Carl Jung e como manter a calma quando a vida é estressante

A vida, como Carl Jung nos disse, é um paradoxo constante. Ela pode variar do sofrimento absoluto à alegria pura. Portanto, para lidar com esses altos e baixos, precisamos aceitar o caos inerente que define nossa existência. Mas como podemos fazer isso?
Carl Jung e como manter a calma quando a vida é estressante
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 01 maio, 2023

Wolfgang Pauli foi um dos pioneiros no estudo da física quântica. Ele ganhou o Prêmio Nobel por propor a teoria do princípio de exclusão e estabelecer os estudos sobre o neutrino. Poderíamos dizer que ele foi uma das mentes mais brilhantes do século 20 no campo da física, mas sua vida pessoal e emocional era um verdadeiro caos. Por esse motivo, em 1932, iniciou a terapia com Carl Jung.

Esse encontro, que começou por motivos clínicos, deu lugar a uma das amizades mais originais e produtivas do mundo da psicologia e da ciência. Arthur I. Miller, no livro Deciphering the Cosmic Number ( 2009), nos conta em detalhes sobre muitos desses encontros na mansão gótica de Jung às margens do Lago de Zurique.

Uma coisa pela qual Carl Jung era conhecido era justamente ajudar as pessoas a levarem a sério seu mundo interior. Porque não importa o quão brilhante alguém seja se apenas o desânimo habitar em seu universo interno. Seu objetivo era orientar seus pacientes e amigos a entenderem que todos podemos sair dos poços mais sombrios por meio de orientações muito específicas…

“A vida em si não tem regras. Esse é o seu mistério e sua lei desconhecida.

-Carl Jung-

Carl Jung e como manter a calma quando a vida é estressante
Carl Jung nos ensinou que devemos aceitar o caos da vida, mas sempre lembrando quem somos e quais são nossas essências.

Como manter a calma quando somos dominado pela angústia

Para investigar as razões pelas quais o prêmio Nobel Wolfgang Pauli pediu ajuda a Carl Jung, podemos consultar outro livro: Atom and Archetype: The Pauli/Jung Letters, 1932-1958. Neste trabalho é recolhida a troca de cartas entre ambas as figuras. Pauli passou por um período muito estressante que o levou a beber e a romper muitos de seus relacionamentos. Ele também sofria de pesadelos muito turbulentos.

Carl Jung não apenas o guiou para sair daquele poço de sofrimento e angústia, mas também um físico e um psicólogo forjaram uma aliança intelectual muito produtiva. Tanto que deu forma a teorias tão interessantes como o conceito de sincronicidade, o estudo de eventos acausais e coincidências significativas.

No entanto, neste caso, estamos interessados em saber como o pai da psicologia analítica orientou seus pacientes a permanecerem calmos em períodos turbulentos. Aqueles em que, por vezes, emerge o pior de nós. Estas são as chaves que devemos levar em consideração:

1. Aceite o caos como parte da vida

“Em todo caos há um cosmos, em toda desordem, uma ordem secreta.”

-Carl Jung-

Algumas de nossas maiores dificuldades como seres humanos são aceitar os problemas, a adversidade e o estresse vital. O próprio Jung observou certa vez que “para muitos de nós, inclusive eu, o caos é aterrorizante e paralisante”. Não é fácil supor que nem sempre temos controle sobre nosso futuro ou que amanhã terá o mesmo equilíbrio de hoje.

Vamos entender que o imprevisível e o caótico são ingredientes da própria existência. Resistir a essas flutuações só aumentará o estresse e a ansiedade. Confiemos que aqueles poços repentinos que aparecem em nosso caminho não passam de momentos pontuais, nuvens de tempestade que, mais cedo ou mais tarde, irão se dissipar.

Além disso, quando olharmos para trás e descobrirmos tudo o que superamos, encontraremos sentido em nossa própria existência. Há uma certa ordem no meio daquilo que nos parece, à primeira vista, caótico e desordenado.

2. Cuide da sua percepção ao interpretar cada evento

“As coisas dependem de como as vemos e não tanto de como elas são em si mesmas.”

-Carl Jung-

No livro Selected Letters of C.G. Jung, descobrimos a correspondência que o psiquiatra suíço mantinha com seus pacientes. Um deles perguntou-lhe, metaforicamente, como “atravessar o rio da vida “. Ao que Jung respondeu que, na realidade, não existe uma maneira correta de viver, as pessoas apenas vivem como podem. Com o que, em cada circunstância, nos traz o destino.

Agora, para manter a calma nos dias de angústia, recomendou prestar atenção na forma como interpretamos cada experiência. E é aqui que entra o verdadeiro problema. Porque muitos de nós navegamos nesse rio vital com áreas não curadas e reprimidas. Quando nos deixamos levar pela inércia dos nossos impulsos e da nossa sombra, a vida enche-se de maiores obstáculos. Nos afogamos nas águas do dia a dia…

Precisamos colocar luz em nossa sombra -como diria Jung-, para recuperar a confiança em nós mesmos e assim perceber as coisas como elas são e não através das lentes do medo.

3. Não se deixe levar, lembre-se de quem você quer ser

“Eu não sou o que aconteceu comigo, eu sou o que eu escolho ser.”

-Carl Jung-

Para manter a calma em dias de instabilidade e pressão infinita, olhemos para dentro e não tanto para o que nos rodeia. É lá onde residem todas as verdades, onde dormem nossas forças. Como Jung escreveu em uma de suas cartas, “se você quiser seguir seu caminho individual, lembre-se de que ele nunca é prescrito e que surge por si só quando você coloca um pé na frente do outro”.

A individuação é um conceito-chave em Jung; define a capacidade de construir uma psique forte e independente, descobrindo quem somos e sendo seres criativos. Este é outro objetivo que devemos trabalhar cada vez que damos mais um passo. Somos o que fazemos no nosso dia a dia, e não o que éramos no passado.

Tenhamos em mente que somos criaturas autoconscientes com grande potencial, que devemos lembrar das próprias essências para manter a calma quando tudo parece estar dando errado.

árvore representando como manter a calma
A imaginação ativa pode ser exercitada através da meditação, escrita, dança, música, etc.

4. Imaginação ativa para reduzir a ansiedade

«A criação de algo novo não é realizada pelo intelecto, mas pelo instinto lúdico que age por necessidade interior. A mente criativa brinca com os objetos que ama.

-Carl Gustav Jung-

Carl Jung apontou que a neurose desapareceria se desenvolvêssemos uma personalidade mais ampla e livre. Ficamos tão obcecados em nos encaixar, em buscar reputação e aceitação, que uma parte de nós acaba adoecendo. Precisamos dar oxigênio à mente, torná-la mais flexível, o que, por sua vez, nos permitirá ter perspectivas mais amplas.

Para isso, Jung cunhou o termo imaginação ativa para entrar em contato com um eu mais espontâneo, lúdico e acima de tudo criativo. Atividades como a arte em todas as suas formas, assim como a mediação, são práticas que o psiquiatra suíço costumava recomendar. Eles não apenas reduzem o estresse. Eles nos permitem descobrir novas tramas psicológicas de si mesmo.

Para concluir, se estamos passando por momentos dominados por desconforto e estresse, esses recursos de reflexão podem nos ser úteis. O legado de Carl Jung nunca sai de moda.


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