Biografia de Daniel Lagache e a psicanálise francesa
Hoje vamos expor uma breve biografia de Daniel Lagache, membro da chamada “segunda geração psicanalítica” na França. Sua atuação foi marcante naquele país pois esteve presente em momentos importantes, como a separação entre psicologia e filosofia, delimitando uma fronteira de autonomia entre as duas disciplinas.
Também foi Daniel Lagache quem trouxe a psicanálise para a universidade. Da mesma forma, trabalhou para estabelecer pontes de comunicação estáveis entre a medicina e a psicanálise, e entre esta e a psicologia. Sua obra gerou debates epistemológicos frutíferos, que ecoaram na prática psicanalítica como um todo.
“A aversão à psicanálise às vezes se expressa através do sarcasmo dirigido à sua linguagem. Certamente, os psicanalistas não aspiram ao uso abusivo ou precipitado de palavras técnicas para disfarçar a confusão de pensamento. No entanto, como as profissões e as ciências, a psicanálise precisa de palavras específicas.”
-Daniel Lagache-
Lagache também foi um dos pioneiros do que foi chamado de Laienanalyse ou “análise profana”. Essa posição promoveu a ideia de que para ser psicanalista não era necessário estudar medicina anteriormente. Daniel Lagache, ao contrário de Jacques Lacan, acreditava que esse campo era do domínio dos psicólogos.
A biografia de Daniel Lagache
Daniel Lagache nasceu em Paris em 3 de dezembro de 1903. Vinha de uma família com bons recursos econômicos, o que lhe garantiu uma educação de primeira linha. Seu pai era um advogado de prestígio, que morreu quando Lagache tinha apenas 13 anos. A partir daí, a família ficou sob os cuidados da mãe.
O que se seguiu, então, foi uma situação familiar tensa, já que a mãe de Daniel tinha uma clara preferência por seu irmão. Esta situação o levou a esconder um ciúme muito profundo. De fato, boa parte da sua obra é dedicada ao tema do ciúme, nos diferentes contextos das relações humanas.
Em 1924 Daniel Lagache ingressou na Ecole Normale Supérieure em Paris. Alguns de seus colegas foram Jean Paul Sartre, Paul Nizan, Raymond Aron e Georges Canguilhem. As amizades com esses grandes pensadores tiveram uma notável influência na sua formação, que logo se voltou para a filosofia.
O encontro com a psicanálise
Naquela época, filosofia e psicologia faziam parte da mesma área. Era comum que normalistas assistissem à apresentação de casos de doentes mentais. Lagache teve acesso às aulas ministradas a esse respeito por Georges Dumas. Isso o encorajou a orientar seus estudos para a medicina e a psicologia.
Lagache serviu primeiro como agregado de filosofia e, mais tarde, atuou em vários hospitais psiquiátricos. Depois, ele se tornou chefe de clínica. Durante seu treinamento, foi ensinado por Gaétan Gatian de Cléarambault, um famoso psiquiatra e etnólogo.
Em 1934 ele apresentou um artigo sobre alucinações verbais que se tornou sua tese de graduação em psiquiatria. No início, ele se interessou principalmente por psicoses passionais e paranóia.
A influência do filósofo Karl Jaspers em seu pensamento foi notável. No entanto, ele fez terapia de psicanálise com Rudolph Loewenstein e, assim, entrou em contato com as ideias de Sigmund Freud.
A Sociedade Francesa de Psicanálise
Daniel Lagache tornou-se professor universitário, com o título de “professor de psicologia”, na faculdade de Estrasburgo. Em 1938 ele conheceu pessoalmente Sigmund Freud. A partir de 1947, se tornou o diretor do curso de psicologia da Universidade Sorbonne.
Lagache foi um freudiano convicto e também participou brilhantemente de debates. Em 1963, foi expulso da Sociedade Psicanalítica de Paris e da Associação Psicanalítica Internacional (IPA), junto com Jacques Lacan. Ambos argumentaram que as ideias e práticas dessas instituições não aderiam aos princípios essenciais da psicanálise.
Junto com Lacan e Dolto, Lagache foi um dos fundadores da Sociedade Francesa de Psicanálise. A intenção era promover um retorno aos princípios freudianos. Todos achavam que os porta-vozes oficiais eram excessivamente influenciados por outras correntes da psicologia, como o behaviorismo.
Rupturas e legados na biografia de Daniel Lagache
Uma das primeiras tarefas da Sociedade Francesa de Psicanálise foi desenvolver um Dicionário de Psicanálise. O objetivo era coletar e especificar os termos e conceitos básicos desta disciplina. Lagache colaborou nisso.
Mais tarde, Daniel Lagache se distanciou de Lacan. Este último era a favor do estabelecimento de uma fronteira bem definida entre a psicologia e a psicanálise, e Lagache discordou. Eles também não concordavam sobre a teoria da personalidade.
Essa diferença precipitou uma ruptura e, em 1963, ele fundou a Associação Psicanalítica Francesa. Ele estava acompanhado por vários psicanalistas de “terceira geração” de prestígio. Daniel Lagache morreu em Paris em seu 69º aniversário.
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- Laplanche, J., Lagache, D., & Pontalis, J. B. (1971). Diccionario de psicoanálisis (Vol. 38, No. 159.964. 2). Labor.