Biografia de Ernst Simmel e a neurose de guerra

Uma das grandes contribuições de Ernst Simmel foi a de ter levado a psicanálise para áreas um tanto estranhas, como a toxicodependência, os efeitos da guerra e o impacto da indigência.
Biografia de Ernst Simmel e a neurose de guerra
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 03 janeiro, 2020

Nesse artigo, apresentaremos uma breve biografia de Ernst Simmel, um dos pioneiros da psicanálise cujo nome foi esquecido por várias décadas.

Como outros de seus contemporâneos, sofreu o rigor da Segunda Guerra Mundial e teve que emigrar para os Estados Unidos. Essa mudança marcou uma interrupção em seu trabalho e, portanto, suas contribuições só foram reconhecidas no final do século XX.

Ernst Simmel é considerado um dos criadores do conceito de neurose de guerra. Ele também esteve na vanguarda do movimento de medicina social. Esse movimento defende o foco na atenção aos mais necessitados, em igualdade de condições com aqueles que podem pagar por consultas.

“A fuga para a psicose em massa não é apenas uma fuga da realidade, mas também da loucura individual”.
-Ernst Simmel-

Um dos aspectos em que Ernst Simmel fez grandes contribuições foi no campo dos vícios. Ao contrário de outros psicanalistas, se ocupou com fenômenos que excediam os casos tradicionais de neurose. Existe uma formação social em toda a sua prática e produção intelectual.

Os primeiros anos da biografia de Ernst Simmel

Ernst Simmel nasceu em 4 de abril de 1882 em uma cidade na Polônia chamada Breslau. Naquela época, o local havia sido anexado ao império alemão.

Veio de uma família judia, de condição média. Ainda muito jovem, os Simmel se mudaram para Berlim, onde sua mãe atuou como diretora de uma agência de empregos.

Simmel estudou medicina e se especializou em psiquiatria. Ele se formou em 1908, com uma tese de graduação sobre a demência precoce. No ano de 1910, contraiu seu primeiro matrimônio com Alicia Seckelson.

Em 1913, ele fundou, com outros colegas, a Sociedade de Médicos Socialistas. Esta organização buscava oferecer atenção aos necessitados e àqueles que não podiam pagar por uma consulta.

Mais tarde, Ernst Simmel assumiu a direção de um hospital militar psiquiátrico. Isso lhe permitiu entrar em contato com pacientes que haviam experimentado os horrores da Primeira Guerra Mundial. Lá, ele também começou a se familiarizar com a psicanálise e, principalmente, com a técnica da hipnose.

Os enigmas da mente

A trajetória de Simmel

Simmel encontrou na psicanálise um caminho válido para lidar com os traumas de ex-combatentes de guerra. Ele fez uma aplicação específica dos métodos freudianos. Usava a hipnose e também um manequim, para que os pacientes descarregassem a sua agressividade.

Todo esse trabalho lhe permitiu lançar as bases do conceito de neurose de guerra. Publicou um trabalho interessante sobre esse tema em 1918. Esse trabalho chegou às mãos de Sigmund Freud, que ficou impressionado.

Em uma das cartas que dirigiu a Karl Abraham, Freud elogiou Simmel abertamente. De fato, sua obra Psicologia de grupo e análise do ego é explicitamente baseada nos postulados de Simmel.

Mais tarde, Simmel se psicanalisou diretamente com Karl Abraham. Depois, ajudou esse analista a criar o Instituto Psicanalítico de Berlim, a primeira clínica psicanalítica do mundo a oferecer consultas gratuitas aos mais desfavorecidos.

Ele também contribuiu para a criação da policlínica de Berlim. Ali, ele apresentou vários seminários e desenvolveu um trabalho sobre neurose de guerra, com colegas de destaque como Sandor Ferenczi, Ernst Jones e outros.

As contribuições de Ernst Simmel

Após a morte de Abraham, Simmel foi eleito presidente da Sociedade Psicanalítica de Berlim. Isso aconteceu em 1925. Um ano depois, criou um sanatório em Tegel, no estilo das grandes clínicas da época.

Este local se tornou um dos pilares dos métodos psicanalíticos, aplicados a casos de toxicodependência, psicoses e neuroses graves. Esse sanatório serviu de modelo para a criação de várias clínicas norte-americanas, posteriormente.

Sigmund Freud

Freud ficou neste sanatório quando foi tratar seu câncer em Berlim. No entanto, o lugar teve várias dificuldades financeiras e faliu. Freud e Einstein imploraram ao Ministério da Cultura alemão para apoiar este centro, mas seus pedidos foram em vão. Em 1931, ele fechou as portas.

Dois anos depois, Ernst Simmel foi capturado pela Gestapo. A Associação de Médicos Socialistas pagou uma fiança para os nazistas e, assim, conseguiu libertar o psicanalista.

Ele se mudou para a Bélgica e depois para Los Angeles, nos Estados Unidos. Na América do Norte, se reencontrou com vários de seus colegas e, como eles, sempre lamentou a banalização da psicanálise nas terras americanas.

Ainda assim, era o psicanalista favorito das estrelas de Hollywood. Ele faleceu em 1947 e seu trabalho só foi redescoberto em 1993, graças aos bons ofícios de alguns estudiosos freudianos.


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  • Simmel, E. (1921). Intervención en una exposición junto con Abraham Ferenczi y Jones sobre psicoanálisis y las neurosis de guerra“.

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