Como ter conversas que nos façam sentir melhor?

Há palavras que curam e diálogos que amenizam os medos, curam feridas e criam uma valiosa confiança entre as pessoas. Se você quiser saber o segredo destas conversas nutritivas, continue lendo esse artigo.
Como ter conversas que nos façam sentir melhor?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 10 março, 2024

Você costuma ter aquelas conversas que o recompõem completamente depois de um dia ruim? Existem pessoas com habilidades únicas na arte do diálogo e da empatia. São figuras capazes de proporcionar serenidade quando nosso mundo está confuso e quase de cabeça para baixo. É uma troca de ideias, emoções e pensamentos em que a escuta, o respeito e a harmonia fluem entre duas mentes.

Saber falar é a pedra angular em qualquer tipo de relacionamento, seja familiar, afetivo ou profissional. Graças a essa competência social, chegamos a acordos, fortalecemos nossos laços e deixamos uma marca enriquecedora nos outros. Nada é tão decisivo para os laços entre os seres humanos quanto ser bom em se comunicar.

Agora, existe um tipo de conversa que transcende qualquer outra. É aquele que busca curar, aliviar, reparar ou confortar. Não é necessário ser um terapeuta formado e registrado para saber realizar esse tipo de conversa. Todos devemos falar e ouvir em termos mais significativos e com o propósito claro de ajudar os outros -e vice-versa-.

Vamos ver como conseguir isso.

Vamos tentar ter conversas menos superficiais e conversas mais curativas.

Mentes conectadas durante conversas de cura
As conversas que curam começam a partir da conexão emocional entre duas pessoas.

As chaves para  ter conversas que curam

Uma conversa que cura é um diálogo profundo que tem por objetivo restabelecer a relação entre duas pessoas, ou conferir suporte emocional mútuo entre seus interlocutores. Para realizar tal ofício psicológico, devemos entender que não é uma mera troca de mensagens. É essencial dominar os componentes que compõem esta ferramenta.

Existem pessoas com excelentes habilidades de diálogo que acabam sendo péssimos conversadores curativos, por exemplo. E isso porque nessa modalidade de interlocução não vale ser espirituoso, brilhante ou alguém com grande oratória. Uma conversa que repara é aquela que parte da compaixão, é respeitosa e usa a escuta ativa.

Como disse o psicoterapeuta Carl Rogers, um bom diálogo é aquele que consegue mudar as pessoas para melhor. Gerar essa variação enriquecedora no outro requer trabalhar primeiro em nós mesmos. Estas são as chaves que nos permitirão realizá-la.

1. Ouça e seja humilde.

Michael Lehmann, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, publicou um estudo no Journal of Positive Psychology no qual destacou algo muito interessante. A humildade pode ser ativada no ser humano quando ele aprende a ouvir os outros.

A escuta ativa exige um coração e uma mente que saiba se conectar com as vulnerabilidades e complexidades de quem está diante de si, porque também reconhece as suas. Curar-se e reparar-se exige que o façamos livres de egoísmo, sabendo ouvir-nos de forma ativa e comprometida.

Lembremo-nos sempre: um inimigo voraz da comunicação e da compaixão é a arrogância. A humildade é um valor interpessoal que nos permitirá conectar uns com os outros para curar.

Um diálogo de cura não deve fazer uso de monólogos. É necessário aplicar uma reciprocidade adequada baseada no respeito, conexão emocional, fluxo de pensamentos e reflexões.

2. Seja um lugar “seguro” para a outra pessoa

O que é ser um lugar “seguro” para alguém? Esta é uma dimensão que todos devemos melhorar. Ser um espaço seguro para uma pessoa é cuidar de nossas palavras, expressões e atitudes para validar sua realidade emocional. É fazê-la ver que não vamos julgá-la ou criticá-la. É para mostrar a ela que nos comunicamos com sinceridade e que cada palavra que ela nos dirige será apreciada.

Podemos melhorar essa competência atendendo às seguintes chaves:

  • Escolha e cuide bem das suas palavras, tendo sempre em mente que tudo o que você expressa tem impacto.
  • Não tenha pressa em responder, deixe alguns segundos de silêncio e priorize o que a outra pessoa quer dizer.
  • Durante as conversas de cura, não faça julgamentos de valor ou perguntas. Valide o que seu interlocutor expressa.

3. Perguntas para despertar a consciência emocional

“Como se sente? Como você vivenciou esta situação?…». Perguntas que buscam despertar a consciência emocional facilitam a conexão da outra pessoa consigo mesma para desabafar. Muitas vezes caminhamos pela vida com infinitos nós e resistências interiores.

Por isso, conversar com um amigo e  que ele nos pergunte como estamos nos sentindo ou que emoções estamos sentindo naquele momento pode mudar tudo. Não estamos tentando fazer um interrogatório. Queremos que ele libere a tensão, que coloque em palavras o que está dentro dele.

4. Sem medo de se mostrar vulnerável

As conversas que curam são recíprocas e jogam em ambos os lados. Porque, embora o nosso desejo seja confortar o outro, também nos sentiremos curados e enriquecidos por este tipo de comunicação. Por isso, não devemos hesitar em mostrar nossa própria vulnerabilidade, em nos emocionar, em compartilhar os sentimentos um do outro e até mesmo em consolar um ao outro.

Somente quando nos permitimos ser vulneráveis, maximizamos comportamentos compassivos e curativos.

Mãe conversando com sua filha adolescente sobre as palestras de cura
Uma conversa cura e corrige quando ambas as pessoas se permitem ser vulneráveis.

5. Profundidade e reflexão

A comunicação superficial e insignificante, longe de fortalecer os laços, alimenta-os de insegurança. Não há conexão mental ou emocional naqueles que não se esforçam para aprofundar, naqueles que preferem terminar rapidamente e direcionar o diálogo para aspectos de pouca importância.

Por isso, as conversas curativas buscam profundidade, despertam a reflexão, abrem a mente, enxergam novos pontos de vista e até novos significados vitais. É filosofar, brincar com novas ideias, enriquecer uns aos outros com nossas perspectivas.

6. Encerramento e acordos

«O que podemos fazer a partir de agora para que tudo corra melhor? O que você precisa de mim nessas circunstâncias? Como posso te ajudar? Que objetivos você tem? Gostaria de voltar a falar mais tarde…?».

Os bons diálogos e, principalmente, os que curam e confortam, não hesitem em recapitular e fechar bem aquela conversa. Desta forma, reforçamos muito mais a interação e lembramos a outra pessoa que, se ela precisar de nós, estaremos lá.

Toda conversa saudável e curativa é um exercício de dar e receber perfeitamente equilibrado. Colocar em prática essa forma de comunicação de vez em quando com as pessoas que amamos será tão útil quanto gratificante. Vamos tentar?


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