Como o contato visual prepara o cérebro para se conectar

O contato visual é um ato muito poderoso que nos coloca em sintonia com outra pessoa. Sabíamos disso intuitivamente e agora um estudo nos mostra exatamente o que acontece em nosso cérebro quando olhamos alguém nos olhos pela primeira vez.
Como o contato visual prepara o cérebro para se conectar
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Todos nós conhecemos o poder do contato visual com outro ser humano. É algo muito especial que nos ajuda a transmitir muitas informações e que, por sua vez, nos diz muito sobre a outra pessoa. Além disso, quando fazemos contato visual com alguém, estamos compartilhando um estado afetivo e mental.

Bons amigos precisam apenas de um olhar para comunicar algo. Perder-se nos olhos da pessoa amada é entrar no seu mundo. O contato visual ativa o nosso cérebro social, nossas intenções e nossas emoções.

Agora, um novo estudo realizado com imagens de ressonância magnética revelou muitos dados sobre o que o contato visual ativa em nosso cérebro em tempo real e também depois. O primeiro dado é que, quando fazemos contato visual, sincronizamos o nosso piscar com o da outra pessoa. Mas há muito mais. Vejamos o que acontece.

O piscar no contato visual

Parece que o contato visual ativa o cérebro social e sincroniza os movimentos dos olhos e o piscar de duas pessoas que se olham nos olhos. Ou seja, há uma ativação neural que reorganiza a nossa resposta a outras pessoas.

Casal se olhando apaixonadamente

O contato visual é um dos mimetismos automáticos mais destacados. Além disso, é a forma de dizer ao outro que estamos prestando atenção nele. Promove a interação social e facilita a comunicação efetiva. O piscar dos olhos expressa uma carga cognitiva que projeta o estado interno das pessoas.

Até agora, os estudos com imagens cerebrais eram capazes de estudar a atividade cerebral de apenas uma pessoa por vez. Mas a equipe de Norihiro Sadato, do Instituto Nacional de Ciências Fisiológicas do Japão, começou a trabalhar com uma nova técnica conhecida como hiperscanning.

O estudo

Os resultados desta experiência nos mostram o que acontece no cérebro, em tempo real, quando duas pessoas se olham nos olhos pela primeira vez. O hiperscanning tornou possível observar os cérebros de duas pessoas ao mesmo tempo, em aparelhos de ressonância magnética funcional separados, e fazê-los se comunicarem visualmente. Neste estudo, a equipe de Sadato usou 32 pessoas, agrupadas em pares e colocadas em duas máquinas de RMF ao mesmo tempo.

O experimento não pôde ser realizado com as pessoas se olhando cara a cara porque a ressonância magnética exige que os indivíduos estejam dentro de uma máquina e permaneçam completamente imóveis.

Cada scanner também foi equipado com uma tela de vídeo e uma câmera. Os participantes não se conheciam, então o contato visual era completamente novo para todos eles. O piscar dos olhos foi usado como um marcador de sincronização entre os participantes.

O experimento mediu a atividade cerebral dos indivíduos em duas fases diferentes. Na primeira, foi mostrada uma tela em branco e, em seguida, mostrada a imagem do parceiro de experimento (que não conheciam), primeiro em tempo real e depois com um atraso de 20 segundos na imagem. Eles foram instruídos a se concentrar no que a outra pessoa estava pensando, qual seria a sua personalidade ou em como estava se sentindo.

Os resultados

Em primeiro lugar, foram detectadas diferenças significativas em termos de ativação cerebral do contato visual em tempo real e aquela produzida com segundos de atraso.

Durante o tempo real os participantes foram mais sensíveis ao piscar do outro indivíduo do que nas imagens fora do tempo. Houve também maior conectividade no sistema de espelho límbico e uma maior ativação no cerebelo.

O estudo mostrou que o contato visual prepara o cérebro social para desenvolver empatia e ativa as mesmas áreas do cérebro em ambas as pessoas ao mesmo tempo. A ativação do cerebelo ajuda a prever as consequências sensoriais das ações.

“As nossas descobertas sugerem que a interação perceptivo-motora ocorre durante o contato visual sem percepção consciente”.
– Norihiro Sadato –

Casal se olhando nos olhos

Contato visual: a incrível capacidade do nosso cérebro

O sistema límbico está associado à nossa capacidade de compartilhar e reconhecer emoções, o que é essencial para o surgimento da empatia. Parece haver uma forte influência mútua entre as piscadas de ambas as pessoas quando ocorre o contato visual.

Isso significa que o contato visual prepara o cérebro social para compartilhar os estados mentais de outras pessoas e é a base para uma comunicação social efetiva. Finalmente, este estudo mostrou que os nossos cérebros distinguem entre imagens em tempo real e imagens gravadas de forma absolutamente inconsciente, um dado que acreditamos que seja o mais significativo de todos.


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  • Takahiko K, Motofumi S, Eri N, Shuntaro O, Norihiro S.What Makes Eye Contact Special? Neural Substrates of On-Line Mutual Eye-Gaze: A Hyperscanning fMRI Study. eNeuro [Internet]. 2019 [consultadoo el 8 de julio de 2022]; 6(1). Disponible en:  https://doi.org/10.1523/ENEURO.0284-18.2019

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