Benefícios da ocitocina: confiança, generosidade e afetividade

Ela favorece aspectos que vão desde as atitudes maternais e paternais até as relações de confiança e sexualidade. A ocitocina tem um grande número de funções em nosso corpo. O psicólogo Marcelo Ceberio fala sobre isso.
Benefícios da ocitocina: confiança, generosidade e afetividade

Última atualização: 14 maio, 2020

Com múltiplas funções em nosso organismo e em nossos comportamentos, a oxitocina ou ocitocina é um neuro-hormônio que oferece uma série de benefícios ao nosso corpo e às nossas emoções.

Ela favorece desde atitudes maternais e paternais até as relações sexuais, relações sociais afetivas, o parto e relações de confiança e amizade. Por causa dessas e de outras virtudes, muitos a chamam de “a molécula do amor”.

Benefícios da ocitocina, amor romântico e a busca pela intimidade

A ocitocina, secretada pela hipófise (mais conhecida como glândula pituitária), é considerada o hormônio do amor e a grande estrela do comportamento maternal e paternal.

O efeito da ocitocina na hipófise

Favorece fisicamente a maternidade, tanto o parto quanto a amamentação. É liberada em grandes quantidades para distender a vagina durante o parto, mas também reage à estimulação do mamilo quando o bebê suga o peito.

Ela também atua nos padrões sexuais, uma vez que está associada ao contato amoroso e ao orgasmo. Uma vez na corrente sanguínea, produz uma série de efeitos após o ato sexual.

Em homens e mulheres, o clímax sexual provoca um grande fluxo desse hormônio. Portanto, facilita a circulação dos espermatozoides e a contração dos músculos nos canais reprodutivos de ambos os sexos.

Além disso, ficou comprovado que, após a relação sexual, quando a testosterona e as endorfinas no sêmen ejaculado encontram a parede cervical, as mulheres recebem uma grande quantidade de testosterona, endorfina e ocitocina.

Por outro lado, os homens, após o orgasmo, experimentam um aumento nas endorfinas e um aumento acentuado nos níveis de ocitocina, o que gera sentimentos relaxantes e protetores.

Ela ganhou o título de molécula do amor pois está envolvida no relacionamento social, no reconhecimento e valorização, na formação de relacionamentos de confiança e generosidade, afetividade, ternura e no toque como uma demonstração de afeto.

Ou seja, um simples abraço, uma carícia ou um beijo podem ser ativadores da ocitocina.

O hormônio da monogamia

Para alguns, a ocitocina é o hormônio da monogamia. Uma pesquisa da Universidade de Bonn administrou esse hormônio ou um placebo através de um spray nasal a um grupo de homens heterossexuais.

O objetivo era estudar como eles reagiriam diante de uma mulher atraente. Para isso, eles tiveram que indicar qual distância consideravam apropriada em relação à mulher e qual parecia desconfortável.

Os cientistas descobriram que, no grupo de voluntários, os homens casados ​​ou comprometidos ​​que receberam o hormônio queriam ficar a uma distância maior da mulher do que aqueles que haviam recebido o placebo.

No entanto, o mesmo não ocorreu entre os homens solteiros. De acordo com os seus autores, o estudo fornece a primeira evidência de que a ocitocina pode ter um papel fundamental na fidelidade dos homens.

A ocitocina é a grande mãe, governa o comportamento amoroso em relação à prole e é considerada o hormônio do apego; exerce o instinto que protege e colabora no desenvolvimento do feto e seu crescimento.

Por exemplo, quando a mãe amamenta os seus filhos, a ocitocina atua nas glândulas mamárias, causando a secreção de leite em uma câmara coletora, da qual pode ser extraído sugando o mamilo.

Por outro lado, os bebês reconhecem a voz materna que ativa a produção de ocitocina, que, por sua vez, exerce influência principalmente no apego entre mãe e filho e no comportamento do bebê. A voz materna conforta e tranquiliza a criança, que se sente protegida pela sua mãe.

Os apaixonados têm um nível maior de ocitocina

Algumas pesquisas mostram que os níveis de ocitocina são elevados em pessoas apaixonadas, principalmente no amor maduro do relacionamento.

A sua função está associada ao contato e ao orgasmo. Ela provoca nas meninas as atitudes femininas e maternais que proporcionam uma grande sensibilidade no contato romântico. Essa é uma das razões pelas quais as fantasias românticas são comuns nas meninas adolescentes.

Por outro lado, o adolescente do sexo masculino, produto dos litros de testosterona em circulação na corrente sanguínea, está mais preocupado em sexualizar rapidamente o vínculo. Mas isso não significa que os homens não fantasiam romanticamente, ou que não se apaixonam.

Nesse sentido, a paternidade pode diminuir os níveis de testosterona nos homens, uma vez que o amor e os comportamentos de proteção fornecidos pelo hormônio oxitocina aparecem. No entanto, existem poucos homens que diminuem a sua libido sexual em face da gravidez de sua esposa.

Níveis mais altos de confiança

Existem também alguns testes interessantes que demonstram os efeitos da ocitocina na autoconfiança, na generosidade e na redução do medo social.

Em um jogo de investimentos arriscados, os voluntários pesquisados que receberam ocitocina administrada por via nasal mostraram um nível de confiança duas vezes maior do que o outro grupo.

