O que é a boa vida, de acordo com a ciência?
O que é a boa vida? É ser feliz? Envolve alcançar uma boa parte dos nossos objetivos e propósitos, ou talvez exija uma abordagem mais humilde e a valorização do mero fato de estarmos vivos? A filosofia busca há séculos uma resposta universal para essa pergunta. Para Aristóteles, por exemplo, é contemplação, sabedoria, viver de acordo com a razão.
Sócrates, por sua vez, insistia em algo muito mais simples: a boa vida é ser uma boa pessoa. Epicuro enfatizou a necessidade de ter experiências agradáveis – quanto mais, melhor. A verdade é que temos múltiplas perspectivas do campo da filosofia, porém… O que a psicologia nos diz? O que nos dizem os estudos científicos realizados a esse respeito?
Vivemos em um mundo habitado por mais de 7 bilhões de pessoas. O mais comum é que cada um de nós tenha uma opinião sobre o que é viver bem. Porém, é sempre interessante saber o que as fontes científicas e psicológicas indicam.
Às vezes, quanto mais nos concentramos em conseguir o que queremos e sonhamos, mais nos afastamos do que realmente precisamos.
O que é a boa vida de acordo com a psicologia?
A psicologia positiva passou décadas tentando esclarecer o que é uma vida boa. Figuras como Martin Seligman, Barbara Fredrickson, Mihály Csíkszentmihályi e Sonja Lyubomirsky contribuíram com inúmeras teorias, pesquisas e trabalhos sobre este tópico ao longo das suas carreiras.
Algo que estudos como os realizados na Universidade de Illinois nos revelam é que muitas vezes nosso conceito de bem-estar está intimamente ligado à nossa cultura. Ter uma existência plena está muitas vezes relacionado com o que vemos ao nosso redor e o que almejamos: uma casa, um bom trabalho, uma vida financeira confortável…
Porém, algo que Martin Seligman aponta é que muitas vezes assumimos valores que não se harmonizam muito com o autêntico bem-estar. Além disso, às vezes queremos coisas que não estão em sintonia com o que realmente precisamos. Por exemplo, alguém pode desejar ter mais dinheiro para fazer o que quer, mas, no entanto, carece de propósitos vitais, relações enriquecedoras, um bom autoconceito ou autoestima…
Saber o que é a boa vida pode ser mais complexo do que pensamos. No entanto, é interessante saber o que a psicologia nos diz sobre isso.
O modelo PERMA: felicidade e bem-estar ao seu alcance
O modelo PERMA foi descrito por Martin Seligman para aprofundar aqueles aspectos que podem nos dar uma qualidade de vida autêntica. Algo que o famoso professor da Universidade da Pensilvânia viu ao longo de sua carreira é que a psicologia era especialmente eficaz em oferecer recursos e estratégias para resolver problemas e tratar transtornos mentais.
No entanto, não havia chaves para ensinar as pessoas a “estar bem”, a trabalhar em seu próprio equilíbrio, bem-estar e felicidade. Foi então que Seligman projetou o modelo PERMA baseado em 5 fatores. São os seguintes:
- P- Emoções Positivas
As emoções de valência positiva são o canal para se conectar com a vida de uma forma intensa, positiva e enriquecedora. Isso significa suprimir ou deixar de lado as emoções negativas? De forma alguma; significa que devemos dar espaço a todas as emoções e sentimentos. No entanto, esses processos mais adversos devem ser transformados em estados mais funcionais.
“As pessoas felizes não apenas lidam melhor com a dor e tomam melhores decisões de saúde e segurança quando ameaçadas, mas as emoções positivas podem desfazer as emoções negativas.”
-Martin Seligman-
- E- Compromisso
Um compromisso é um propósito, uma meta, um objetivo (ou vários) que nos estimulam a nos levantarmos motivados todos os dias. Sentir-se envolvido em algo nos encoraja e nos impulsiona.
- R- Relacionamentos
Se nos perguntamos o que é a boa vida, não podemos ignorar um fato: as pessoas que amamos, que nos inspiram e fazem de cada momento um presente. A felicidade às vezes é uma amizade, um amor, o abraço dos nossos filhos…
- M- Significado e propósito
Lembremos o trabalho e as contribuições de Viktor Frankl: uma vida sem sentido não é vida. Portanto, vamos descobrir o que traz brilho, entusiasmo e propósito à nossa existência. Refletir sobre isso costuma mudar tudo.
- A- Realização (sucesso e sensação de realização)
Devemos ser capazes de apreciar e tomar consciência de muitas das coisas que conquistamos. Somos seres valiosos, capazes de transformar a realidade alcançando grandes objetivos. Saber valorizar o que fazemos e a autoeficácia também é fundamental.
A boa vida não é um estado, é um processo
O psicoterapeuta Carl Rogers explicou em seu livro Tornar-se Pessoa, de 1961, que a boa vida não é um resultado, não é uma meta que se deve alcançar e depois preservar como se fosse uma entidade mágica, como um Santo Graal. Na realidade, devemos pensar nisso mais como um processo de nos comprometermos a cada dia.
A felicidade às vezes vem e às vezes vai. No entanto, “estar bem” é um trabalho em que devemos investir múltiplos esforços e processos psicológicos.
Bem-estar é ter saúde psicológica
A Association for Psychological Science conduziu um estudo em 2009 para refletir sobre o que chamamos de boa vida. Na verdade, do ponto de vista psicológico, é muito difícil definir o que essa dimensão realmente é. Porque essa aspiração é integrada por vários estados e todos eles requerem saúde mental.
Os psicólogos Nansook Park e Christopher Peterson (Universidade de Michigan) observaram que uma vida boa requer mais emoções positivas do que negativas. Envolve saber como usar nossos talentos e forças em face de todas as adversidades. É também poder ter bons relacionamentos, sentir-se bem no trabalho e ter esperança para o futuro.
Todas essas dimensões desenham um quadro muito completo do que é se sentir bem. Infelizmente, como bem sabemos, não costuma ser fácil alcançar esse estado.
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- Rogers, C. R. (1961). On becoming a person. Boston, MA: Houghton Mifflin.
- Emmons, R. A., & McCullough, M. E. (2003). Counting blessings versus burdens: an experimental investigation of gratitude and subjective well-being in daily life. Journal of Personality and Social Psychology, 84(2), 377
- Inglehart, R., & Klingemann, H.-D. (2000). Genes, culture, democracy and happiness. Culture and Subjective Well-being. MIT Press, Cambridge
- Park et al. Achieving and Sustaining a Good Life. Perspectives on Psychological Science, 2009; 4 (4): 422 DOI: 10.1111/j.1745-6924.2009.01149.x