É amor ou uma muleta emocional?

Quando usamos uma muleta emocional, caímos na dependência do outro. Em busca de um amor que nos ajude ao longo do caminho, deixamos de nos amar.
É amor ou uma muleta emocional?
Alicia Escaño Hidalgo

Escrito e verificado por a psicóloga Alicia Escaño Hidalgo.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O amor e os relacionamentos de casal são temas que nos convidam à reflexão. Muito tem sido teorizado sobre esse sentimento que pode ser tão cativante, construtivo e até destrutivo. Dependendo de como é construído ou de como é utilizado, o amor pode nos motivar a crescer ou nos impedir de crescer. Além disso, em uma sociedade em que o ideal do romantismo prevalece, às vezes é difícil construir um relacionamento amoroso saudável e fluido. Nesses momentos, nos perguntamos: será que é amor ou uma muleta emocional?.

Em mais situações do que gostaríamos, os psicólogos encontram pessoas cujo calcanhar de Aquiles é o amor. São perfeitamente funcionais em seus empregos, em suas relações familiares ou sociais e em outras áreas vitais, mas se quebram em pedacinhos quando começam um relacionamento. Por que isso acontece?

As experiências vividas na infância e, por vezes, na adolescência ou início da idade adulta, deixam uma marca profunda. O relacionamento com os nossos pais, os estilos de criação com os quais crescemos, a autoestima mal desenvolvida, etc., podem estabelecer a base que nos predispõe a relacionamentos tóxicos.

Quando uma pessoa não adquire segurança e autoconfiança na infância, é difícil para ela demonstrar essas habilidades na vida adulta. Há um vazio que ela precisa preencher de alguma forma.

Não se trata de “culpar” ninguém; as pessoas, simplesmente, não são perfeitas. Como pais, às vezes cometemos erros, na sua maioria relacionados a um sistema que nos “força” a passar um tempo fora de casa, a negligenciar questões tão relevantes quanto a família, a estar sempre estressados

Quase sem percebermos, as crianças se sentem solitárias. Acreditam que os pais, sua referência de vida, não costumam estar disponíveis, e é aí que surge a ideia do “abandono”.

Crise existencial

Vazio interior

Quando quebramos uma perna e fazemos uma cirurgia, geralmente recebemos uma “prescrição” de uma cadeira de rodas ou de uma muleta. Estas “próteses” nos ajudam a combater a nossa deficiência e, graças a elas, podemos continuar a andar e a viver vida. Ou seja, quando precisamos fisicamente de uma prótese, ela se torna funcional até que possamos viver normalmente sem ela.

Em um nível psicológico e em referência ao amor, acontece a mesma coisa. A ausência dos nossos pais, os abusos, os traumas de infância, etc. nos levam a desenvolver uma carência ou um vazio afetivo. Esse “buraco” que permanece em nossa alma, e que persiste até a idade adulta, é tão doloroso e incapacitante que precisamos sair e encontrar uma muleta para nos ajudar. Mas, surpresa! Ela não é tão eficaz quanto quando quebramos uma perna.

Quando preenchemos o nosso vazio interior com um parceiro, costumamos repetir o que já experimentamos na infância. Escolhemos parceiros que, de certa forma, se parecem com o que já conhecemos. O cérebro se sente confortável com o que é familiar, mesmo que seja doloroso.

O resultado é que essa relação não dá certo, se torna tóxica. Por um lado, a carência que sentimos gera sentimentos de ciúme, posse ou dependência, pois tentamos evitar que esse “abandono” volte a acontecer.

Por outro lado, é possível que o nosso parceiro acabe nos abandonando ou nos tratando mal de alguma forma, como já aconteceu conosco no passado. Não é magia, não é por acaso. Quando alguém desenvolve um esquema mental, é normal encontrar outro esquema que o “complemente”. É por isso que dizemos a nós mesmos: “Sempre acontece a mesma coisa comigo”, “Não tenho sorte no amor”.

Sem estarmos conscientes, estamos reencenando as situações que vivemos há muito tempo. O que nos move é um medo imenso de ficarmos sozinhos, de sermos abandonados. A cada relacionamento que iniciamos e no qual fracassamos, o vazio fica maior. A ideia de abandono e fracasso no amor é alimentada continuamente. No que estamos falhando?

E se eu caminhar sem a muleta emocional?

Para responder a esta última pergunta, temos que perceber que sair em busca de uma muleta emocional não é a estratégia correta. Pode ser funcional a curto prazo, mas será um fardo pesado se a projetarmos para o futuro.

De uma forma fantasiosa, pode nos dar a sensação de que é um estímulo positivo para a nossa autoestima, que enfim estamos bem, que agora “tudo vai dar certo”. No entanto, não é assim que acontece. Antes que um relacionamento dê certo e que o amor se torne um caminho sem tantos obstáculos, é necessário que o amor que acreditamos precisar nasça de nós para nós mesmos.

A chave terapêutica para nos libertarmos dessa muleta emocional está em perceber que, embora seja verdade que precisássemos do cuidado e do carinho dos nossos pais, agora, como adultos, somos capazes de alcançar a autonomia.

É amor ou uma muleta emocional?

Crescemos quando aprendemos a nos abraçar e a nos sentir bem conosco, com o nosso próprio diálogo interior. É por isso que, nessas condições, fazer as pazes com a solidão pode ser um grande começo. Obrigue-se a ficar um tempo sozinho, faça planos sozinho, tolere o tédio ou as emoções que percorrem o seu corpo.

Sem dependências, sem deficiências, sem necessidade… Relacione-se com alguém porque soma, porque contribui, porque é lindo, fácil, saudável, divertido; não porque é necessário. Nesse ponto, você não dependerá mais de nenhuma muleta para andar; caminhará sozinho e esse vazio será preenchido pela sua autoestima.

Você tem coragem de se amar incondicionalmente e abandonar essa muleta emocional?


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  • Riso, W. ¿Amar o depender? Cómo superar el apego afectivo y hacer del amor una experiencia plena y saludable. Editorial Planeta/Zenith

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