A ansiedade diante do câncer feminino
As mulheres sofrem mais diante de um diagnóstico de câncer? Essa é a pergunta que tentaremos responder a partir de estudos sobre as mudanças de humor e ansiedade no câncer feminino.
Isso nos ajudará a determinar se a abordagem do câncer na perspectiva de gênero pode ser benéfica para aqueles que precisam enfrentá-lo.
O câncer, em qualquer uma de suas diferentes modalidades, é uma situação estressante que pode afetar todos os aspectos da vida daqueles que sofrem com ele. Existem muitos fatores que podem influenciar a experiência do câncer: apoio familiar e social, idade, recursos disponíveis, etc.
A literatura científica, além disso, descobriu que o gênero também pode influenciar o sofrimento da pessoa que tem essa doença.
O câncer feminino e o masculino não são iguais
A sensibilidade ao câncer é diferente entre homens e mulheres, e a sua natureza pode ser relevante para entender por que uma perspectiva de gênero é necessária.
Borràs (2015) mostrou que os tumores ginecológicos, nos quais o câncer de mama está incluído, representam 40% de todos os tumores em mulheres. Nos homens, 22% dos tumores são atribuídos ao câncer de próstata, seguidos pelo câncer de pulmão e colorretal.
Da mesma forma, também encontramos diferenças na taxa de sobrevivência nos cânceres sofridos por homens e naqueles sofridos por mulheres. De fato, no câncer feminino mais típico – câncer de mama – há uma taxa de sobrevivência de 83,8% cinco anos depois (na Espanha).
No entanto, embora a sobrevida no câncer de próstata seja de 84,7%, no câncer de pulmão essas probabilidades caem para 10%. O câncer de pulmão é responsável por 50% de todos os tumores masculinos. Portanto, parece que as mulheres com câncer morrem menos que os homens com a mesma enfermidade, embora as condições não sejam as mesmas.
O câncer de mama e as suas exigências
O fato de que o câncer de mama é uma das principais causas de morte nas mulheres é postulado como algo relevante para o seu tratamento. As condições variam e, portanto, as exigências de cada um também são diferentes.
O caso específico do câncer de mama, o mais sofrido pelas mulheres, implica também uma série de características muito diferentes em que o gênero, entendendo o gênero como uma categoria social e cultural, parece ter algo importante a dizer.
Segundo Caniçali, Gonçalvez, Pire, Costa e Costa (2012), o câncer de mama envolve mudanças no estilo de vida causadas pelo desconforto físico e pela alteração do conceito da sua autoimagem.
Esses autores observaram que a mulher que sofre de câncer de mama também tem baixa autoestima e uma diminuição significativa da sua libido.
Outros estudos apresentados por esses autores sugerem que há uma prevalência de sintomas clinicamente significativos de ansiedade e depressão em pacientes com câncer de mama. Apresentam sintomas como tensão, medo inespecífico e preocupações difusas.
A preocupação das mulheres na fase pré-operatória
Olivares (2004) estuda os aspectos psicológicos do câncer ginecológico. Um deles, a ansiedade, provou ser um preditor da recuperação das mulheres após uma cirurgia.
A ansiedade no câncer feminino torna-se relevante pois, segundo essa pesquisadora, pacientes com níveis mais elevados de ansiedade pré-operatória apresentaram mais dor e desconforto no pós-operatório, necessitaram de mais medicação e maior tempo de internação.
Salmon (1992), assim como Olivares (2004), encontra uma relação positiva entre a ansiedade pré-cirúrgica e a ansiedade pós-cirúrgica. Também encontra uma associação linear positiva com a depressão pós-operatória.
O que preocupa as mulheres com câncer?
Para entender a ansiedade no câncer feminino, é preciso estudar quais são as preocupações específicas de uma mulher com câncer.
Embora pareça evidente, e a própria doença seja fonte de estresse e medo, a verdade é que estudos como o de Mota, Aldana, Bohórquez, Martínez e Peralta (2018) expõem os fatores que geram ansiedade em mulheres com câncer. Entre eles, podemos destacar:
- Percepção de proximidade da morte
- Crenças negativas sobre o câncer
- Antecipação do próprio sofrimento
- Antecipação do sofrimento de familiares e amigos
- Sensação de perda do controle
- Crises em suas crenças e necessidade de transcender
- Falta ou excesso de cuidados e/ou estimulação
- Condições de saúde: perda de vitalidade, náuseas, anorexia e vômito
Dependendo do momento da doença e do tipo de câncer, a ansiedade é diferente entre as mulheres. Por exemplo, aquelas que foram submetidos a uma mastectomia relatam frustração, tristeza e transtornos de ansiedade e depressão.
