Como ser uma pessoa melhor no seu dia a dia
Sigmund Freud apontou que a ciência ainda não criou um medicamento tão poderoso quanto as palavras amáveis. Se você costuma se perguntar como pode ser uma pessoa melhor, saiba que a resposta nem sempre é fácil, mas há algo evidente: lutar por esse fim e propor esse objetivo a si mesmo tem um efeito transformador, tanto para quem está ao nosso redor quanto para nós mesmos.
Tradicionalmente, a filosofia se ocupou em definir essa competência existencial que, mais do que um propósito, poderíamos definir quase como uma aspiração. Todos nós esperamos ser um pouco melhores a cada dia. Muitas vezes dizemos a nós mesmos que toda experiência, positiva ou adversa, deve nos ajudar a melhorar como seres humanos.
Às vezes temos sucesso e outras vezes voltamos àquele ponto de partida onde não há progresso. Porém, como Søren Kierkegaard apontou, o segredo é não desistir, o segredo é continuar abrigando pensamentos positivos apesar do sofrimento e das contradições existenciais. Caminhar para o futuro é unir vontades para dar sempre um pouco mais de nós.
Conselhos para ser uma pessoa melhor
Quando se trata de nos aprofundarmos em como sermos pessoas melhores, podemos nos basear em diferentes áreas. A antropologia, a filosofia e a psicologia são as disciplinas que mais se preocupam em definir esta dimensão. Não estamos, portanto, diante do tópico clássico que interessa apenas à psicologia positiva. Na verdade, a ideia de nos aprimorarmos e sermos melhores é uma preocupação compartilhada por múltiplas disciplinas.
Por outro lado, há um detalhe que devemos considerar. Esse objetivo deve ser uma aspiração diária porque, na realidade, essa tarefa nunca será concluída. Sempre seremos criaturas imperfeitas e falíveis tentando ser melhores. Não haverá um dia em que não percebamos que há algo sobre nós que devemos desenvolver, corrigir ou mudar. Estar ciente disso já é uma conquista.
Ser melhor de acordo com a filosofia
Aristóteles destacou que todas as pessoas têm a capacidade de ser boas e virtuosas. No entanto, a gentileza é algo que se pratica e que pode se transformar em um hábito. Estas seriam algumas chaves:
- Ser prudente. A prudência está relacionada à capacidade de ser reflexivo, de meditar antes de tomar uma decisão, de aprender a tratar os outros com respeito e apreço.
- Temperança (como sinônimo de controle emocional). Saber dominar realidades internas como a ira, a raiva, o ego e a necessidade de poder são essenciais para ser alguém nobre.
- Justiça. Ser justo em tudo que fazemos, ter senso de respeito, do certo e do errado, é fundamental para sabermos ser pessoas melhores.
- Força. Todo homem ou mulher deve ter dentro de si uma dose adequada de valentia e de coragem para defender o que é certo.
O que a antropologia nos diz?
Oliver Scott Curry é antropólogo da Universidade de Oxford e membro do Instituto de Antropologia Cognitiva e Evolutiva. Em um trabalho publicado na revista Current Anthropology, ele aborda quais questões determinam como ser uma pessoa melhor. São dimensões que o Dr. Curry define como regras morais que foram estudadas em 60 países. Elas são as seguintes:
- Se preocupar com as pessoas que amamos. Ser capazes de aplicar comportamentos que os beneficiem e que garantam a sua felicidade é fundamental
- Ajudar a nossa comunidade.
- Saber apreciar os favores, e além disso, retribuir.
- Sermos pessoas corajosas, capazes de defender nossos valores.
- Respeitar as pessoas, sejam elas quem forem.
- Ser capaz de compartilhar nossos recursos.
- Não invejar o que os outros têm.
Como ser uma pessoa melhor segundo a psicologia?
Figuras como Abraham Maslow e Martin Seligman abordaram este assunto de uma forma interessante, prática e útil. Ser uma pessoa melhor nos obriga a fazer uma viagem por áreas como a inteligência emocional, a gratidão e aquele desejo de alcançar a autorrealização autêntica com a qual aspiramos dar o nosso melhor em cada circunstância.
Vamos conhecer as áreas em que devemos nos concentrar.
Dimensões nas quais trabalhar para ser melhor
- Autoconhecimento. O autoconhecimento é o limiar existencial e nosso principal objetivo em todos os momentos. Conhecer a nós mesmos, entrar em contato com nosso eu autêntico, é o leme que nos guiará em nossa jornada para sermos melhores.
- Praticar a aceitação. Aprenda a aceitar as pessoas como elas são, pois algo assim vai te poupar do sofrimento. Assuma que existem realidades na vida que não podem ser mudadas, mas sim aceitas.
- Controle as suas emoções e deixe de agir na defensiva diante do mundo. Ninguém é culpado pelo que acontece com você. Você é responsável por si mesmo e deve agir controlando as suas emoções. Você também deve ser capaz de responder ao que o preocupa ou o deixa calmo de uma forma inteligente.
- Perdoe, agradeça, reconheça. Saber perdoar (e perdoar a nós mesmos), aprender a ser grato pelo que nos rodeia e reconhecer o bem que nos rodeia é um ato que nos ajuda a ser melhores.
- Faça uso da empatia. Poucas dimensões melhoram a nossa convivência como aquela cola social que é a empatia.
- Seja compassivo e autocompassivo. A compaixão é uma dimensão de duplo vínculo, ela deve agir sobre nós e também sobre os outros. Graças a ela, respeitamos os outros e desenvolvemos comportamentos proativos que visam melhorar a vida das pessoas ao nosso redor. Da mesma forma, nada é tão importante para o bem-estar quanto o diálogo compassivo com nós mesmos.
Para concluir, não importa qual abordagem escolhermos, a filosófica, a antropológica ou a psicológica. Cada disciplina apoia dimensões comuns, portas que devemos cruzar para nos impregnarmos de virtudes e recursos adequados para sermos melhores. E, lembre-se, essa tarefa nunca termina…
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Aristóteles (2014) Ética a Nicómaco. Gredos.
- Aristóteles (2014) Acerca del alma. Gredos.
- Curry, O. S., Mullins, D. A., & Whitehouse, H. (2019). Is it good to cooperate? Testing the theory of morality-as-cooperation in 60 societies. Current Anthropology, 60(1), 47–69. https://www.journals.uchicago.edu/doi/10.1086/701478
- De Cremer, D., & Mulder, L. B. (2007). A passion for respect: On understanding the role of human needs and morality. Gruppe Interaktion Organisation Zeitschrift Für Angewandte Organisationspsychologie (GIO), 38(4), 439–449. https://pure.uvt.nl/ws/portalfiles/portal/927313/fulltext.pdf
- Maslow, Abraham (1973) El hombre autorrealizado: Hacia una psicología del ser. Gredos
- Peterson, C., & Seligman, M. (2004). Character strengths and virtues: A handbook and classification (Vol. 800). Oxford University Press. https://psycnet.apa.org/fulltext/2004-13277-000.pdf
- Smith, K. D., Smith, S. T., & Christopher, J. C. (2007). What defines the good person? Cross-cultural comparisons of experts’ models with lay prototypes. Journal of Cross-Cultural Psychology, 38(3), 333–360. https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0022022107300279
- Worthington, E. L., Jr, & van Zyl, L. E. (2021). The future of evidence-based temperance interventions. Frontiers in Psychology, 12, 707598. https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2021.707598/full
- Wang, Y., Ge, J., Zhang, H., Wang, H., & Xie, X. (2020). Altruistic behaviors relieve physical pain. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 117(2), 950–958. https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.1911861117