Bloquear experiências por medo de sofrer

Bloquear experiências por medo de sofrer é apenas outro meio de evitar. Dessa forma, é também uma maneira de alimentar a ansiedade que tanto tememos. Neste artigo, vamos expor estratégias boas e ruins de enfrentamento para a gestão das experiências, e do seu peso na forma de lembranças.
Bloquear experiências por medo de sofrer
Rocío García Garzón

Escrito e verificado por a psicóloga Rocío García Garzón.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Colocar barreiras e bloquear experiências é uma das estratégias mais comuns que usamos para evitar o mal-estar que determinadas experiências geram em nós. A mente humana moderna evoluiu, mais do que para nos fazer sentir bem, para nos ajudar a sobreviver aos perigos.

Há cem mil anos, as necessidades essenciais das pessoas eram a comida, o abrigo e a possibilidade de se reproduzir, mas é claro que nada disso tem muito sentido se estivermos mortos. Portanto, a prioridade do nosso cérebro era buscar aquilo que podia nos fazer mal e evitar sua aproximação.

Na psicologia, isso se chama reforço negativo. Trata-se de um fenômeno que explica por que evitar as consequências desagradáveis ou perigosas é um comportamento que se manteve em nosso repertório.

Mulher sem saber lidar com o seu interior

Nós evitamos constantemente o medo

Quem não arrisca não sofre nem perde, mas também não ganha. Assim, acabamos parados no tempo, nos conformamos e aprendemos a nos adaptar tentando evitar o inevitável, o medo.

Por exemplo, temos a tendência de bloquear experiências por medo de sofrer, ignorando a possibilidade de que esse medo que tanto tentamos esconder busque formas alternativas de se manifestar.

Isso não quer dizer que repudiamos o medo, pois ele é uma emoção básica que nos ajuda a identificar e responder diante de ameaças. Partimos do pressuposto de que, se quisermos viver uma vida plena, temos que aceitar o medo em nossa paleta de emoções.

Nesse sentido, um medo muito comum é o medo da dor; esse medo nos leva a evitar situações que provoquem dor. O que acontece é que a nossa mente nem sempre é boa em separar o que a nossa própria imaginação cria do que acontece na realidade.

Apesar disso, a boa notícia é que podemos melhorar nesse sentido através do treinamento cognitivo.

“Para as fronteiras de medos, passaporte de vontades”.
-Raquel Beck-

A ilusão de controle ao bloquear experiências

Russ Harris, em seu livro ‘A Armadilha da Felicidade’, explica, com base na Teoria da Aceitação e Compromisso, como tentamos controlar nossas emoções e a ilusão de controle na qual podemos cair pelo caminho. Os pensamentos, emoções e sensações físicas têm muito mais poder do que imaginamos.

Algumas pessoas tendem a bloquear experiências que provocam mal-estar porque isso gera lembranças dolorosas, criando uma boa dose de ansiedade a ser “desfrutada” pelo caminho. No entanto, essa solução age apenas como um band-aid, e não como uma forma de enfrentamento efetiva.

Pode nos ajudar em um determinado momento, assim como a negação, mas como estratégia sistemática e estável no tempo, é passível de sofrimento (sim, daquele sofrimento que pretendia ser evitado).

“O que olha para fora sonha, o que olha para dentro desperta”.
-Carl Gustav Jung-

Estratégias habituais de controle

Temos, por um lado, as estratégias de fuga, que nos levam a escapar ou nos resguardar de determinados eventos privados.

  • Resguardar ou escapar de situações ou atividades que poderiam nos causar pensamentos ou sentimentos desagradáveis. Por exemplo: abandonar uma reunião social com o objetivo de evitar sentimentos de ansiedade.
  • Buscar distração dos nossos pensamentos e sensações colocando a nossa atenção em outras coisas. Por exemplo: se estivermos entediados ou ansiosos, podemos tomar um sorvete ou sair para comprar roupas. Se estivermos preocupados com uma prova, podemos passar a tarde vendo televisão.
  • Desconectar ou dessensibilizar para tentar esquecer como nos sentimos e pensamos, quase sempre usando alguma medicação, drogas ou álcool.

Por outro lado, temos as estratégias de luta que supõem a luta contra os eventos privados e a tentativa de dominá-los.

  • Suprimir diretamente os sentimentos e pensamentos indesejados. Acontece quando expulsamos à força os pensamentos inoportunos que nos vêm à mente, ou os empurramos para o mais profundo de nós.
  • Discutir com nossos próprios pensamentos e tentar racionalizá-los.
  • Tentar controlar nossos pensamentos e sentimentos. Por exemplo: quando dizemos a nós mesmos “Anime-se!”.
  • Tentar obrigar a nós mesmos a nos sentir de outra forma. Por exemplo: quando culpamos ou criticamos a nós mesmos.

Um trabalho comum na psicoterapia é tomar consciência do uso dessas estratégias e buscar outras formas mais adequadas de lidar com as nossas emoções, pensamentos e sensações físicas.

“Há dores que matam, mas há dores mais cruéis, aquelas que deixam a nossa vida sem nos permitir senti-las”.
-Antonie L. Apollinarie Fée-

Mulher em paisagem urbana

A diferença entre impor limites e bloquear experiências

Em maior ou menor medida, todos nós utilizamos métodos de controle para gerir o mal-estar. O problema não é o seu uso, e sim o abuso ou mau uso.

Um exemplo disso ocorre quando usamos estes métodos em momentos nos quais eles não funcionam ou quando seu uso manipula, de forma errônea, nossa escala de prioridades.

Mas será que isso sempre acontece? Precisamos deixar claro que este grau de controle vai depender do tipo de experiência que vivemos em cada momento, e da importância que essa experiência tiver para nós.

Quando nossos pensamentos são menos intensos, conseguimos fazer uso de um maior controle do que quando eles são perturbadores. Da mesma forma, temos um maior controle quando tendemos a bloquear experiências que não são muito importantes para nós.

Impor limites saudáveis em nosso mundo interno é recomendável para melhorar a sua gestão. Neste sentido, é importantíssimo trabalhar o nosso autoconhecimento.

Além disso, um aspecto psicológico que pode nos ajudar a construir uma vida com sentido é aprender a experimentar o que a vida nos oferece sem avaliar e julgar constantemente, adotando uma postura de aceitação.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.