Como o apego adulto afeta a educação das crianças?
Ser pais não é uma tarefa fácil. Devemos estar atentos a múltiplos fatores que influenciam a educação das crianças, mas o que acontece com os fatores que não podemos controlar? Esses que são parte de nós e influenciam o vínculo paterno-filial? Qual é o impacto do apego adulto em relação à parentalidade e ao clima familiar?
Nascemos e precisamos uns dos outros. Como insetos atraídos pela luz, precisamos de laços afetivos, estáveis e intensos. É por isso que somos considerados seres biopsicossociais, sendo a interação social um fator essencial para o desenvolvimento cognitivo e emocional.
“O comportamento das crianças é um reflexo do comportamento dos adultos. Examine o que o impede de amar a si mesmo e se disponha a se libertar disso. Você será um maravilhoso exemplo para os seus filhos”.
– Louise Hay –
Graças a pesquisadores como John Bowbly, Peter Fonagy e Mary Ainsworth, hoje estamos conscientes da importância do apego em nosso desenvolvimento. Por exemplo, sabemos que o padrão de apego adotado na infância representa uma marca, um modelo interno ou um mapa relacional. Isto nos guiará como uma estrela durante toda a viagem emocional da nossa vida, condicionando, em muitos casos, o tipo de relacionamentos que buscaremos, teremos e manteremos.
Mas não é só isso; graças à persistência dessas investigações e intenso estudo sobre a construção teórica mais consistente do campo afetivo, podemos dizer que os mapas relacionais que nos configuram são moldados a partir de experiências de vida ou novas figuras de apego ao longo do tempo. A partir dessa definição, começamos a falar sobre o apego adulto.
“Os adultos adotam estilos de apego característicos no contexto das situações afetivas”.
– Cindy Hazan e Phillp Shaver –
Quais são os modelos de apego adulto?
De acordo com Bartholomew, psicóloga canadense, os modelos de apego adulto se polarizam entre negativo e positivo. Dessa forma, os modelos negativos de apego são definidos como aqueles que mantêm a crença de que o outro os rejeita, se mostra distante ou não se preocupa.
Pelo contrário, os modelos positivos são definidos como aqueles que consideram que o outro se mostra disponível e se preocupa. A partir dessa classificação, surgem as diferentes formas de apego adulto:
- O apego seguro: a pessoa desenvolve uma ideia positiva de si mesmo e dos outros. Está relacionado com baixos níveis de ansiedade e de evitação, facilitando assim o contato e a intimidade com outros indivíduos.
- Apego evitativo: a pessoa desenvolve uma ideia positiva de si mesma, mas negativa das outras pessoas. É caracterizada por baixos níveis de ansiedade, mas de alta evitação.
- O apego preocupado: a pessoa desenvolve uma ideia negativa de si mesmo (autoconceito) e positiva dos outros, manifestando altos níveis de ansiedade e baixa evitação.
- O apego inseguro: a pessoa desenvolve uma ideia negativa de si mesma e dos outros, um fato que implica altos níveis de ansiedade, assim como altos níveis de evitação.
A influência do apego seguro adulto na educação da criança e no clima familiar
Como dissemos, o apego afeta diretamente a nossa maneira de nos relacionarmos. Por isso não é estranho que o apego adulto não influencie apenas o nosso relacionamento de casal, mas também a relação estabelecida com as crianças e com o clima familiar.
Alguns estudos afirmam que as mães com um padrão de apego seguro respondem de forma adequada à expressão e à vivência de experiências positivas e negativas. Dessa forma, ajudam o seu filho durante essa experiência emocional e na sua verbalização. Isto, sem dúvida, supõe um ponto favorável para o desenvolvimento emocional do futuro adulto, facilitando a identificação futura e a gestão emocional, bem como o autocontrole.
Portanto, como se fosse uma regra de três, uma figura materna sensível e geradora de um vínculo de apego seguro também geraria a base para um bom desenvolvimento emocional. Como essa inteligência emocional nos ajuda? Ter um ponto de apoio é muito importante: nos permite manter os níveis de estresse à distância, facilita a interpretação das emoções, assim como a aceitação de emoções negativas e o reforço de emoções positivas.
Como resultado, o apego seguro, tanto paterno quanto materno, permite uma atmosfera familiar flexível e coesa. Assim, ajudam a família a se adaptar às nossas estruturas, resolvendo conflitos e gerando intimidade.
“A sensibilidade levanta uma barreira que a inteligência não pode salvar”.
– Azorín –
A influência do apego evitativo na educação e clima familiar
Por outro lado, o apego evitativo ou inseguro é, em muitos casos, um fardo real para o adulto que começou se relacionar com as pessoas ao seu redor. As pessoas com apego evitativo ou inseguro mantêm um desejo de intimidade latente. No entanto, a péssima imagem de si mesmos e dos demais gera desconfiança, medo e rigidez suficientes para não deixar essa ligação crescer.
As pessoas com esse padrão de apego, sem qualquer má intenção, sentem ambivalência em relação à sua maneira de se relacionar com seus filhos. Sentem da mesma forma o desejo de se aproximar e o desconforto de um modo alternado. Isso poderá levar a níveis de mal-estar em relação à ideia de não ser capaz de se sentir livre a nível afetivo, aumentando a ansiedade em relação a própria mensagem dupla.
Assim, o clima familiar com os pais com este modelo de apego é um clima com pouca coesão, com baixos níveis de expressão emocional, pouca organização, maior controle e com possibilidade de conflitos frequentes. Este é o resultado do apego adulto evitativo, sendo uma pedra no caminho para o desenvolvimento da inteligência emocional. Dessa forma, facilita fatores como a superproteção ou pouco cuidado com as crianças.
Para concluir, a descoberta do termo ‘apego’ nos permite viver mais informados sobre a importância do que transmitimos para as gerações mais jovens. A herança do apego dos nossos pais é um fator claramente influente na educação dos pequenos e, em muitos casos, também no seu futuro. Então lembre-se: o apego seguro é um dos melhores presentes que podemos dar às novas gerações.