Autoabandono: 9 pistas para saber se você sofre com isso

São muitas as pessoas que se abandonam a si mesmas, deixando de lado suas necessidades emocionais e inclusive seus valores. E se você também estiver se descuidando de algum modo? Fornecemos uma série de pautas.
Autoabandono: 9 pistas para saber se você sofre com isso
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 04 maio, 2023

Existem duas formas de sofrimento que nenhum ser humano deveria experimentar. A primeira é o abandono em qualquer uma de suas formas, seja parental, do companheiro, de uma amizade, etc. A segunda tem a ver com nos desconectarmos de nós mesmos, negligenciando necessidades, emoções, valores e identidades. Curiosamente, é essa dimensão que nos é mais difícil de reconhecer.

Embora o “autoabandono” como tal pareça um conceito estranho para nós, ele ocorre com muita frequência. É verdade que estamos sempre com nós mesmos, que ninguém pode escapar de sua própria pele. No entanto, é comum nos deixarmos de lado a ponto de colocar nas mãos de outros dimensões que nós mesmos devemos nutrir.

Essa característica, essa negligência de rever, fortalecer e promover valores como autoconceito, autoconfiança ou valores, geralmente começa na infância ou adolescência. Tendo crescido em um ambiente disfuncional e emocionalmente frio, muitas vezes nos distanciamos de nós mesmos. Algo assim tem um sério impacto na saúde mental.

Vamos verificar se também estamos nos deixando de lado em algum aspecto.

A crença de que nossas necessidades não podem ser atendidas é uma dinâmica muito frequente no registro psicológico de muitas pessoas.

Menino de costas sofrendo auto-abandono
Os adultos tendem a repetir o mesmo padrão que tinham na infância. Se não atenderam às nossas necessidades quando crianças, também as negligenciamos na maturidade.

Assim damos lugar ao autoabandono

Gabriel sempre culpa seu parceiro por negligenciá-lo e por causa dele não consegue ter um bom desempenho no trabalho. Ana atende sua mãe dependente o dia todo, mas toda vez que sua amiga Clara liga para ela porque está tendo um dia ruim, ela vem imediatamente, por mais exausta que esteja. Roberto desabafa em festas e bebe álcool sempre que se sente ansioso ou estressado.

Esses exemplos são demonstrações de como as pessoas se deixam de lado, como quem esquece os óculos numa gaveta da mesinha de cabeceira. Tentamos nos locomover pelo mundo, mas nossa severa miopia não permite que nos vejamos no espelho ou andemos na rua sem esbarrarmos uns nos outros. O autoabandono é descartar ou ignorar completamente as experiências psicológicas internas.

Algo assim pode causar situações tão diversas e contrastantes como subordinar os outros para validar nossa autoestima, ou nos tornarmos figuras complacentes sem nenhuma autoridade. Ignorar o que precisamos nos leva à dissolução do eu, àquele mal-estar corrosivo que permeia todas as áreas de nossa existência.

Vejamos essas dinâmicas que costumam se manifestar quando somos dominados pelo desapego interno.

O autoabandono é um mecanismo de autodestruição lenta que pode nos levar a estados de grande impotência, como depressão, transtornos de ansiedade, transtornos alimentares ou vícios.

1. Você culpa os outros por sua infelicidade

É possível que você tenha tido uma infância difícil e que não teve sorte no amor. No entanto, a responsabilidade final pela promoção do seu bem-estar e felicidade é sua. Como bem disse o psicoterapeuta Abert Ellis, a melhor fase de nossas vidas ocorre quando percebemos que nossos problemas são apenas nossos.

Parar de culpar nossos pais ou a sociedade nos permitirá assumir o controle de nossas vidas.

2. Não pensar no que dói e se distrair são duas necessidades constantes em você.

Depois de um dia estressante, todos nós gostamos de nos desconectar assistindo séries ou encontrar um amigo para tomar um drinque. No entanto, há aqueles que recorrem persistentemente a qualquer distração que os impeça de tomar consciência de sua tristeza, de seu desafeto e de sua dor emocional.

Isso pode fazer com que a pessoa recorra à comida como um mecanismo catártico para aliviar a ansiedade. Fazer compras, passar o dia jogando videogame ou beber em excesso também são exemplos de autoabandono.

