Segundo a ciência, a autoestima excessiva diminui a empatia
Muitos podem não se surpreender ao saber que a autoestima excessiva diminui a empatia. Essa característica, de trabalhar com um autoconceito pouco ajustado – baseado, via de regra, naquela autoestima superdimensionada – costuma trazer consigo problemas de convivência, conflitos e comportamentos que traçam um nítido perfil narcisista. Portanto, não é difícil entender por que aqueles que vivem com uma coroa na cabeça se desconectam dos outros.
A autoestima é aquele elemento que, quando está ausente ou enfraquecido, traz consigo muitos dos problemas mais comuns. A baixa autoeficácia, a insegurança, a ansiedade e até o próprio substrato da depressão trazem, em grande parte dos casos, a falta de salubridade desse tendão psicológico.
Contudo, se a falta de autoestima é um problema, então um alto nível desse traço também pode receber a mesma classificação. Como sempre acontece na vida e no universo do bem-estar mental, as carências e a falta de autocontrole muitas vezes impossibilitam o desafio de manter um equilíbrio. O que é surpreendente é como o fato de “desfrutar” de um elevado autoconceito e apreciação pessoal distorce completamente a competência empática.
Vamos analisar esse assunto com mais detalhes.
Por que a autoestima excessiva diminui a empatia?
Pode parecer surpreendente, mas quando os especialistas apontam que o excesso de autoestima encerra um problema potencial, não é por acaso. Quando alguém se elogia de maneira desmedida, essa pessoa também espera que os outros o façam. Quando nos deparamos com uma pessoa que tem uma autopercepção melhor do que as outras, ela começa a ver aqueles que estão ao seu redor com frieza e desprezo.
Problemas em relacionamentos, desentendimentos no trabalho, dificuldades para socializar… Um baixo autoconceito e uma autoestima fraca colocam qualquer pessoa em um estado de contínua impotência. No entanto, viver no ápice da autoapreciação leva a comportamentos agressivos. De acordo com a psicologia social, isso pode ser observado frequentemente no âmbito do trabalho.
A teoria da autoverificação e da alta autoestima
William Swann é professor de psicologia social e da personalidade na Universidade do Texas e autor da teoria da autoverificação. Em que consiste esse conceito? Estamos diante de uma abordagem interessante e esclarecedora que nos permite entender por que a autoestima excessiva diminui a autoestima.
A pessoa com um nível excessivo de autoestima está em constante “autoverificação”. Ou seja, ela precisa se reafirmar em tudo que faz, pensa e decide. Desse modo, reforça a visão que tem de si mesma e a mantém a salvo. Porém, o problema vem com o fato de que ela espera que os outros também ajam da mesma maneira.
Ele quer e espera que todos ao seu redor verifiquem e validem seu autoconceito, cada traço, cada competência , ação ou deliberação. O doutor William Swan enfatiza o fato de que isso pode ser muito problemático na área das organizações e das empresas.
Quando um líder, um diretor ou um colega de trabalho se mostra obcecado pelo reforço das suas habilidades, atributos e aptidões por parte de outras pessoas, é fácil acabar desconectado do seu próprio ambiente, praticamente sem conhecimento das realidades próximas… que passam a ser alheias. A empatia está praticamente ausente nesses perfis de personalidade.
O narcisista entrópico: quando a autoestima excessiva diminui a empatia
Já destacamos no início: a autoestima excessiva é uma característica comum em uma personalidade narcisista. Estudos, como os realizados na Universidade de Georgia (Estados Unidos), indicam que o amor-próprio e a autovalidação têm dois retratos bem distintos.
Por um lado, temos a pessoa que, com uma autoestima positiva, é capaz de ir de dentro para fora. Ou seja, eu tenho uma visão e percepção saudáveis de mim mesmo e, dessa forma, sou capaz de valorizar, respeitar e me conectar com a realidade do outro. No entanto, quando dizemos que a autoestima excessiva reduz a autoestima, isso ocorre porque a personalidade narcisista aplica uma “visão entrópica”.
Toda mobilização psicológica, todo recurso atencional, emocional e motivacional vai para a própria pessoa. Essas pessoas não têm empatia, isto é, não são capazes de apreciar ou sentir as realidades alheias. Além disso, em grande parte dos casos, por não receberem a atenção e a validação externa de que precisam, podem aplicar atitudes e comportamentos agressivos e pouco respeitosos.
As graves consequências de alimentar uma autoestima excessiva
A autoestima excessiva diminui a empatia e isso tem um impacto evidente nos âmbitos relacional e social. Quando uma pessoa não consegue entender e dar visibilidade aos outros, ela acaba criando distâncias. Isso faz com que, em muitos casos, essas figuras acabem no vazio do ostracismo.
No entanto, ainda há outros aspectos. Trabalhos de pesquisa, como os estudos das psicólogas Carol Dweck e Ellen Leggett, nos mostraram dados reveladores em 2003. Em primeiro lugar, a autoestima excessiva está correlacionada a uma mentalidade fixa, ou seja, são pessoas inflexíveis, pouco abertas às mudanças e aos desafios, porque temem mostrar incompetência.
Da mesma forma, elas ficam cegas em relação aos seus fracassos, não aceitam críticas, são imaturas e não administram bem as suas emoções. Isso nos mostra mais uma vez que os extremos – também em construtos psicológicos – são problemáticos.
Uma avaliação excessivamente positiva de si mesmo não é apenas perigosa. É o germe da agressividade relacional, um inimigo da convivência e, também, um desafio para conseguir criar ambientes de trabalho respeitosos e produtivos. Reflitamos sobre esse tema.
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- Neff, Kristin. (2003). The Development and Validation of a Scale to Measure Self-Compassion. Self and Identity. 2. 223-250. 10.1080/15298860309027.