Como avaliar o TEA em adultos

Você já pensou que poderia estar no TEA? Você suspeita que esse possa ser o caso de um parente ou pessoa próxima? Os dados nos dizem que as pessoas no TEA com alto funcionamento não são diagnosticadas. Se você quer saber como isso é avaliado em adultos, continue lendo!
Como avaliar o TEA em adultos
José Padilla

Escrito e verificado por o psicólogo José Padilla.

Última atualização: 14 janeiro, 2024

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um problema do neurodesenvolvimento cujas dificuldades se refletem na interação social, na comunicação, na presença de comportamentos estereotipados (rígidos e repetitivos), na resistência à mudança e nos interesses restritivos. A forma como se expressa varia de uma pessoa para outra, bem como do estágio em que se encontra.

A maioria das pessoas no TEA é diagnosticada durante a infância. No entanto, elas também podem ser diagnosticadas na idade adulta, embora isso seja mais difícil de identificar. O TEA está se tornando mais frequente, com a estimativa de que a sua prevalência seja de 1 em 68. Esse aumento de casos pode ser atribuído a um aumento da conscientização, um diagnóstico excessivo ou critérios diagnósticos excessivamente inclusivos.

Mulher autista cobrindo os ouvidos

Sintomas do transtorno do espectro autista

As pessoas no TEA têm dificuldade para se comunicar e interagir socialmente; além disso, geralmente têm interesses limitados e comportamentos repetitivos. Por outro lado, também têm dificuldades com a flexibilidade cognitiva e comportamental, bem como sensibilidade sensorial alterada, dificuldades de processamento sensorial e dificuldades de regulação emocional.

A seguir, vamos revisar os critérios que a APA estabeleceu para o seu diagnóstico.

A. Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em diversos contextos, manifestados pelos seguintes pontos, atualmente ou previamente (os exemplos são ilustrativos, mas não exaustivos):

  1. Os déficits na reciprocidade socioemocional variam, por exemplo, desde uma abordagem social anormal e uma falha no diálogo normal de duas vias, passando pelo declínio nos interesses, emoções ou afetos compartilhados, até o fracasso em iniciar ou responder a interações sociais.
  2. Os déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados na interação social variam, por exemplo, desde a comunicação verbal e não verbal mal integrada, passando por anormalidades no contato visual e linguagem corporal, ou deficiências na compreensão e uso de gestos, até uma total falta de expressão facial e de comunicação não-verbal.
  3. Os problemas no desenvolvimento, manutenção e compreensão das relações também variam. Manifestam-se desde dificuldades em ajustar o comportamento em diversos contextos sociais, passando por dificuldades em compartilhar jogos imaginativos ou fazer amigos, até a falta de interesse por outras pessoas.

B. Padrões restritivos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, que se manifestam em dois ou mais dos seguintes pontos:

  1. Movimentos e uso de objetos ou da fala de forma estereotipada ou repetitiva (por exemplo, estereotipias motoras simples, enfileiramento de brinquedos ou troca de lugar dos objetos, ecolalia, frases idiossincráticas).
  2. Insistência na monotonia, inflexibilidade excessiva das rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (por exemplo, grande angústia diante de pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de seguir o mesmo caminho ou de comer os mesmos alimentos todos os dias).
  3. Interesses muito restritos e fixos que são anormais em intensidade ou foco de interesse (por exemplo, forte apego ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverantes).
  4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum em aspectos sensoriais do ambiente (por exemplo, indiferença aparente à dor/temperatura, resposta adversa a sons ou texturas específicas, cheirar ou tatear objetos excessivamente, fascínio visual por luzes ou movimento).

C. Os sintomas devem estar presentes durante as primeiras fases do período de desenvolvimento (mas podem não se manifestar completamente até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas, ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas em momentos posteriores da vida).

D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no meio social, ocupacional ou em outras áreas importantes do funcionamento habitual.

E. Esses distúrbios não podem ser melhor explicados por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou atraso global do desenvolvimento. A deficiência intelectual e o transtorno do espectro autista coincidem com frequência; para fazer diagnósticos de comorbidade do transtorno do espectro autista e da deficiência intelectual, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral de desenvolvimento.

Avaliação do TEA em adultos

Existem questionários que as pessoas podem responder para decidir se devem consultar um profissional para uma avaliação. Entretanto, tenha cuidado porque essas ferramentas de autoavaliação não são adequadas para gerar um diagnóstico; portanto, não são confiáveis para confirmar esse transtorno.

