Como aproveitar a vida quando tudo é mais caro

O aumento progressivo dos preços está nos sufocando. É possível encontrar a felicidade ou o simples prazer diário em meio a esse contexto tão mutável? Existem estratégias simples que podem nos ajudar. Descubra!
Como aproveitar a vida quando tudo é mais caro
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 27 outubro, 2022

A inflação não para de aumentar. Tudo sobe, mas os salários são os mesmos e o sustento de boa parte da sociedade é realmente um desafio, com a angústia que vem daí. Porque quando nossas necessidades permanecem as mesmas, mas os recursos que temos para supri-las diminuem gradativamente, surge o sentimento de ameaça e, portanto, a ansiedade.

Alimentos, combustíveis, roupas, serviços… O cenário atual nos fala não só do aumento constante dos preços, mas também da recessão econômica. Ainda estamos saindo do túnel de instabilidade em que a pandemia nos submeteu, para agora nos vermos diante de um novo horizonte de nuvens carregadas. Onde está a saúde mental em meio a esse contexto complexo?

É evidente que é muito difícil manter a calma e reduzir o ruído dos pensamentos negativos. A mente é traiçoeira e sempre tem o defeito de antecipar o pior, de atiçar o fogo da ansiedade. É possível ser feliz nessas circunstâncias? Embora cada pessoa lide com suas particularidades, algumas melhores e outras piores, a preocupação é global.

Vejamos algumas estratégias básicas para refletirmos e enfrentarmos melhor a nossa realidade.

“A riqueza não consiste em ter grandes posses, mas em ter poucas necessidades.”

-Epicteto-

Mulher preocupada com a neurobiologia da impulsividade
Em tempos de crise é necessário desenvolver uma mentalidade aberta, flexível e resiliente para estarmos atentos aos fatores que nos rodeiam, adaptarmo-nos a eles e vivermos o melhor que pudermos.

3 mentalidades para aproveitar a vida quando tudo está mais caro

Gostaríamos que o dinheiro não subordinasse nossa existência, mas a verdade é que precisamos dele para suprir nossas necessidades mais básicas. Essas que Abraham Maslow incluiu nos dois primeiros passos de sua famosa teoria. Para muitos, o aspecto econômico também define o status, assim como a própria integração no grupo social, levando o mesmo estilo de vida e adquirindo as mesmas coisas.

Um exemplo disso é alguém que, apesar de ter um salário médio ou baixo, investe boa parte de suas economias na aquisição de um celular de última linha. O dinheiro nos permite não apenas suprir aspectos essenciais, como alimentação ou moradia, mas também facilita a construção de uma certa identidade social. Agora, com nossa liberdade financeira limitada, muitos de nossos objetivos estão sendo reformulados.

Limitar os gastos com lazer, recursos materiais e até certos produtos alimentícios também afeta a saúde mental. Uma pesquisa da Universidade de Pisa destaca que nesses contextos de contenção e crise econômica, aumenta o aparecimento de depressão entre homens de meia-idade.

Tendo isso em mente, a pergunta a seguir pode parecer uma contradição e até uma ironia, mas como aproveitar a vida quando tudo está mais caro? Que tipo de abordagem mental devemos aplicar para lidar mais adequadamente com essa situação? Na verdade, devemos desenvolver três tipos de abordagens mentais. Nós os analisamos.

Apesar da inflação e da contenção econômica, não devemos abrir mão do prazer. Só que essas fontes de bem-estar devem, em muitos casos, ser reformuladas. Se nos concentrarmos nas coisas mais básicas e simples da vida, nos sentiremos melhor.

1. A mentalidade frugal: quando menos é mais

A mentalidade frugal define as pessoas que, além de economizar dinheiro, sabem investir seu tempo e cuidar de seus hábitos de vida. Muitos associam esse comportamento à mesquinhez. No entanto, essa visão está completamente errada. Porque o homem ou a mulher frugal são grandes otimizadores de seus próprios recursos e de seu tempo. De fato, se há um termo que os caracteriza, é simplicidade.

