Como identificar modos de apego nos primeiros encontros

Nosso modo de apego diz muito sobre como nos relacionamos. Pode ser um bom indicador de como uma pessoa vai se comportar na intimidade, uma informação que é vital na hora de escolher um parceiro. Neste artigo, te damos informações para que você possa tirar suas próprias conclusões.
Como identificar modos de apego nos primeiros encontros
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 23 setembro, 2023

Identificar modos de apego nos primeiros encontros é uma vantagem, pois pode nos poupar muito sofrimento. Se você já lamentou por ter azar no amor, esta poderia ser a causa. Dessa forma, embora nem sempre seja possível “escolher” por quem se apaixonar, ter consciência de como uma pessoa se relaciona com você em um nível emocional é uma grande vantagem.

Se dizemos isso, é por uma razão muito específica. Ter um parceiro com estilo evitativo, por exemplo, está associado com uma incapacidade para compreender as emoções, tanto as próprias quanto as dos outros. São pessoas com sérios problemas em alcançar o que na linguagem coloquial se conhece como cumplicidade.

Da mesma forma, uma pesquisa da Universidade de Milano-Bicocca, na Itália, e publicada na revista Frontiers in Psychology, nos alerta para algo muito específico: ter um parceiro definido por um apego seguro ao nosso lado torna mais provável que o relacionamento tenha futuro e, além disso, um futuro em que nos sintamos bem.

Ao contrário, os vínculos inseguros se manifestam com dinâmicas agressivas.

A maneira como nos relacionamos com nossos cuidadores na infância define, em muitos casos, a maneira como nos relacionamos com nossos parceiros.

Casal sorrindo, pensando em como identificar estilos de apego
Encontrar um parceiro que se relacione de maneira segura e madura será fundamental para alcançar um relacionamento mais feliz.

Dicas para identificar modos de apego nos primeiros encontros

Antes de nos aprofundarmos em como identificar modos de apego em nossos primeiros encontros, é importante esclarecer o que é “apego”. Bem, os modos de apego definem como nos relacionamos com nossos pais na infância. Foi John Bowlby quem desenvolveu essa teoria e nos explicou que existem quatro tipologias: segura, ansiosa-ambivalente, desorganizada e evitativa.

Essas primeiras experiências têm um grande impacto na vida do ser humano. Haverá crianças que tiveram cuidadores que atenderam a todas as necessidades e souberam oferecer um carinho enriquecedor e seguro. Outras, por outro lado, tiveram que lidar com frieza emocional, abandono ou abuso.

Tudo o que foi vivido nesses primeiros anos de vida determina também a forma como as relações afetivas são construídas na vida adulta.

Os médicos Mario Mikulincer Phillip e R. Shaver explicam em seu livro Attachment in Adulthood (2016) que cerca de 35-40% das pessoas dizem se sentir inseguras em seus relacionamentos. Apenas 60-65% relatam ser capazes de desfrutar de relacionamentos seguros, amorosos e satisfatórios.

É evidente que uma infância feliz é o substrato para alcançar uma vida plena. Portanto, ser capaz de identificar o quanto antes os modos de apego nas pessoas que nos atraem garantiria, de certa forma, “acertar” em nossa busca por um parceiro. Vamos ver como.

Embora se estime que os modos de apego sejam estáveis ao longo do tempo, há pessoas que conseguem superar as lacunas e sofrimentos afetivos vivenciados com seus pais, para construir relacionamentos felizes e satisfatórios na vida adulta.

Pergunte como foi seu último relacionamento

Trazer à tona relacionamentos passados é comum em um primeiro encontro. É um bom tema de conversa com o qual podemos obter informações relevantes sobre a pessoa à nossa frente. Perguntar ao nosso crush, paquera ou aquela pessoa com quem demos match em um aplicativo como foi o último relacionamento é uma estratégia eficaz.

