Aprender a ser antifrágil: a arte de se mover entre a incerteza

A pessoa antifrágil avança com segurança em meio às dificuldades. Não teme a incerteza, pois já aprendeu com a adversidade e sabe como prosperar em meio ao caos. Sabe lidar com o estresse e consegue ver oportunidades onde os outros só enxergam problemas.
Aprender a ser antifrágil: a arte de se mover entre a incerteza
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Caos, incerteza, instabilidade, imprevistos, hiperconectividade, solidão, ansiedade, etc. Nossa sociedade poderia ser definida por estes e muitos outros adjetivos que ocupam os holofotes em tempos de crise. Em meio a este cenário, há uma estratégia de sobrevivência: aprender a ser antifrágil, um interessante recurso introduzido pelo ensaísta Nassim Nicholas Taleb em 2012.

Sobreviver e prosperar em um cenário tão mutável e desafiador é, no mínimo, difícil. No entanto, não existem apenas pessoas que meramente sobrevivem a isso; algumas delas conseguem até mesmo tirar proveito de tempos turbulentos como estes.

Além disso, na definição deste termo, é comum usar a metáfora da hidra — a serpente mítica que era quase impossível de destruir. Quando sua cabeça era cortada, surgiam outras duas da sua ferida.

Essa imagem esboça, de alguma forma, as personalidades que conseguem reagir independentemente do estresse, da dor e das dificuldades.

Obviamente, aplicar esta abordagem na vida não é nada fácil. Antes de tudo, é necessário passar por uma etapa de maior fraqueza para então ganhar consciência do que realmente é uma derrota, o que envolve uma queda ao fundo do poço por algum tempo.

Somente quando transitamos pela aprendizagem da adversidade conseguimos curar as feridas psicológicas revestindo-as com algum material novo, tão forte quanto o carbono, para voltarmos, segundo Taleb, como “antifrágeis”.

Aprender a ser antifrágil

O que é ser antifrágil?

Nassim Taleb publicou o livro O Cisne Negro em 2007. Nele, falou daqueles inesperados e imprevisíveis acontecimentos que, de vez em quando, ocorrem em nosso mundo. De alguma forma, este financista e pesquisador, matemático da Universidade de Nova York, nos obrigou a tomar consciência de que as pessoas se acostumaram a tomar muitas coisas como certas, deixando pouco espaço para o “fator caos” que, de vez em quando, altera qualquer área da nossa realidade.

Um cisne negro é, por exemplo, uma crise econômica ou de saúde, mas também pode ser uma perda pessoal, um fracasso inesperado, etc.

Assumir que não podemos ter tudo sob controle foi, sem dúvidas, a primeira lição que Taleb nos deu com seu livro. Contudo, ele nos surpreendeu novamente 5 anos depois, desta vez com outro termo, outra ideia que veio para complementar a proposta anterior.

Para contornar esse lago de águas incertas onde de vez em quando é possível avistar um cisne negro, o melhor é aprender a ser antifrágil. Por que fazer isso? Muito simples: para lidar com o estresse provocado pelo imprevisto, para desenvolver uma abordagem equilibrada, atenta e habilidosa, para sobreviver a toda situação caótica, a toda experiência difícil, inesperada e complexa.

Você pode ser frágil, robusto ou antifrágil

Nassim Taleb explica em seu livro que o ser humano pode demonstrar três tipos de comportamentos diante de qualquer evento desafiador.

  • Podemos, por exemplo, agir sendo frágeis. Esse é um estado pelo qual todos nós já passamos mais de uma vez e que conhecemos perfeitamente. É viver com uma angústia permanente e insuportável. O próprio autor dá o exemplo de Dâmocles e da espada que sempre estava sobre a sua cabeça, ameaçando tirar-lhe a vida. O estresse vivido diante da sensação de que algo ruim vai acontecer e não saber como reagir nos coloca em um estado de contínuo sofrimento.
  • É possível agir sendo forte, iluminado e robusto. O exemplo dado aqui é o da ave fênix. Alguém que renasce depois de ter sido destruído e retorna ainda mais forte, mas não demonstra uma maior inteligência ou sabedoria.
  • Por último, Nassim Taleb foca na importância de aprender a ser antifrágil. De ser como uma hidra, alguém que pode ter a cabeça cortada, mas que, da ferida, nascerão duas outras cabeças. É reagir com muita engenhosidade em meio ao caos e fazer da situação de estresse ou dificuldade um cenário para subir e crescer, encontrando o seu poder.
O monstro da adversidade

Ser resiliente é a mesma coisa?

O campo da antifragilidade parte, basicamente, da área econômica. A resiliência, por sua vez, do mundo da física.

Mesmo assim, estes conceitos foram projetados de forma decisiva na área da psicologia e, principalmente, no campo do crescimento pessoal. Por essa razão, muitos se perguntam se ambas ideias não estariam descrevendo a mesma realidade. A resposta é não.

Resiliência define a nossa capacidade de adaptação às situações adversas, de aprender com elas e sair fortalecidos. Ser antifrágil vai além da mera adaptação aos momentos complicados, incertos ou exigentes. É tirar proveito deles. É se posicionar com habilidade vendo a incerteza como uma oportunidade de crescimento e de poder.

Além disso, a antifragilidade nasce, indiscutivelmente, da própria fragilidade. Somente quando sentimos os efeitos do caos do destino em nós mesmos conseguimos fortalecer nossa pele, nosso coração e o foco mental para entender que é preciso reagir. E não basta apenas nos defender das dificuldades, é preciso agir com engenhosidade para prosperar em momentos de crise.

Como aprender a ser antifrágil

Nós sabemos: não somos hidras nem gostaríamos de ser. Aprender a ser antifrágil não significa nos tornarmos monstros de pele dura e sentimentos frios. De fato, este conceito não tem nada a ver com sermos agressivos. Na realidade, seria necessário trabalhar as seguintes dimensões:

  • Aprender a lidar com o estresse;
  • Entender e aceitar todas as nossas emoções;
  • Usar a ansiedade a nosso favor e não contra nós, ativando-a para injetar motivação e capacidade de superação.
  • Ser criativo para definir múltiplas respostas para um mesmo problema;
  • Aceitar a incerteza, entender que a vida pode variar, que o que hoje consideramos natural amanhã pode deixar de existir;
  • Reduzir o medo de mudanças;
  • Entender o que precisamos em cada momento e conseguir isso, sabendo ver também quais oportunidades de crescimento existem ao nosso redor e aproveitá-las sem hesitar.

Concluindo, aprender a ser antifrágil pode ser uma estratégia de sobrevivência ideal para muitos momentos. Vamos aprender com estas interessantes propostas para avançarmos um pouco mais no nosso projeto de vida.


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  • Taleb, Nassim (2012) Antifragil, las cosas que se benefician del desorden. Paidós: Madrid


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