Como o antidepressivo age no cérebro

Ainda que o efeito do antidepressivo no cérebro traga uma sensação de bem-estar em pouco tempo, a longo prazo ele não resolve o problema. Os comprimidos são só um apoio temporário no processo de superação da depressão.
Como o antidepressivo age no cérebro
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 28 janeiro, 2021

Um antidepressivo age no cérebro gerando mudanças fisiológicas que têm como consequência a melhora do humor. Essas mudanças são induzidas pela ação química do remédio e têm uma duração limitada. Elas também geram uma série de efeitos colaterais que ainda não foram completamente compreendidos em toda a sua extensão.

A depressão é quase uma epidemia no mundo. Os casos reportados aumentam ano após ano, e sabe-se que há muitos casos não diagnosticados. Ou seja, nem todos que sofrem desse transtorno vão ao médico. O que se sabe é que o consumo de medicamentos para a depressão vem aumentando a cada ano em todo o mundo. Por isso, é muito importante saber como ocorre a ação do antidepressivo no cérebro.

É importante dizer que esse medicamento não é o único caminho para tratar o problema. Um antidepressivo age no cérebro de forma a moderar os sintomas do transtorno, mas não os elimina. Dito de outra maneira, faz com que a doença passe a um estado latente, mas não acaba com ela. Por isso, há tratamentos exclusivamente focados no psicológico. Também existem intervenções alternativas, como as que são oferecidas pela psicanálise ou a meditação.

“O preço para sair da depressão é a humildade”
-Bert Hellinger-

A forma como o antidepressivo age no cérebro

Falar de antidepressivos é falar de uma ampla gama de medicamentos. Basicamente, temos os antidepressivos tricíclicos clássicos, os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) e os inibidores seletivos de recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRNS).

Como o antidepressivo age no cérebro

Vejamos como cada tipo funciona mais detalhadamente:

  • Tricíclicos clássicos: são os mais tradicionais e são compostos por um anel com sete elementos e um nitrogênio terminal com três elementos. Estimulam a produção de serotonina, mas não inibem sua recaptação. Têm muitos efeitos colaterais.
  • Inibidores seletivos de recaptação de serotonina: aumentam os níveis de serotonina e impedem que ela seja recaptada ou reabsorvida pelo organismo. Aparentemente são mais seguros, ainda que o Prozac, marca mais famosa desse tipo, tenha sido fortemente questionado por alguns cientistas.
  • Inibidores seletivos de recaptação de serotonina e noradrenalina: são considerados os mais eficazes. Têm a vantagem de não provocar um estado de sedação. No entanto, o efeito desse antidepressivo no cérebro pode causar tremores, alterações no apetite outros sintomas.

Segundo a maioria dos cientistas, os antidepressivos não geram dependência física, mas podem gerar uma dependência psicológica. São vários os estudos nos quais foi possível verificar um efeito muito nocivo desse tipo de remédio, particularmente quando são consumidos por mais de cinco anos.

Um psiquiatra responsável usa os remédios apenas como uma ajuda temporária, não como uma condição da qual o paciente deve depender para o resto da vida.

Outras formas de abordar a depressão

Ainda que um antidepressivo ajude a restaurar o equilíbrio do cérebro, gerando e mantendo uma relativa estabilidade de humor, ele não resolve completamente o problema central. Sim, é possível superar uma depressão, mas isso não pode ser conseguido apenas com remédios. O tratamento convencional para esse tipo de transtorno exige que a intervenção farmacológica seja feita juntamente à psicoterapia. São esses dois fatores que, em conjunto, oferecem uma saída para a situação.

O remédio é uma ajuda momentânea. Serve para moderar o sintomas e tornar o trabalho terapêutico possível. Os seres humanos não são só um corpo biológico, são também seres simbólicos.

Isso quer dizer que os neurotransmissores condicionam o nosso humor, mas a forma como nós interpretamos as experiências e damos sentido a elas também tem o seu papel. Nenhum remédio dá sentido para as nossas vidas. Isso só é possível mediante processos que permitam reinterpretar e construir novos significados.

Como o antidepressivo age no cérebro?

Abordagens alternativas

Se olharmos a partir de um ponto de vista psicanalítico, a depressão não é uma entidade clínica por si só. Ela teria, na verdade, relação com uma forma de se colocar diante da realidade. Jacques Lacan falou da depressão como uma manifestação de “covardia moral”. Seria o efeito de “ceder ao desejo”, ou seja, de não reafirmar seu ser. A pessoa não assume a responsabilidade plena sobre sua própria vida e suas ações. Ao não fazê-lo, ela se deprime.

A partir do ponto de vista das filosofias orientais, a depressão é o fruto do excesso de apego. A ênfase da vida está colocada em algo externo, na coisa da qual se depende. Essa dependência, por sua vez, conduz ao medo e à negação da transitoriedade. Esta é uma das possíveis explicações da depressão.

Alguns estudos indicam que as psicoterapias, a psicanálise e a meditação podem atingir efeitos semelhantes aos que o remédio fornece. A ação de um antidepressivo no cérebro é quase imediata, e também curta no tempo.

A psicoterapia requer um esforço maior por parte do paciente, e os resultados são mais lentos. No entanto, por outro lado, são mais persistentes, não têm efeitos colaterais e devolvem ao paciente o controle da sua vida ao tratar a raiz do problema, e não apenas os seus sintomas.


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  • Del Río, J. (2004). Fármacos antidepresivos y antimaníacos. Florez J (Director). Farmacología Humana. Masson, Barcelona.

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