Graças a isso podemos deduzir o seguinte:

  • Apego seguro. Não terá nenhum problema em falar sobre esse assunto. Pessoas com um apego seguro geralmente têm relacionamentos mais longos e mais comprometidos. Além disso, não costumam falar negativamente sobre seus ex-parceiros.
  • Apego desorganizado. Vão dizer que preferem não falar sobre esse assunto, é uma história do passado que eles não querem dar importância. Se preocupam com o aqui e agora.
  • Apego ansioso. Pessoas com um estilo ansioso mostrarão alguma inquietação emocional. Elas se sentirão angustiadas ou até mesmo carregarão algum desconforto ou raiva quando falarem sobre seus relacionamentos passados. Seus relacionamentos são sempre dolorosos e até traumáticos.
  • Apego evitativo. Nesse caso, é comum que se fechem. Elas preferem que você fale ao invés delas.

Vamos perguntar como foi sua infância

Para identificar modos de apego em nossos “possíveis” parceiros é interessante observar a história de sua infância e a relação com suas figuras de referência. É verdade que este tema já pertence a um campo mais íntimo e delicado e podemos encontrar certas barreiras compreensíveis.

Nesses casos, é importante agir com cautela e, se preferirmos, falar primeiro sobre como foi nossa infância, para depois incentivar o outro.

  • Apego seguro. Provavelmente falará normalmente sobre sua infância, destacando experiências boas e experiências ruins. Ela será honesta e, em geral, sempre mostrará um bom relacionamento com seus pais.
  • Apego desorganizado. As pessoas definidas pelo apego desorganizado dirão que não se lembram bem da infância. Elas farão uma descrição dos principais momentos em que foram felizes, mas nunca chegam a se aprofundar, a falar em detalhes sobre seus pais.
  • Apego ansioso. Nesse caso, é comum homens e mulheres definidos por um apego ansioso falarem profundamente sobre sua infância. Vão fazê-lo, mas de forma confusa, misturando o passado com o presente, lamentando aspectos que perderam, dinâmicas complicadas em nível familiar que continuam vigentes.
  • Apego evitativo. As pessoas definidas por um apego evitativo podem fazer duas coisas: mentir ou se esquivar da pergunta.
Mulher pensando em como identificar estilos de apego
Normalmente, durante as primeiras semanas de um relacionamento com um novo parceiro afetivo, já podemos intuir padrões de apego.

Identificar modos de apego nas primeiras semanas de relacionamento

Pode ser que nos primeiros encontros aquela pessoa que nos atrai tente mostrar o melhor de si. Isso pode fazer com que partes de sua personalidade e atitude pareçam inventadas. No entanto, com o passar dos dias e semanas, já podemos deduzir modos de apego. Estas seriam algumas pistas:

  • Apego seguro. Estamos lidando com uma pessoa em quem podemos confiar, alguém que sabe responder às nossas emoções e necessidades. Além disso, elas não são dominadas por medos ou insegurança. O comportamento ciumento não aparece, elas são independentes, atenciosas, sabem cuidar de nós e de si mesmas sem serem dependentes.
  • Apego desorganizado. São pessoas imprevisíveis. Há momentos em que se revelam como pessoas carentes de afeto, muito carinhosas, amáveis e cúmplices. No entanto, depois de alguns dias surgem dúvidas e desconfianças. Elas precisam de provas do nosso compromisso.
  • Apego ansioso. Neste caso estaremos lidando com pessoas dominadas por muitos medos e orientadas para a construção de relações de dependência. Elas demonstram medo do abandono, medo de que algo aconteça com o parceiro, que sejam traídas, medo de que o que aconteceu em relacionamentos anteriores se repita com o parceiro atual. São pessoas muito inseguras.
  • Apego evitativo. Entre todos os estilos de apego que podemos encontrar em um relacionamento, este é um dos mais complexos. São pessoas que não se deixam amar, são esquivas e desconfiadas. É evidente que lhes falta amor, mas não sabem oferecê-lo nem recebê-lo.

Para terminar. Embora seja verdade que nunca conseguiremos identificar 100% o tipo de apego em um parceiro nos estágios iniciais, sempre há sinais, atitudes e comportamentos que podemos observar nas entrelinhas.

Por fim, um último comentário. Vamos ter em mente que nosso modo de apego pode mudar dependendo de diferentes variáveis ou até mesmo do contexto. Por exemplo, uma pessoa pode exibir um modo de apego seguro com sua família e um modo de apego ambivalente com seu parceiro ou amigos. Portanto, é  sobre o todo que recomendamos que você tire conclusões.


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