Cane Fu: a nova arte marcial para idosos

Cane Fu é uma nova técnica de autodefesa voltada para as pessoas idosas e suas capacidades e necessidades que, partindo das artes marciais e do uso de uma bengala, está trazendo tranquilidade à população mais velha.
Cane Fu: a nova arte marcial para idosos
Andrés Navarro Romance

Escrito e verificado por o psicólogo Andrés Navarro Romance.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O nome Cane Fu é, no mínimo, curioso. Quem entender um pouco de inglês conseguirá inferir seu significado, mas, no geral, todos nós estabelecemos uma conexão com o nome de artes marciais bem estabelecidas como o Kung Fu. Isso não é um equívoco, uma vez que as duas coisas estão intimamente ligadas.

Os maiores problemas que vêm com a idade envolvem a fragilidade e o desamparo crescentes diante do mundo . Com a perda natural de capacidades físicas, assim como dita a fisiologia humana, as habilidades como a força e a agilidade (essenciais em situação de defesa) são afetadas substancialmente.

Por isso, é esperado que, depois de uma certa idade, as pessoas se percebam mais indefesas do que antes e esta sensação influencia várias áreas da vida . A partir disso, toda uma infinidade de elementos desadaptativos podem trazer limitações rigorosas, como o medo de estar sozinho e ser atacado.

O que é o Cane Fu?

Nos últimos anos, diante da necessidade de promover mais recursos de defesa pessoal às pessoas mais velhas, foi desenvolvida uma disciplina marcial que, a partir das técnicas e abordagens de artes marciais estabelecidas, se baseia na utilização da bengala ( cane , em inglês) como uma arma de ataque e defesa .

Idosa com bengala

Esta nova corrente, originada e com maior difusão nos EUA, recebeu seu nome através dos meios de comunicação. De fato, o batizado aconteceu no alto da primeira página do jornal Wall Street Journal . O título do artigo não se referia a outra coisa que não a arte da autodefesa com bengalas, adaptada à população idosa.

Porém, para evitar mal entendidos, é preciso esclarecer que não se deve pensar nessa técnica de defesa pessoal como sendo exclusiva para pessoas mais velhas ; pelo contrário, o uso de uma bengala (ou de qualquer objeto de características semelhantes) no intuito de se proteger contra uma agressão e/ou atacar agressores é uma técnica antiga que conta com uma ampla utilização.

“Vocês, jovens, estão ouvindo um homem velho a quem os mais velhos também escutavam quando eram jovens.”
-Imperador Augusto-

A verdadeira novidade é que esse tipo de técnica marcial vem sendo adaptada à população idosa com o objetivo de se tornar um mecanismo de autodefesa geriátrico que pode ser ensinado, praticado e, sobretudo, que possui resultados efetivos.

Nos Estados Unidos já existem certificações próprias para instrutores de Cane Fu e toda uma rede de ensino dessa técnica que integra pessoas de todas as idades.

O desamparo das pessoas idosas

Em mais de um comunicado oficial (como o que foi emitido há poucos anos pelo governo dos EUA), a gravidade dessa questão é ressaltada:

  • Ao longo da última década, cerca de 93% de todos os crimes cometidos contra pessoas de idade avançada tiveram relação com roubo e assalto;
  • No que concerne a prevenção de delitos contra essa população, as medidas oficiais implementadas para a proteção dos idosos vêm obtendo pouco sucesso na prática;
  • Quando comparadas às estatísticas de outras faixas etárias, os crimes contra os mais velhos possuem menor incidência. Porém, em termos relativos, representam um grave problema por se tratar do grupo mais desprotegido;
  • A taxa de crimes violentos contra a população idosa aumentou cerca de 27% nos últimos 10 anos.

Diante de dados tão alarmantes, é prudente dizer que existe um interesse real e prático de que as pessoas de idade avançada disponham de estratégias próprias para a sua autodefesa.

As vantagens envolvidas, além da própria redução do roubo de bens e da agressão física, também englobam a área do bem-estar físico (uma vez que a prática dessa arte é uma forma de atividade física) e do bem-estar psicológico (através do aumento da autoconfiança e da redução do medo).

“O teste de um povo está no seu comportamento com os mais velhos. Amar as crianças é fácil. Porém, o carinho e o cuidado com os idosos, os incuráveis e os desamparados são o verdadeiro tesouro de uma cultura.”
-Abraham Joshua Heschel-

Idosa cobrindo o rosto

Dados interessantes sobre esta prática

O primeiro curso de certificação para instrutores de Cane Fu ocorreu há aproximadamente uma década, no verão de 2009, na América do Norte.

O aprendizado desta disciplina marcial traz ao aprendiz uma forte sensação de empoderamento e, como já foi comprovado, são muitas as pessoas idosas que nutrem um forte gosto por ela e a integram como parte da sua rotina.

As habilidades adquiridas através da aprendizagem desta disciplina podem chegar a salvar vidas e, em essência, podem ser adquiridas de modo simples e rápido. De modo geral, o Cane Fu é composto por exercícios isométricos e isotônicos com bengalas , alongamentos com bengala e autodefesa com a mesma ferramenta.

Em linhas gerais, a logística deste tipo de arte marcial não se diferencia muito dos movimentos e ações de mão-livre que são característicos de outras artes marciais; de fato, no ensino desta técnica, geralmente são incluídas transições entre exercícios similares, só que, agora, praticados alternadamente com bengalas.

Essa característica facilita a aproximação da disciplina por parte de jovens adultos e até mesmo menores de idade, que passam a deixar de enxergar a bengala como um símbolo de fraqueza para contemplá-la como uma forte arma de ataque e dissuasão .

“As pessoas mais velhas são perigosas, uma vez que não temem o futuro.”
-Peter Alexander Ustinov-

A indústria de bengalas, enquanto produto de apoio para caminhar, vem recebendo um novo impulso em alguns países devido ao tratamento e controle de qualidade cuidadosos que uma bengala, enquanto arma de defesa, deve receber. Tal cuidado é essencial para conservar o objeto em seu estado mais otimizado, evitando falhas no objetivo de defender os idosos de potenciais agressores que, muito provavelmente, serão mais jovens e mais fortes que os agredidos.

Após ler este artigo, desejamos que, possivelmente, o fato de ficar mais velho seja menos temível para todos e que isso seja aceito com a tranquilidade e o otimismo merecidos por todas as pessoas que lidam com a própria idade.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.