Vamos ver os pilares sobre os quais a frugalidade se sustenta:

  • Tem clareza sobre suas prioridades. Para aproveitar a vida quando tudo está mais caro, é preciso esclarecer o que é mais importante no nosso dia a dia. Há sempre despesas supérfluas que devemos prescindir. Poupar significa colocar em primeiro lugar o que é mais decisivo para o nosso bem-estar.
  • Tempo não é ouro, tempo é vida. É verdade que em tempos de crise somos por vezes obrigados a acrescentar mais horas em nossa jornada de trabalho. No entanto, às vezes, é melhor viver com o mínimo e aproveitar o tempo de qualidade com nossos entes queridos.
  • Vamos economizar e evitar nos endividar. Essa é possivelmente a estratégia mais relevante e a primeira que pensamos quando chegam os tempos difíceis.
  • Reciclar para evitar o consumo inútil. Porque não? Reciclar desde roupas até tecnologia nos permite não apenas economizar dinheiro. O planeta também agradece.

Às vezes, em vez de ficarmos obcecados com o que o futuro pode nos trazer, vale a pena dar um passo atrás e ficar no presente, no aqui e agora. Apreciar o que nos cerca e já temos pode nos dar felicidade.

2. A mentalidade de aceitação: adaptar-se para enfrentar melhor a realidade

A inflação mudou nossa realidade e não aceitá-la significa bater com a cabeça na parede da frustração. Grande parte da população tinha inúmeras metas e objetivos a cumprir quando a pandemia deu lugar à normalidade. No entanto, com a chegada da crise, muitas dessas ilusões se desvaneceram ou foram suspensas.

A mentalidade de aceitação nos permite navegar melhor pelas adversidades e incertezas. Assumir o que não pode ser mudado reduz desde o pensamento mágico clássico (“se eu quiser muito, tudo vai dar certo para mim”) até estados de negatividade. Assim, um estudo da Universidade de Varsóvia destaca que essa abordagem mental atua como um bom regulador emocional. Faz-nos sentir melhor.

família tentando aproveitar a vida quando tudo é mais caro
Há experiências que não custam dinheiro e que nos deixam felizes, como passar tempo com nossos entes queridos.

3. Mentalidade de gratidão: apreciar a simplicidade do que nos rodeia

Para aproveitar a vida quando tudo está mais caro, devemos treinar nossos olhos e nossos corações. O olhar para que saiba atender às realidades mais simples, significativas e belas que nos cercam. O coração para recuperar nossa capacidade de admiração e entusiasmo por tudo o que acontece e aparece em nosso dia a dia, por menor que seja.

Há experiências muito básicas que não custam dinheiro e que podem nos dar uma felicidade renovadora. Às vezes, quando nossa situação muda devido a problemas econômicos, nossas expectativas se tornam mais simples e até realistas. E que isso aconteça é bom. É baixar as vistas para apreciar o que temos por perto.

Portanto, a mentalidade de gratidão é o que nos permitirá desfrutar de momentos com as pessoas que amamos, até mesmo um passeio na praia ou a leitura de um livro.

Lembre-se, tempos difíceis não duram para sempre

Ao longo de nossa história como civilização, as crises têm sido um elemento comum. A vida é cíclica e há momentos de escuridão, momentos de brilho e momentos de equilíbrio e calma. Esses tempos difíceis, às vezes distópicos e dominados por preços altos, pandemias, ecos de guerras e grandes incertezas vão acabar em algum momento.

Não sabemos quando, é verdade, mas evitemos processar esses dias a partir do filtro da negatividade e do catastrófico. Vamos apreciando, aos poucos, o momento presente e tentando nos ajustar às circunstâncias que nos cercam. O apoio de quem amamos, lembrar de nossos significados vitais e não perder a esperança, é fundamental. Não hesitemos em pedir ajuda especializada se precisarmos.


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