A codependência na família do viciado

Quando um membro da família tem um vício, todo o sistema é afetado. Porém, na tentativa de ajudar, alguns parentes acabam agravando a situação. Isso é o que acontece com a codependência.
A codependência na família do viciado
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O vício em substâncias psicoativas é um dos distúrbios psicológicos que mais geram sofrimento. Esse distúrbio crônico, que não admite cura, e sim reabilitação, atinge de forma integral a vida do viciado, causando estragos em sua vida financeira, suas relações sociais e seu estado psicológico. Além disso, as consequências da doença têm um impacto significativo nas pessoas próximas, muitas vezes levando à codependência na família do viciado.

Quando um membro do núcleo familiar sofre de dependência em substâncias, todo o sistema é alterado. Pais, mães, irmãos ou filhos são forçados a lidar com o transtorno do parente sem ter em suas mãos o poder de remediar a situação.

Com o passar dos anos, podem ser estabelecidas dinâmicas de relacionamento muito prejudiciais que, longe de ajudar, pioram a situação para todos os envolvidos. Portanto, é importante definir e prevenir esse tipo de codependência.

Jovem enfrentando vício

O que é a codependência na família do viciado?

Se uma pessoa querida sofre de um vício, é natural se preocupar com o seu bem-estar e tentar oferecer apoio e ajuda. O desinteresse e a separação emocional completa dessa pessoa seriam muito complicados e não ofereceriam benefícios.

É lógico que os familiares do dependente vão tentar falar com ele, compreendê-lo, incentivá-lo a buscar ajuda profissional e acompanhá-lo no processo de reabilitação. No entanto, em muitas ocasiões, o envolvimento é tão intenso que se torna prejudicial e disfuncional.

Assim, a codependência na família do viciado ocorre quando outra pessoa se envolve em excesso nos problemas da pessoa doente. Há uma identificação excessiva com o outro, uma fusão de identidades que leva o familiar a se preocupar obsessivamente com o viciado e concentrar nele toda a atenção e energia, descuidando de si mesmo. Algumas das principais características desse fenômeno são as seguintes:

  • A vida de um membro da família gira inteiramente em torno de resgatar, curar ou proteger o viciado.
  • Todas essas tentativas frustradas de ajuda geram uma intensa angústia emocional e dão lugar a uma relação prejudicial de decepção em relação à pessoa dependente.
  • A pessoa codependente nega que o viciado tenha um problema, justifica seu comportamento ou minimiza a sua gravidade.
  • Existe uma tendência de esconder o problema das outras pessoas. Dessa forma, a pessoa doente é encoberta e a possibilidade de compartilhar preocupações com outras pessoas ou de buscar ajuda é renegada.
  • O membro da família mantém uma dependência emocional em relação ao viciado. Dessa forma, ele se limita a reagir às suas ações, em vez de agir deliberadamente por conta própria.  Seu bem-estar depende inteiramente do bem-estar do outro.

Quais fatores influenciam o desenvolvimento da codependência?

Nem todos os membros da família de pessoas com dependência desenvolvem uma codependência. Geralmente, as pessoas que têm baixa autoestima e não administram bem suas emoções apresentam um risco maior.

Muitas vezes, o codependente se sente culpado pelo que acontece com a pessoa doente e sente necessidade de controlar seus comportamentos (além disso, ele acredita que isso está em suas mãos). Em geral, são pessoas que têm dificuldade em estabelecer limites em suas relações com os outros, pois veem esse ato como algo tão natural quanto uma traição ou uma falta de lealdade.

Pai com seu filho viciado

Esta situação é prejudicial para todos os envolvidos

Geralmente, a pessoa codependente não tem consciência do prejuízo causado pela sua postura. Ela sente que, ao se envolver, está ajudando o viciado e até promovendo a sua recuperação. No entanto, a realidade é totalmente oposta.

Quando o familiar nega ou minimiza a existência da doença ou quando assume a responsabilidade pelas consequências desta, ele impede o próprio dependente de assumir a responsabilidade pelos seus atos. Portanto, contribui para perpetuar o vício. Além disso, causa sérios danos emocionais a si mesmo ao carregar o peso de um problema que não lhe corresponde e ao negligenciar o seu próprio bem-estar.

Portanto, a melhor coisa que o familiar codependente pode fazer pelo viciado e por si mesmo é reconquistar o próprio lugar e permitir que o outro assuma o seu devido lugar. É importante parar de negar ou encobrir o vício, parar de se sentir responsável por isso e começar a estabelecer limites.

Não é possível resolver o vício de outra pessoa, pois o campo de ação de cada um se reduz a si mesmo. Assim, o mais saudável é estabelecer uma distinção e cuidar da própria saúde emocional.


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