George Berkeley: biografia e obra

George Berkeley, pai do idealismo filosófico, estabeleceu as bases de uma nova visão de mundo para o estudo dos objetos e sua relação com a mente humana. Junte-se a nós para conhecer sua vida e obra.
George Berkeley: biografia e obra
Bernardo Peña Herrera

Escrito e verificado por o psicólogo Bernardo Peña Herrera.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Conheça a biografia de George Berkeley (1685-1753), um dos cientistas mais importantes do seu tempo. Também foi bispo, filósofo e humanista. É muito conhecido pela sua filosofia empirista e sua defesa do idealismo. Além disso, foi um crítico feroz dos maiores filósofos que o precederam, como Descartes e Locke.

O idealismo nos diz que tudo existe na medida em que pode ser percebido com os nossos sentidos, exceto o que é espiritual. Suas contribuições variaram da filosofia à física, passando por áreas como a psicologia, a medicina e a matemática. Um grande pensador, com uma obra extensa e influente que vale a pena conhecer e que hoje, de alguma forma, tentaremos resgatar neste artigo.

Breve biografia de George Berkeley

George Berkeley nasceu em Dysert (Irlanda) em 1685 e morreu em Cloyne (Irlanda) em 1753. Foi um aluno talentoso do Trinity College Dublin e estudou ciências e literatura. Além disso, permaneceu nessa universidade como professor até aperfeiçoar seus estudos de grego e hebraico.

Sempre em contato com a obra de grandes pensadores, como Locke, Hobbes, Descartes e Newton, ele desenvolveu seu próprio pensamento: a filosofia imaterialista ou idealista. Entre 1707 e 1710, publicou várias obras de grande relevância, entre as quais se destaca o Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano. Em 1710, foi ordenado sacerdote anglicano.

George Berkeley se casou em 1728 com Anne Foster, uma mulher muito capaz, intelectual e que defendeu a filosofia do marido até seus últimos dias. Entre 1728 e 1731, estabeleceu-se nas colônias americanas, mais especificamente em Rhode Island. Lá, ele esperava um financiamento do rei para criar um centro missionário com o objetivo de instruir os habitantes locais.

Contudo, não tendo obtido esse financiamento, decidiu retornar à Europa, instalando-se em Londres em 1732 e, posteriormente, em Cloyne. Uma vez estabelecido lá e até 1744, desenvolveu obras importantes como Alciphron, The Theory of Vision e Siris. Cansado e abatido pela morte de um de seus filhos, Berkeley faleceu em 1753, deixando um grande legado científico e filosófico.

George Berkeley e a mente humana

George Berkeley e o idealismo filosófico

Ao contrário de Locke e Hobbes, Berkeley adotou o imaterialismo filosófico. Mas o que exatamente é esse imaterialismo? Para Berkeley, nós só conhecemos as coisas pela sua relação com os nossos sentidos, não pelo que elas são em si. Em outras palavras, aceitamos somente nossas representações mentais como verdadeiras.

Berkeley propôs o princípio do idealismo, explicando que “o ser das coisas” significa “serem percebidas”. De fato, a substância não seria a matéria, mas apenas seu substrato espiritual. De acordo com Descartes, o espiritual é fruto dos nossos pensamentos, e essa seria a sua prova irrefutável, seu critério de verdade.

Descartes rejeita o mundo dos sentidos. Para ele, os sentidos nos enganam e, portanto, não devemos confiar neles. O conhecimento, para Descartes, é inato e é a razão que nos guiará em direção a ele. Descartes duvida de tudo e, no momento em que duvida, torna-se consciente de sua própria existência: cogito ergo sum. É um ser imperfeito e, ainda assim, tem a ideia de um ser perfeito: Deus. Um ser imperfeito não pode ter criado algo perfeito. Portanto, quem colocou a ideia em sua mente? A resposta para essa pergunta não pode ser outra senão o próprio Deus.

O outro lado da moeda é representado por Berkeley, cujo empirismo é, para dizer o mínimo, extremo. Não falamos mais de conhecer através do objeto, mas de que o objeto é quando é percebido. No entanto, se os objetos existem apenas como resultado das nossas representações mentais, deve haver algo que fique fora da nossa mente e alimente nossas percepções. Isso fora de nós nada mais é do que Deus.

Dessa maneira, Berkeley e Descartes, embora extremamente opostos, funcionam como os dois lados da mesma moeda. Duas teorias muito diferentes sobre o conhecimento e a metafísica, mas que têm a mesma resposta: Deus.

George Berkeley e a psicologia da visão

Uma das coisas pelas quais Berkeley se destaca é sua compreensão a respeito de como percebemos e interagimos com os objetos. Sua ideia principal é que nosso conhecimento só é real se houver conformidade entre nossas ideias, e não sobre a realidade das coisas. Além disso, ele acrescenta: “ter uma ideia é a mesma coisa que perceber”.

Seguindo esse paradigma, nada do que percebemos em si existe na natureza. Portanto, existir não pode significar outra coisa senão perceber e ser percebido. Esse fenômeno pode ser observado em crianças quando brincam de esconder, fechando os olhos para se tornarem invisíveis.

Segundo Berkeley, não vemos as coisas do ambiente ao nosso redor. Na verdade, temos ideias e, dentro delas, vemos as coisas. Como consequência de perceber os objetos com a visão, conclui-se que eles não existem fora da nossa mente. É uma abordagem completamente revolucionária, que abre as portas para o relativismo. Cada pessoa vê e cria sua própria realidade de acordo com suas próprias cognições.

George Berkeley e a mente humana

Reflexões finais

Na biografia de George Berkeley, vemos que sua obra levanta dois problemas principais:

  • A relação entre o espírito e a matéria.
  • A realidade do mundo corpóreo exterior a nós.

Como Berkeley tenta reduzir toda a experiência à experiência interna, temos como resultado que as ideias estão na mente e são deduzidas das sensações. Essa proposta vai ter um grande peso na filosofia e na psicologia ao longo dos séculos XIX e XX.

Rejeitando as teses de importantes pensadores que o precederam, George Berkeley propõe que nossa mente é composta por um conjunto infinito de ideias, que têm origem na nossa experiência com as diferentes sensações. Portanto, não operamos com os objetos em si, mas com nossas representações mentais desses objetos.

Assim, para Berkeley, tudo aquilo que não existe na nossa mente não existe no nosso universo. Essa frase lembra profundamente o que Wittgenstein diria um século depois: “Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”.

Em relação ao seu impacto na psicologia, abordagens como o estruturalismo e a psicologia cognitiva têm, pelo menos, alguns de seus antecedentes nas ideias de Berkeley.

Em resumo, ao conhecermos a biografia de George Berkeley, vemos que ele foi um cientista e pensador que nos ajudou a desvendar um pouco mais os mistérios da mente.


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