Anosognosia: a incapacidade de perceber a deficiência

Anosognosia: a incapacidade de perceber a deficiência

Última atualização: 02 outubro, 2016

A história da anosognosia

O termo anosognosia foi criado em 1914 pelo neurologista Joseph Babinski, quando apresentou na Sociedade de Neurologia de Paris o caso de dois pacientes com hemiplegia esquerda com uma total falta de consciência dessa falha motora.

Em 1985 Von Monakov descreveu o caso de um paciente com cegueira cortical após uma lesão nas áreas visuais primárias. O curioso é que esse paciente não tinha consciência do seu problema.

Definição de anosognosia

Prigatano, por sua vez, definiu a anosognosia como um fenômeno clínico em que o paciente com uma disfunção cerebral parece desconhecer a deterioração da função neurológica ou neuropsicológica, que é evidente para os médicos e para as outras pessoas.

Esta falta de conhecimento não pode ser explicada pelo mecanismo de luta e fuga, por uma disfunção cognitiva generalizada ou por um mecanismo de negação do paciente. A causa da lesão é indiferente para a manifestação da anosognosia durante o transtorno. Ela afeta anatomicamente as regiões do cérebro envolvidas na consciência, resultando em uma diminuição da capacidade de reconhecer a gravidade das deficiências.

A consciência que temos de nós mesmos fica relegada a um segundo plano e não consegue integrar as informações como parte de nós; é como se essa deficiência não existisse.

Critérios diagnósticos e comorbidade

Homem com anosognosia

Embora não existam critérios específicos para determinar como e em que grau as funções mentais estão alteradas, o Consórcio de Neuropsicologia Clínica de 2010 publicou os seguintes critérios para ajudar a sua identificação e classificação.

1- Alteração da consciência de ter uma deficiência física, neurocognitiva e ou psicológica, ou que sofram de alguma doença.

2- Alteração na forma de negação da deficiência, evidentes em declarações como “não sei porque estou aqui”, “não sei o que acontece comigo”, “nunca me dei bem com exercícios, é normal que não os faça de forma correta”, “são os outros que dizem que estou doente”.

3- A prova das deficiências por meio de instrumentos de avaliação.

4- O reconhecimento das alterações por parentes e conhecidos.

5- A influência negativa sobre as atividades diárias.

6- A alteração não ocorre no contexto de estados de confusão ou estados alterados de consciência.

Esta alteração pode se desenvolver ao mesmo tempo que uma doença ou transtorno principal.

  • Neurológicos: distúrbios neurovasculares, demência de Alzheimer, comprometimento cognitivo leve, tumores, demência frontotemporal, lesão cerebral traumática, cegueira cortical, epilepsia e atrofia cortical posterior.
  • Psiquiátricos: esquizofrenia e transtornos de personalidade. De um ponto de vista sintomático, a anosognosia pode ocorrer em casos de heminegligência, prosopagnosia, amnésia, síndrome de Korsakoff, síndrome de Anton, hemiplegia, apraxia construtiva, afasia Wernicke…

Tratamentos e consequências

No momento, não há nenhuma evidência de qualquer tratamento eficaz para o problema. Por se tratar de uma doença com uma grande variedade de diferenças quanto a sua consideração, não existe um consenso sobre a sua definição.

Alguns autores a definem como uma doença, outros como uma síndrome ou um sintoma. A anosognosia pode aparecer em muitas doenças neurológicas e é específica em cada deficiência. É importante ter um diagnóstico precoce devido às implicações na vida diária das pessoas.

As pessoas que sofrem de anosognosia podem apresentar:

– Dificuldade para aderir ao tratamento.

– Um mau prognóstico com relação à evolução e reabilitação do transtorno.

– Risco de sofrer quedas ou lesões devido à falta de consciência da sua deficiência.

– Alterações de humor devido à confrontação de informações: raiva, irritação, depressão…

– Falta de continuidade dos tratamentos médicos ou medicamentosos.

Falta de compreensão social do seu estado de saúde e da sua doença.

– Falta de apoio social e comunitário…

 


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.