Entre as ferramentas de autoavaliação mais comuns para o TEA estão as seguintes:

  • Autism Spectrum Quotient (AQ-10): esta é uma ferramenta de avaliação com 10 perguntas adaptada de um questionário muito mais longo chamado Quociente do Espectro do Autismo (AQ).
  • Adult Repetitive Behaviors Questionnaire-2 (RBQ-2A): este questionário de 20 itens se concentra em “comportamentos restritos e repetitivos”.
  • Adult Social Behavior Questionnaire (ASBQ): as 44 perguntas desta ferramenta se concentram em uma grande variedade de aspectos do autismo em adultos. Pode ser usada para avaliar outra pessoa, bem como para uma auto-avaliação.

Avaliações profissionais

Consultar um profissional da saúde é a única maneira de receber o diagnóstico de TEA. Ele será responsável por observar o comportamento do paciente, incluindo a forma como ele fala e interage. Ele também solicitará que se complete uma ou mais avaliações que são mais detalhadas do que as anteriores. Entre os testes que ele pode usar estão os seguintes:

  • Autism Diagnostic Observation Schedule, Second Edition (ADOS-2) Module 4: considera-se como o padrão ouro para o diagnóstico de autismo em pessoas de todas as idades. O Módulo 4 é usado especificamente para adultos e não se trata de um questionário. Em vez disso, o profissional que administra o teste observará como a pessoa responde a determinadas solicitações. Avalia-se tanto o que a pessoa diz quanto o seu comportamento.
  • Developmental, Dimensional, and Diagnostic Interview-Adult Version (3Di-Adult): concentra-se em como o paciente se comunica e interage em situações sociais. Além disso, procura interesses restritivos, tais como a obsessão por objetos específicos, bem como determinados comportamentos.
  • Social Responsiveness Scale (SRS): este teste não é usado para diagnosticar o autismo, mas sim para medir o quanto as habilidades sociais estão prejudicadas.
  • Autism Diagnostic Interview-Revised (ADI-R): este teste se concentra nas três principais áreas afetadas pelo autismo: linguagem e comunicação, interação social e comportamentos ou interesses repetitivos.
Homem fazendo terapia

O National Institute for Health and Care Excellence (2021) recomenda a avaliação para possível autismo quando uma pessoa tem um ou mais dos seguintes problemas:

  • Dificuldades persistentes na interação social.
  • Dificuldades persistentes na comunicação social.
  • Comportamentos estereotipados (rígidos e repetitivos), resistência à mudança ou interesses restritos.
  • Problemas para conseguir ou manter um emprego ou educação.
  • Dificuldade para iniciar ou manter relações sociais.
  • Contato anterior ou atual com serviços de saúde mental ou deficiência de aprendizagem.
  • Histórico de uma condição de neurodesenvolvimento (incluindo dificuldades de aprendizagem e transtorno de déficit de atenção com hiperatividade) ou um transtorno mental.

A avaliação do TEA em adultos sempre deve ser realizada sob a orientação de um profissional, pois o quadro pode apresentar semelhanças com outros transtornos que podem confundir as pessoas que não sejam especialistas.

Esses transtornos são descartados por meio do diagnóstico diferencial. O autismo pode ser mais facilmente confundido com o transtorno de comunicação social. As pessoas com este problema têm dificuldade para usar as palavras e a linguagem apropriadamente.

Tratamento do TEA em adultos

Algumas intervenções que podem ser usadas para tratar o TEA em adultos são as seguintes:

  • Terapia cognitivo-comportamental: durante as sessões, as pessoas aprendem sobre as conexões entre sentimentos, pensamentos e comportamentos. Isso pode ajudá-las a identificar os pensamentos e sentimentos que desencadeiam comportamentos negativos.
  • Treinamento de habilidades sociais: por meio dessas habilidades, o adulto com autismo pode aprender a interagir com os outros. A pessoa será capaz de aprender a manter uma conversa, entender o humor e ler sinais emocionais.
  • Terapia da fala: ensina aos adultos habilidades verbais que podem ajudá-los a se comunicar melhor.
  • Terapia ocupacional: concentra-se em ensinar à pessoa as habilidades fundamentais de que ela precisa para se desenvolver na sua vida diária.

Por fim, o TEA em adultos é um transtorno que também afeta o ambiente familiar. Portanto, é pertinente que a avaliação desse espectro inclua um diálogo com os familiares ou entes queridos do paciente: pai, mãe, companheira(o), filhos, amigos… Avaliar o seu núcleo de apoio é uma excelente forma de entender melhor como a pessoa se relaciona com os outros e como é a sua vida em sociedade.


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