3. Ser incapaz de estabelecer limites

Os limites são barreiras psicológicas que articulamos perante os outros para salvaguardar o nosso bem-estar e fornecer as informações necessárias aos que nos rodeiam. Realizá-lo requer comunicação aberta e assertiva; algo que, como bem sabemos, nem sempre é fácil de realizar.

Agora, quem se define por esse descuido ou distanciamento consigo mesmo, sente-se incapaz de dizer “não” a qualquer exigência ou pedido. Deixam-se levar, aceitam tudo, assumem tudo, aceitam e seguem a corrente por mera inércia. Tudo isso se explica por esta incapacidade de salvaguardar as próprias necessidades.

4. Falta de autoconsciência emocional

Em um trabalho de pesquisa da Universidade da Carolina do Norte destaca-se a importância da autoconsciência para o bem-estar psicológico. Ou seja, conseguir conectar e entender nossos pensamentos e emoções nos permite ter maior controle sobre nossas vidas. Ser também mais feliz em qualquer área da vida.

Por outro lado, o autoabandono nos faz deixar de assumir a responsabilidade por nossas emoções e sentimentos. Esperamos que sejam os outros que nos acalmem quando o mundo está agitado, que nosso parceiro seja o responsável por validar o que sentimos, por preencher aquelas lacunas que nós mesmos não podemos alimentar.

Se você se abandonar, viverá em uma prisão de sofrimento na qual assumirá os valores de outras pessoas e reprimirá muitas de suas emoções e sentimentos.

5. Você vive em constante evitação

Viver na evitação é negar os problemas que o atormentam e minam seu equilíbrio interno. Fazer uso constante dos mais variados mecanismos de fuga faz com que você viva na procrastinação, não admita o que lhe perturba e fique preso na imobilidade. Esse tipo de existência, longe de resolver alguma coisa, faz com que você sempre se sinta frustrado.

6. Autoexigência excessiva

Quando o autoabandono permeia profundamente suas camadas psicológicas, isso faz com que você se torne seu pior inimigo. Você não se valoriza, não valoriza suas conquistas e a voz crítica dentro de você atinge decibéis ensurdecedores.

Além disso, uma realidade que o define é aquela autoexigência que o impede de cometer erros, que o pressiona e o sujeita a estados de ansiedade insuportáveis.

Menina triste esperando que os outros agissem como eu faria
O autoabandono faz com que a evitação seja quase sempre seu principal mecanismo de resposta.

7. Você esconde partes de si mesmo

Insegurança, medo, falta de iniciativa… Você é uma pessoa de grande valor e habilidades notáveis, mas duvida tanto de si mesmo que prefere esconder suas áreas brilhantes. Você faz isso por medo das críticas, julgamentos e comentários de outras pessoas que possam fazer sobre você.

Sua regra de sobrevivência lembra que, para evitar ser ferido, é sempre melhor esconder certas áreas.

8. Você é prisioneiro de suas dúvidas

Pessoas definidas pelo autoabandono são dominadas por pensamentos ruminantes, daqueles que oxidam todo o valor e o alimentam de dúvidas. Isso faz com que você deixe de confiar na sua intuição, na sua experiência adquirida e até mesmo nos seus instintos. Você se percebe como falível, embora diante dos outros pareça ser decisivo.

9. Você age em dissonância com seus valores

Não viver em harmonia de acordo com os próprios valores dói. O faz porque, quase sem perceber, você age e se move de acordo com os valores de sua família ou parceiro, que podem estar muito distantes dos seus. São os outros que o orientam e o condicionam em quase todos os aspectos. Isso leva a um estilo de vida marcado pela insatisfação e infelicidade.

Conclusão

O autocuidado é o oposto do autoabandono. Essa é a palavra mágica que você deve ter em mente caso se sinta identificado com as dimensões aqui descritas. É hora de olhar para dentro e ordenar aquele universo caótico e solitário que você deixou de lado há muitos anos, pelos mais diversos motivos.

É sempre um bom momento para desenvolver habilidades adequadas de gerenciamento emocional, responsabilidade pessoal e assertividade. Comece olhando-se no espelho e se conectando com aquela figura que você deixou de lado por muito tempo. Essa pessoa precisa de carinho, validação e compaixão. No momento em que você se sentir seu melhor aliado, tudo mudará para melhor.


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