês e mães, sabemos que a resposta para essa pergunta é positiva.
A importância do afeto na primeira infância

Última atualização: 08 julho, 2020

O afeto e os vínculos de apego entre o bebê e os pais durante a primeira infância são necessários para o desenvolvimento adequado da criança. Tanto é assim que um a separação das figuras de apego, dependendo do tempo e da duração, pode ser devastadora.

René Spitz estudou os distúrbios psicológicos em crianças de orfanatos e crianças hospitalizadas que foram separadas de suas mães. Ela descobriu que casos graves de falta de afeto na primeira infância podem levar à morte.

A maneira como uma pessoa se relaciona com o mundo e com os outros ao longo da sua vida é condicionada pelos laços que ela estabelece com a família e com o entorno durante seus primeiros anos de vida.

Para formular sua teoria do apego, John Bowlby estudou como o vínculo entre a mãe e o bebê é formado, enquanto Mary Ainsworth descreveu os diferentes padrões de apego. Neste artigo, revisaremos seus trabalhos e as descobertas de Spitz.

Proteção da família

Apego: definição, importância e padrões

O apego é um forte vínculo afetivo estabelecido entre a criança e a figura de referência (geralmente a mãe), que os leva a ficar juntos. Ele é importante para promover a exploração do entorno e facilitar o aprendizado, além de favorecer o desenvolvimento físico e mental adequado.

John Bowlby estudou como esse vínculo se forma e se desenvolve. Ele aparece pela primeira vez durante a fase 3, ou seja, a partir dos 7 meses de idade, quando  ansiedade de separação e o medo de estranhos começam a ser evidenciados. Nos dois estágios anteriores, a criança pode demonstrar preferência por um dos pais, mas não reage no caso de separação.

Mary Ainsworth projetou uma situação em laboratório chamada de “situação estranha”, que permitia estudar as separações entre as crianças e suas figuras de apego de maneira controlada. Ao observar o comportamento das crianças diante da separação e reunificação, ela pôde descrever três padrões de apego:

E sses padrões de apego são considerados universais e aparecem em diferentes culturas. Posteriormente, foi identificado um quarto tipo de apego: o apego desorganizado/desorientado (Grupo D).

Efeitos a curto prazo da separação das figuras de apego

A separação do bebê das figuras de apego antes dos 6 meses não parece causar tantos problemas, uma vez que o apego ainda não está totalmente estabelecido. No entanto, entre os 6 meses e 2 anos de idade, as crianças são especialmente vulneráveis ​​à ansiedade de separação.

Bowlby, após estudar os efeitos da separação a curto prazo e a evolução dos sintomas depressivos da ansiedade, descreveu três fases:

  • Fase de protesto. Dura entre uma hora e uma semana e começa quando a criança percebe que está sozinha. Caracteriza-se por comportamentos ativos de luta para recuperar a figura de apego, sinais de chamada (choro, grito, etc.) e recusa de ajuda de outras pessoas. Se ocorre uma reunificação, os comportamentos de apego se intensificam.
  • Fase de ambivalência ou desespero. A criança mostra um aumento da ansiedade e desespero e pode ter comportamentos regressivos. Antes da reunificação, ela pode agir com desinteresse ou até hostilidade.
  • Fase de adaptação. A criança se adapta à nova situação e pode formar novos vínculos com os novos cuidadores.

Efeitos a longo prazo: depressão anaclítica, hospitalismo e marasmo

Nos casos em que a criança é incapaz de se adaptar à perda, podem ocorrer sérias consequências, como retardo intelectual, problemas de socialização e até a morte. Além disso, Spitz afirma que a separação precoce da mãe pode causar diferentes doenças psicológicas.

Seus estudos foram baseados na observação direta de crianças que vivem em orfanatos e crianças hospitalizadas por longos períodos de tempo. Ela também fez uma comparação entre o desenvolvimento de filhos criados em instituições e filhos criados em prisões femininas com suas mães.

A depressão anaclítica é um tipo de depressão causada por privação emocional parcial, ou seja, que dura entre 3 e 5 meses. Os sintomas podem desaparecer alguns meses após a criança retomar o relacionamento emocional com a mãe, com a figura de apego, ou quando é adotada e forma novos laços.

Também é conhecida como síndrome de hospitalismo, pois foi observada em crianças abandonadas às portas de alguma instituição que pudesse cuidar delas (hospital, orfanato, convento, etc.).

O termo hospitalismo é usado para descrever alterações físicas e psicológicas profundas em crianças abandonadas ou que foram hospitalizadas por um longo período de tempo.

Nesse entorno e sob essas condições, os sintomas depressivos costumam ser crônicos, e surgem problemas cognitivos e sociais. Entre as alterações mais importantes descritas por Spitz neste quadro estão:

  • Retardo do desenvolvimento do corpo.
  • Retardo da aquisição de habilidades manuais.
  • Menor uso da linguagem.
  • Baixa resistência a doenças.

No caso de a privação afetiva ser total, o quadro pode evoluir até provocar marasmo, podendo causar a morte da criança. Crianças que sofrem de marasmo apresentam magreza extrema e déficits nutricionais e emocionais.

Por que o marasmo está relacionado com a falta de afeto na primeira infância?

O marasmo, de acordo com sua definição médica, é um tipo de desnutrição extrema que ocorre antes dos 18 meses de idade porque a mãe para de alimentar o bebê. O déficit nutricional é tão grave que pode levar à morte se não for tratado a tempo e as complicações associadas não forem resolvidas.

Observou-se que ele não é causado apenas por um déficit nutricional, mas também pel a total ausência de afeto em bebês. Muitas vezes, as crianças institucionalizadas não têm a oportunidade de se relacionar.

Bebê dormindo

O choro, a agitação, a desesperança e os atrasos no desenvolvimento dão lugar à interrupção do choro, ao olhar fixo e inexpressivo, à falta de reatividade ao ambiente, a longos períodos de sono e à perda total de apetite. É como se as crianças desaparecessem gradualmente.

Graças aos estudos de Spitz, foi feita uma reformulação das condições de hospitalização e institucionalização das crianças. Seus trabalhos mostram que as instituições não precisam apenas atender às necessidades alimentares, mas também outras necessidades igualmente importantes que, se negligenciadas, tornam-se um obstáculo para o desenvolvimento.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.