Dopamina e ocitocina

Mantendo a gênese do Homo sapiens, a tendência sociável das fêmeas primitivas fez com que elas se juntassem para se defender da agressão de alguns machos.

Em algumas espécies de macacos, esse fenômeno também ocorre: se um macaco de estatura proeminente ameaça uma fêmea, as outras correm em sua defesa. Com os seus guinchos, elas afastam o agressor.

Talvez essa seja uma das razões pelas quais as mulheres se juntam com tanta frequência para conversar de maneira tão íntima, cúmplice e afetiva. Esta é uma atividade que lhes proporciona muito prazer e que é estimulada pela dopamina.

Amigas se divertindo

A dopamina tem muitas funções no cérebro, incluindo papéis importantes no comportamento e cognição, motivação e recompensa, sono, aprendizado, humor, atenção, entre outros.

É comumente associada ao sistema de prazer do cérebro, fornecendo sentimentos de reforço para motivar uma pessoa a realizar determinadas atividades de forma proativa.

Além disso, a dopamina participa de experiências naturalmente gratificantes como a comida, sexo, algumas drogas, e os estímulos neutros que podem estar associados a elas.

A combinação de ocitocina e dopamina proporciona o prazer da intimidade no universo da mulher, principalmente quando o estrogênio está em alta.

A ocitocina nos vícios e no amor

De acordo com alguns estudos realizados em animais, a ocitocina inibe o desenvolvimento de tolerância a várias drogas viciantes (cocaína, opiáceos, álcool) e reduz os sintomas de abstinência. Além disso, proporciona equilíbrio nas emoções e elimina os estados de ansiedade, pânico, agorafobia, fobias, estresse, etc.

O desaparecimento ou diminuição dos comportamentos de fobia social foi observado devido ao aumento dos níveis de ocitocina, e também pode ajudar a tratar certos distúrbios psiquiátricos, como a esquizofrenia ou o autismo.

Ocitocina e vasopressina

Dependendo do emocional e social, outro hormônio – a vasopressina – complementa as ações da ocitocina no casal. Ela atua na defesa do território, demarca os limites do que é considerado o local adequado, o particular e íntimo.

Estudos neuroendócrinos verificaram que, em grande parte, o vínculo do casal maduro que perdura ao longo dos estágios reprodutivos depende dos hormônios ocitocina e vasopressina (aumenta no cérebro durante o ato sexual e o nascimento dos filhos).

A vasopressina é o hormônio que ajuda a manter o relacionamento do casal, ativa os comportamentos agressivos de defesa do mesmo e do território familiar, o que também impede a mulher de ter relações com outros homens e, portanto, garantir a paternidade.

Ocitocina e o amor

O amor pode ser considerado uma droga viciante e tem alguns efeitos colaterais importantes.

Como aponta um estudo da Faculdade de Medicina Albert Einstein, quando o amor acaba, assim como quando uma pessoa está viciada em drogas, as consequências da dependência são tão fortes que podem levar a comportamentos depressivos e obsessivos graves.

Nesse sentido, o amor pode causar dependência emocional, uma vez que, no estado amoroso, são liberados diversos compostos químicos e hormônios, como a dopamina, ocitocina e serotonina.

Por esse motivo, quando estamos apaixonados ela provocada excitação. Ficamos cheios de energia, motivados e nos recuperamos facilmente com algumas horas de sono.

Alguns autores argumentam que quando essa cascata química diminui, muitas pessoas a interpretam como uma perda de amor. O que realmente acontece é que os receptores neuronais já se acostumaram com esse excesso de fluxo químico e o apaixonado precisa aumentar a dose para continuar sentindo o mesmo.

O cérebro precisa de um processo de recuperação para retornar aos níveis hormonais normais, e é necessário um tempo para recuperar a estabilidade.

Nesse sentido, a ocitocina ajuda a criar laços permanentes entre os amantes após a primeira onda de emoção. Ela atua mudando as conexões dos bilhões de circuitos neurais.

Benefícios da ocitocina

Algumas considerações sobre os benefícios da ocitocina

Por outro lado, não podemos esquecer que a ocitocina é uma substância endógena, ou seja, é secretada pelo cérebro e atua como o consumo de drogas: libera transmissores como a dopamina, noradrenalina ou serotonina.

Esses neurotransmissores permitem que o cérebro seja inundado com feniletilamina (também conhecida como “hormônio da paixão”, um composto químico da família das anfetaminas). O chocolate é rico neste composto, por isso é comum que quantidades excessivas sejam consumidas durante ‘os problemas do amor’.

A ocitocina também desempenha um papel importante no ciúme. Quando somos traídos, perdemos a confiança, os níveis de ocitocina caem e os níveis de cortisol aumentam (já que o estresse é um fator que acompanha os problemas e o cortisol é o protagonista).

No entanto, não podemos entender a liberação de neurotransmissores ou hormônios apenas a partir de um sentido biológico. Os comportamentos, pensamentos, crenças, valores, emoções, ideias, preconceitos, experiências de vida ou fantasias também podem causar uma maior ou menor liberação de hormônios.

Os neurotransmissores e hormônios como a serotonina, endorfinas e ocitocina são uma tríade que ajuda a diminuir os altos níveis de cortisol no estresse. Portanto, a atividade física, os espaços de tranquilidade e os laços afetivos (família, amigos) produzem o benefício de combater o estresse e alcançar um estado de bem-estar e felicidade.


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