Como falar com as crianças sobre as guerras? 7 dicas

Todos gostaríamos que este fosse um mundo livre de guerras e violência. No entanto, os dramas humanos acontecem e os nossos filhos não são alheios a esses sofrimentos. Como falar com eles sobre essas questões?
Como falar com as crianças sobre as guerras? 7 dicas
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Algo que devemos entender é que os pequenos não ficam alheios aos acontecimentos sociais ao seu redor. Eles absorvem o sofrimento que veem na televisão de diferentes maneiras. Por sua vez, os comentários e conversas que ouvem dos adultos criam ideias e imagens em suas mentes que, às vezes, podem ser traumáticas.

Não podemos subestimar a sua presença ou as interpretações que fazem do que veem e ouvem. Nesse mundo hiperconectado, eles podem acessar notícias e cenas violentas com um único clique, pegando um celular, tablet ou computador. E tudo isso independentemente da sua idade. Por essa razão, é importante estar junto deles, conversar com eles e perceber como estão processando essa situação atual.

Todos nós adoraríamos que este mundo fosse como John Lennon o descreveu em sua famosa canção Imagine. Um mundo que vive a vida em paz. Uma realidade sem sofrimento, sem ganância, sem fome, um mundo onde tudo é partilhado e onde há fraternidade entre as pessoas…

Infelizmente, no entanto, esse universo de harmonia e bondade ainda não é possível. Novamente, precisamos enfrentar cenários que nos parecem algo do passado, mas que acontecem a cada segundo. E nossos filhos, embora isso seja doloroso para nós, também fazem parte desse presente complexo e ameaçador.

A seguir, vamos analisar quais estratégias podemos seguir para conversar com eles sobre o assunto.

Garota com transtorno de comunicação social
É comum que as crianças experimentem sentimentos de incerteza, ansiedade e medo diante de temas como as guerras.

Dicas para saber como falar com as crianças sobre as guerras

Há um aspecto bastante óbvio. Não podemos esconder o que está acontecendo, nem colocar uma venda nos olhos dos nossos pequenos. Nesta situação atual tão cinzenta, é cada vez mais difícil controlar o conteúdo ao qual as crianças estão expostas. Às vezes, os noticiários transmitem imagens muito fortes, para as quais nem mesmo nós estamos preparados.

Ou seja, isso significa que tudo o que veem e ouvem pode ser processado por sua mente infantil e juvenil com grande ansiedade, medo e incerteza. Da mesma forma, o fato de verem nas imagens tantas crianças fugindo da guerra e dos bombardeios juntamente com as suas mães faz com que sintam muito mais empatia com essa realidade; que sintam uma identificação.

Além disso, as crianças também veem o medo e a dor nos rostos dos pais. Nas escolas, por sua vez, fala-se sobre o que está acontecendo, de tal forma que tudo isso pode criar muitos desafios, ameaças e também dúvidas em suas mentes. Em um contexto tão aterrorizante, é vital ter conversas abertas, sinceras e próximas com nossos pequenos. E também com os adolescentes.

Veremos quais recursos e estratégias podemos seguir para falar com as crianças sobre as guerras.

É importante saber adaptar a nossa fala. É preciso usar termos e expressões que elas conheçam para que tenham uma ideia real, mas não ameaçadora do que está acontecendo.

1. Compreender o que elas sabem e o que entendem sobre o que está acontecendo

Não importa se as crianças têm 4 ou 13 anos. A partir do momento em que são expostas às imagens de uma cena de guerra, juntamente com todo o drama que isso implica, a mente infantil cria um significado sobre o que está vendo. Portanto, é crucial fazer perguntas diretas sobre o que entendem do que está acontecendo.

Talvez as crianças possam acreditar que estamos em um contexto de guerra mundial e que o que estão vendo na televisão também pode acontecer com elas. Vamos tentar sondar e investigar para termos uma ideia clara sobre o que pensam e sobre a narrativa mental que possuem sobre os tempos atuais.

