O ataque de histeria: show ou grito de ajuda?

A principal característica da histeria é a insatisfação, que pode ser expressa de várias maneiras. Um ataque de histeria leva esse descontentamento a um nível mais intenso, que se manifesta como descontrole emocional ou físico.
O ataque de histeria: show ou grito de ajuda?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 21 agosto, 2020

O que é popularmente chamado de ataque de histeria é uma grave perda do autocontrole, mas que não costuma ter consequências sérias. Quem manifesta esse quadro grita, chuta, chora, arranca os cabelos e pode até ter uma espécie de convulsão ou contorção. São episódios bastante impressionantes para quem os assiste. Essa é uma maneira de chamar atenção ou representa algo sério?

As manifestações do ataque da histeria podem ser tão impressionantes que, nos tempos antigos, não se distinguia entre esse estado e uma possessão demoníaca. Muitos histéricos foram submetidos a um ritual de exorcismo ou até queimados em fogueiras depois de apresentar um ou mais desses episódios.

Ao longo da história, o tema da histeria sempre foi associado ao feminino. Durante muito tempo, prevaleceu a ideia de que esse mal vinha da insatisfação sexual feminina. A palavra histeria vem de uma raiz que a torna equivalente ao útero.

Já na Antiguidade, Platão afirmou o seguinte: “Nas mulheres, o que é chamado de matriz ou útero é um animal que vive nela com o desejo de fazer filhos. Quando permanece estéril por um longo tempo após o período da puberdade, mal consegue suportar”. A solução consistia em “casar com o marido” o mais rápido possível. Hoje sabemos que a histeria e os ataques histéricos também ocorrem em muitos homens.

“Não é você, é o que o meu desejo inventa em você.”
-Jacques Lacan-

A inconformidade e a histeria

A histeria foi um fenômeno particularmente abordado pela psicanálise . De fato, a própria psicanálise foi criada a partir de descobertas em pacientes histéricas. Já se passou muito tempo desde as primeiras abordagens elaboradas por Charcot e Freud até a atualidade. Agora, é raro encontrar casos de cegueiras histéricas ou paralisias estranhas.

A histeria não é mais vista como um problema de mulheres com carências sexuais. O que está claro é que esse fenômeno está fortemente ligado à insatisfação. A pessoa histérica se queixa com frequência. Os histéricos estão sempre inconformados. Na verdade, eles comparam cada realidade a um modelo ideal. Obviamente, a realidade sai perdendo nesse contraste.

A palavra histeria

Para Freud, havia algo reprimido na histeria que retornava por meio de sintomas somáticos. Em outras palavras, algo que aconteceu no passado e teve um impacto no mundo psíquico acabou sendo relegado ao esquecimento. Isso retorna através de uma manifestação corporal, como frigidez, paralisia, etc.

Lacan pensa de maneira diferente. Para ele, a histérica se identifica imaginariamente com um homem, imita o homem, para a partir daí elucidar o que a torna uma mulher. Não desenvolve sintomas no corpo, mas se infecta a partir dos sintomas de outras pessoas.

O ataque de histeria

Além do que já foi exposto, Lacan afirma que essa “transmissão” de sintomas entre as pessoas histéricas é, na verdade, uma identificação. Um se identifica com o desejo do outro, ou seja, esse desejo se torna coletivo.

Esses sintomas são um chamado ao Outro. Para Lacan, o Outro é aquele ao qual são concedidas as características de um “amo”. Uma figura ou um discurso de poder. O Outro é o pai, ou o médico, ou o parceiro, ou o milionário, etc.

A pessoa histérica deseja que esse Outro a valide e diga quem ela é. Nesse contexto, o que chamamos de ataque de histeria é a expressão extrema da demanda feita a esse Outro. Dessa maneira, as convulsões do “possuído” são uma demanda para o Outro sacerdote ou igreja. O “show” da mulher ou do homem que busca mais expressões de afeto do seu parceiro também corresponde a esse registro.

Mulher em um ataque de histeria

A intensidade desse ataque de histeria corresponderia à intensidade do sintoma. Às vezes, atinge um nível que pode ser confundido com uma psicose. Não são poucos os ataques de histeria coletiva que ainda podem ser observados hoje em dia. Parte disso ocorre em shows de grandes figuras da música ou nos casos de “possessão” em massa que continuam ocorrendo em várias partes do mundo.

O que podemos fazer diante de um ataque de histeria de uma pessoa é nos acalmar. Trata-se exatamente de evitar esse efeito de contágio. Não podemos deixar que os sintomas histéricos do outro se tornem maiores que os nossos sintomas. Não há necessidade de dar um tapa nessa pessoa nem de maltratá-la.

O silêncio e a calma devem ser suficientes para que essa manifestação se dissipe. Se persistir por mais tempo do que o normal, a pessoa afetada provavelmente vai precisar de apoio médico para sair desse estado específico.


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  • Ordóñez Fernández, M. P. (2010). ¿Histeria, Simulación o Neurosis de Renta?. Revista clínica de medicina de familia, 3(1), 39-45.

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