Animais Corporativos: o absurdo do mundo corporativo

Animais Corporativos é um filme tão esquecível quanto necessário. Não nos traz nada de novo, mas é uma comédia que faz uma paródia do mundo dos negócios, um mundo em que a submissão prevalece sobre a criatividade. Sem ser absolutamente engenhoso, conseguirá nos arrancar uma ou mais risadas.
Animais Corporativos: o absurdo do mundo corporativo
Leah Padalino

Escrito e verificado por Crítica de Cinema Leah Padalino.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Unir terror e comédia não é nenhuma novidade e, durante os últimos anos, assistimos a um momento em que o humor negro parece ocupar um espaço relevante no cinema. Animais Corporativos (Patrick Brice, 2019) nos traz uma paródia das grandes empresas, com a sua hierarquia interna e situações que, embora absurdas, parecem horripilantes e, ao mesmo tempo, cotidianas.

O que aconteceria se, de repente, os funcionários de uma mesma empresa ficassem presos durante vários dias? Essa parece ser a premissa do filme em que Demi Moore se destaca no papel de Lucy. Um papel no qual ela está perfeita: o de uma chefe tirânica que tenta parecer amável, que pouco se importa com as mudanças climáticas, a menos que a imagem de sua empresa dependa disso. Em suma, uma verdadeira loba em pele de cordeiro que vai enlouquecer os seus funcionários.

A trama é simples: os funcionários de uma empresa que se dedica à comercialização de talheres comestíveis fazem uma viagem organizada pela própria empresa. Depois de realizarem várias atividades, eles vão para uma caverna que, após um terremoto, fica obstruída, impedindo assim que os trabalhadores e a própria Lucy consigam sair. Em um espaço sufocante e claustrofóbico, todos os rancores do trabalho virão à tona enquanto eles lutam para sobreviver.

O absurdo logo tomará conta da cena. O canibalismo combaterá a fome enquanto nós, como espectadores, assistimos a um espetáculo que vai do horrível ao risível em questão de segundos. Apesar das críticas negativas recebidas em alguns meios de comunicação, a verdade é que Animais Corporativos é um daqueles filmes que nos convidam a rir do nosso presente e a aliviar algumas das tensões que sofremos diariamente no trabalho.

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Animais Corporativos: uma situação extrema

Se tivermos a expectativa de ver uma grande comédia, cheia de humor inteligente e que nos convide a refletir, então é melhor não assistirmos Animais Corporativos. No entanto, se quisermos nos divertir, entreter e simplesmente nos deixar levar por risadas um pouco absurdas, Animais Corporativos é exatamente o que precisamos.

Digo que precisamos porque, às vezes, as obrigações diárias, o trabalho e o estresse são um obstáculo para nos desconectarmos e, neste caso, não há melhor remédio do que dar risada, esquecendo um pouco da nossa rotina. É verdade que o filme nos lembra, em parte, todas essas atividades da vida contemporânea, atividades que às vezes se tornam absurdas e que, por causa do medo de perder o emprego, acabamos aceitando com um sorriso amarelo.

Atualmente, vivemos em uma época na qual algumas grandes empresas mais parecem o pátio de uma escola do que um local sério de trabalho; em que a criatividade não é recompensada tanto quanto a obediência. E é justamente isso que Animais Corporativos nos traz: uma crítica a esses modelos atuais, à tirania e ao poder que o nosso ambiente de trabalho pode exercer sobre nós para, finalmente, zombar da competição entre iguais e apontar para um único culpado que, neste caso, seria Lucy.

Desde os primeiros minutos do filme, observamos como alguns dos funcionários concordam em realizar atividades que jamais escolheriam fazer voluntariamente. Por que eles concordam? Simplesmente, por medo de perder o emprego, por medo de represálias ou até mesmo por medo de não ser crescer profissionalmente.

Às vezes, ficamos diante de situações desagradáveis ou com as quais não estamos de acordo. Porém, um medo toma conta de nós, impedindo-nos de dizer o que pensamos. Assim, Animais Corporativos desenha um cenário bastante absurdo, mas terrivelmente cotidiano.

Em um pequeno espaço onde lutam para sobreviver, esses indivíduos vão trazer à tona o seu lado mais selvagem com o único propósito de não morrer após o desmoronamento. Por sua vez, o lado mais sombrio da empresa será visto através das mãos de uma chefe impiedosa, que manipula os seus funcionários como bem entender. Mas, se há algo que eles aprendem com esta grande aventura, é que o trabalho em equipe pode aumentar significativamente o que pode ser alcançado individualmente e, assim, de forma irônica, sombria e risível, os funcionários buscarão uma maneira de acabar com o seu calvário.

Diante de situações extremas, os humanos se deixam levar – ou nos sentimos tentados a nos deixar levar – pelos nossos instintos e pela sobrevivência. Nessa situação, perder o emprego não é mais tão relevante quanto a possibilidade de perder a própria vida. Dessa forma, recorre-se a infinitas situações absurdas que colocarão a chefe intocável em um lugar não tão privilegiado.

A caverna, na verdade, nada mais é do que uma metáfora para as amarras do cotidiano, um cenário que servirá para colocar sobre a mesa toda a roupa suja da empresa.

Uma sátira contemporânea

Sem dúvida, Animais Corporativos passou despercebido para o grande público. Afinal, não deixa de ser apenas mais uma comédia, que não inventou nada de novo e que está intimamente ligada aos cânones americanos que, a partir de outros pontos de vista, resultam mais absurdos do que inteligentes. Assim, o filme não está livre de cair na piada fácil, arquetípica e de se esquecer, de vez em quando, do verossímil.

Apesar disso, não deixa de ser interessante analisar uma comédia que questiona certos comportamentos das grandes empresas, os titãs do mundo dos negócios. Afinal, na verdade, a sua intenção não é séria nem profunda, mas sim a de nos fazer fazer dar risada e de nos convidar a imaginar a vingança mais absurda contra aqueles que nos oprimem.

Trabalhadores em uma caverna

De alguma forma, o filme coloca diante de nossos olhos o devaneio mais macabro de tudo o que diríamos ao chefe mais tirânico se não precisássemos medir as consequências. Além disso, também critica as sociedades corporativas nas quais a imagem da marca acaba anulando o indivíduo, transformando-o em um número e explorando-o tanto quanto possível em troca de um salário baixíssimo.

Um produto de pura evasão, é disso que se trata Animais Corporativos, uma comédia que não nos trará nada de inovador, nada além do que uma boa gargalhada, embora possamos chegar a sentir empatia. Demi Moore está confortável em uma personagem que o público logo identificará como “aquela chefe que” e que não hesita em colocar os seus funcionários em situações que ameaçam a sua própria integridade física.

Em suma, estamos diante de uma comédia absurda e maluca, muito norte-americana e, provavelmente, facilmente esquecível, mas nem por isso irrelevante. Uma sátira da imagem corporativa, do absurdo que impera no mundo das grandes empresas.

Sua mensagem, por mais estúpido que o filme possa parecer, é mais poderosa do que parece e, sem dúvida, mais de um de nós vai se identificar com um dos seus personagens. Por fim, essa piada absurda e macabra acaba nos conquistando, embora o mais provável é que não seja nada além disso: uma piada absurda e macabra, sem muita relevância para a história.


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