A ansiedade do câncer de mama, segundo esses autores, muitas vezes restringe a vida social, familiar e pessoal das mulheres.
Imagem corporal e sexualidade após o câncer feminino
Além da ansiedade no câncer feminino, motivada pela própria doença, no caso de cânceres ginecológicos, as alterações fisiológicas desempenham um papel essencial no seu bem-estar subsequente.
Segundo García-Viniegras e González (2007), a autoconfiança, estabilidade emocional, força, afetividade positiva e autoestima, determinam o bem-estar de uma pessoa durante o seu ciclo de vida. Após o câncer, muitas mulheres não apresentam nenhum desses fatores.
Sebastián, Manos, Bueno e Mateos (2007) asseguram que, embora o câncer geralmente inclua cirurgias e deixe, em muitos casos, sequelas físicas, as mudanças físicas no câncer de mama carregam importantes conotações psicossociais para as mulheres.
Isso ocorre devido à importância dada aos seios para entender a identidade feminina de uma mulher. Muitas mulheres sentem, por exemplo, que perder um seio também significa perder a feminilidade.
Além disso, os seios também parecem desempenhar um papel crucial na capacidade de atrair e manter relações sexuais. Estas últimas são quase sempre afetadas após a cirurgia ou tratamento.
Os problemas com a sexualidade aparecem apenas no câncer de mama?
A tristeza, os problemas de imagem e sexualidade e a ansiedade no câncer feminino podem aparecer em todas as condições ginecológicas, não apenas no câncer de mama.
Olivares (2005) fala sobre sintomas depressivos, ansiedade e problemas sexuais crônicos cinco anos após o tratamento em mulheres com câncer de colo do útero, 55% de mulheres com dificuldades sexuais e 33% de mulheres que não fazem mais sexo após o câncer de endométrio.
A ansiedade é um indicador de complicações?
Cada tratamento médico implica circunstâncias diferentes para o paciente. Observamos que o medo, a tristeza, a ansiedade e a falta de autoestima são elementos comuns em cânceres ginecológicos.
Não apenas isso, mas essas mudanças no nível psicológico da pessoa podem influenciar o desenvolvimento da doença. Por esse motivo, parece relevante atender às necessidades psicológicas e emocionais das mulheres com câncer de maneira diferenciada.
O tratamento não deve incluir apenas quimioterapia, mas também medidas para ajudar a controlar ou combater a ansiedade sentida diante das intervenções. Programas de psicoeducação para derrubar mitos prejudiciais, como aquele que acredita que a sexualidade e a feminilidade de uma mulher estão nos seios ou na vagina, e incluir a confiança e a autoestima como um dos objetivos do próprio tratamento.
O objetivo final deve ser o bem-estar, não apenas físico, mas global da mulher.
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- Borràs, J. (2015). La perspectiva del género en el cáncer: una visión relevante y necesaria. Arbor, 191(773): a231.
- Caniçali, C., Nunes, L., Pires, P., Costa, F., y Costa, M. (2012). Ansiedad en mujeres con cáncer de mama. Enfermería Global, 28, 52-62.
- García-Viniegras, C. y González, M. (2007). Bienestar psicológico y cáncer de mama. Avances en Psicología Latinoamericana, 25, 72-80.
- González, C., Calva, E., Bohorquez, L., Medina, S. y López, J. (2018). Ansiedad y calidad de vida en mujeres con cáncer de mama: una revisión teórica. Psicología y Salud, 28(2), 155-165.
- Olivares, M. (2004). Aspectos psicológicos en el cáncer ginecológico. Avances en Psicología Latinoamericana, 22, 29-48.
- Sebastián, J., Manos, D., Bueno, M. y Mateos, N. (2007). Imagen corporal y autoestima en mujeres con cáncer de mama participantes en un programa de intervención psicosocial. Clínica y Salud, 18(2), 137-161.