A importância de aprender a ouvir "não"

Aprender a ouvir "não" é tão importante quanto aprender a dizê-lo. A vida é cheia de situações em que devemos renunciar aos nossos desejos ou reivindicações devido à impossibilidade de torná-los realidade. Aceitar esse fato nos permite crescer.
A importância de aprender a ouvir "não"
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 30 maio, 2020

Muito tem se falado sobre a importância de aprender a dizer “não”, mas pouco se menciona a importância de aprender a ouvir “não”. Saber ouvir é tão necessário quanto saber falar; na vida há sonhos e desejos que nos são negados, inevitavelmente. Assim, se achamos difícil ouvir um”não” ou enfrentá-lo em qualquer situação, a vida se torna muito difícil para nós.

O estágio da vida em que achamos mais difícil ouvir “não” é durante a infância. Isso é normal, porque quando crianças somos extremamente egocêntricos, já que a capacidade de ver as situações coletivamente é algo que se desenvolve ao longo do tempo, desde que a criação nos ajude a fazer isso.

Ouvir um “não” é um encontro com os limites e isso, a princípio, tem algo de desagradável. É óbvio que por trás disso existe um desejo, e ele se choca com a fonte que poderia concedê-lo. Portanto, em maior ou menor grau, há uma frustração. Esta não é ruim em si mesma, mas é uma parte natural da vida e deve ser recebida assim: com naturalidade.

“Os limites nos definem. Definem o que somos e o que não somos. Um limite me mostra onde termina e onde começa a outra pessoa”.
-Henry Cloud-

Mãe repreendendo a filha

Ouvir “não”

Todos sabemos que existem vários tipos de “não”. Alguns são temporários, enquanto outros são permanentes. Da mesma forma, alguns deles envolvem desistir de algo que não é tão relevante, enquanto outros envolvem desistir de algo que valorizamos, amamos ou precisamos muito. Nenhum ser humano escapa dessas experiências.

Às vezes, o “não” é direto, como quando se solicita algo e esse algo é negado. Outras vezes, não é a palavra em si, mas os fatos que te dizem não, que desta vez você terá que adiar ou desistir de um desejo. Da mesma forma, existem aqueles “nãos” implícitos, que são comunicados através de gestos de rejeição ou apreensão.

É claro que é mais fácil ouvir um “não” quando sabemos que se trata de uma negação temporária ou sem importância. Ainda assim, pode ser difícil para algumas pessoas aceitar e assimilar até mesmo as negações aparentemente inconsequentes. Para a maioria de nós, a dificuldade aparece com o “não” definitivo ou relevante, mas por que é importante aprender a ouvi-los ou aceitá-los?

Aprenda a ouvir o “não” dos demais

A fonte do “não” muitas vezes é outra pessoa. Aquela que diz “Você não foi aceito” para o trabalho, o projeto, a universidade, a promoção ou o que quer que seja. Ou a voz que diz “Não me toque”, “Não quero continuar esse relacionamento” ou “Você não foi convidado para a festa”.

Esse tipo de negação nos leva a uma realidade que, às vezes, temos dificuldade de aceitar: os outros não precisam assumir nossas necessidades, expectativas ou desejos. Não estão lá para tornar a vida mais fácil ou mais gentil. Eles têm todo o direito de impor limites nas situações que também os envolvem.

A dificuldade em aceitar esses “nãos” geralmente implica que deixamos de reconhecer os limites impostos pelos outros. Interagir com o mundo é interagir com a diferença, e querer algo dos outros não é suficiente para obtê-lo. Nós evoluímos muito quando aprendemos a ouvir os “nãos” implícitos ou explícitos dos demais e a aceitá-los.

Mulher triste por ouvir um 'não'

Os “nãos” da vida

Os “nãos” da vida são muito mais fortes e inapeláveis. Desde o momento em que nascemos, recebemos uma infinidade de bens, mas muitos outros também nos são negados. A limitação vem ao mundo junto conosco, e as mães ou pais que escolhem nos educar para tentar evitar que enfrentemos essas realidades acabam não nos ajudando.

Não nos tornamos fortes quando nos faltam limitações, mas quando aprendemos a reconhecê-las e lidar com elas. Há muitas coisas pelas quais teremos que esperar, ou lutar, ou que simplesmente não iremos obter. Desesperar-nos ou nos renegarmos a isso são maneiras erradas de evitar as consequências.

Somos muito mais fortes e felizes quando aprendemos a ouvir os “nãos” da vida. Resistir apenas aumenta nossa frustração e acaba distorcendo ou iludindo nossos desejos mais autênticos. Em outras palavras, deixamos de viver a vida possível e, em vez disso, ansiamos eternamente pelo impossível.


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  • Bisquerra, R. (2012). De la inteligencia emocional a la educación emocional. Cómo educar las emociones, 24-35.


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