2. Adaptar a linguagem para nos fazer entender por elas

As crianças talvez possam não entender termos como “conflitos bélicos”, “corredores humanitários” ou “ameaça nuclear”.  Por isso, é essencial adaptar a nossa linguagem ao seu entendimento, usando palavras simples e não ameaçadoras. Não é necessário entrar em detalhes, basta dar uma ideia geral.

3. Validar as emoções: o que sentimos é normal

É muito comum encontrarmos crianças cada vez mais caladas. Não expressam o que sentem ou pensam porque não encontram as palavras certas para isso. E também porque esta situação pode ser nova para elas. Nestes casos, é muito útil recorrer à inteligência emocional, para capacitá-las na conscientização e expressão das emoções.

Uma pesquisa da Universidade da Pensilvânia destaca a importância de educar as crianças desde cedo nesta habilidade. Isso reverbera no seu bem-estar psicológico, bem como nas suas habilidades de comunicação.

Os pequenos precisam entender que o medo ou a ansiedade que sentem é completamente normal. Falar sobre o que sentem dentro deles permitirá que se sintam muito melhor.

É muito comum que as crianças se sintam ameaçadas e pensem que o que estão vendo na televisão pode acontecer com elas. É essencial tentarmos apagar e racionalizar os seus medos.

4. Garantir às crianças que elas ficarão bem

Ao falar com as crianças sobre as guerras, é essencial mitigar os medos. E isso implica racionalizar, tranquilizar e proteger. Não podemos mentir para elas, nem podemos dizer que essa guerra e sofrimento que estão vendo na TV é um filme. Assim, é necessário dizer a verdade, porém guiando a conversa para perspectivas positivas.

Por outro lado, também é importante insistir que há pessoas trabalhando para instaurar a paz. Vamos lembrá-las de que não estão em perigo, que estão em segurança. Além disso, também é aconselhável insistir que o mundo está se voltando para ajudar todas essas pessoas que estão sofrendo, que as crianças que estão vendo estão sendo protegidas.

5. Procurar sinais de ansiedade ou preocupação

Os pequenos podem mostrar ansiedade ou medo de várias maneiras. Por exemplo, eles podem ficar mais retraídos e menos comunicativos. Também pode ser que tenham pesadelos ou que os seus desenhos revelem muitos dos seus medos.

Por isso, vamos tentar ficar atentos às mudanças no seu comportamento para atuar o mais rápido possível.  Além disso, não devemos hesitar em procurar ajuda profissional, se necessário.

Criança segurando as pernas simbolizando como falar com as crianças sobre as guerras
Na medida do possível, é aconselhável limitar a exposição das crianças às imagens que veem na televisão.

6. Tentar restringir a sua exposição ao conteúdo de guerra

O ponto não é proteger as crianças a ponto de fazer com que acreditem que a guerra não é real. Afinal, ela é real e isso deve ser entendido pelas crianças. No entanto, é recomendável que não sejam expostas excessivamente às imagens que chegam até nós todos os dias. Assim, na medida do possível, devemos tentar evitar tais situações.

Da mesma forma, também devemos controlar o que conversamos diante delas com outros adultos. Às vezes, falamos com o nosso parceiro, amigos ou parentes sobre a situação na Ucrânia na frente das crianças, deixando transparecer o nosso medo ou preocupação. Isso pode ser contraproducente.

7. Dar estratégias para as crianças para que possam ajudar as pessoas afetadas pelo conflito

Ao falar com as crianças sobre as guerras, há uma estratégia particularmente oportuna. Podemos propor que sejam úteis nesta situação de conflito armado. Incutir o trabalho humanitário nas crianças permitirá que elas se sintam bem sabendo que estão ajudando aqueles que sofrem.

Esse sentimento permitirá que não apenas se sintam melhor, pois também estaremos educando com este valor de que o mundo tanto precisa: a humanidade. Afinal, devemos lembrar que as crianças são a esperança do futuro para que as guerras não tenham lugar nem sentido no dia de amanhã.


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