O que há por trás do complexo de mártir?

Neste artigo, falamos sobre aquelas pessoas que sentem prazer ao se colocarem na posição de vítimas, fazendo dos seus sacrifícios um estilo de vida.
O que há por trás do complexo de mártir?
María Vélez

Escrito e verificado por a psicóloga María Vélez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Existem pessoas que colocam os outros à frente de si mesmas. Elas podem até pensar que as experiências das outras pessoas são mais importantes do que as suas, mas acabam adotando o papel de vítimas. Em outras palavras, são as que mais sofrem, e de maneira muito intensa. Essa forma de experimentar a vida é o que a psicologia chama de complexo de mártir.

A psicologia entende que adotar essa atitude é algo praticamente voluntário. Isso acontece porque, de certa forma, o sofrimento e o sentimento de perseguição alimentam determinadas necessidades psicológicas. É comum as pessoas justificarem o complexo mártir sob a desculpa de amor, dever ou sacrifício.

Curiosamente, a busca por sofrimento também leva o mártir a se sentir um pouco melhor consigo mesmo. Na sua maneira de ver o mundo, atribuir pena a si mesmo é um ato de bondade, porque evita outra pessoa ou a torna mais valiosa. No entanto, é um padrão autodestrutivo, pois o faz ignorar suas próprias necessidades e encontrar e perpetuar situações que causam angústia.

Mulher sofrendo com complexo de mártir

Como uma pessoa com complexo de mártir se comporta?

Para identificar alguém que pode ter esse complexo, é preciso observar vários comportamentos, pensamentos e valores. Entre eles:

  • Eles se consideram boas pessoas, heróis ou santos. Além disso, veem os outros como pessoas egoístas ou insensíveis, que não valorizam o esforço dos demais.
  • Tendem a exagerar seu nível de sofrimento para promover sua imagem. Também buscam a atenção e o reconhecimento daqueles que os ouvem.
  • Tendem a ter baixa autoestima. Isso se reflete no fato de que costumam dizer que são se consideram dignos ou merecedores de amor e tendem a subestimar a sua personalidade.
  • Têm dificuldade em dizer não e estabelecer limites. Isso os leva a assumir mais “favores”, tarefas ou a cair em relacionamentos abusivos. Além disso, existem alguns mártires que, curiosamente, acabam se tornando manipuladores. Eles se aproveitam da situação da vítima para fazer chantagem emocional e conseguir o que querem dela.
  • Não têm estratégias para resolver seus problemas e, mesmo que os resolvam em algum momento, sempre haverá novos para lamentar.
  • Costumam procurar maneiras de demonstrar sua bondade e boas intenções, enquanto criam situações nas quais o outro parece ser uma pessoa “má”.
  • Muitas vezes ficam decepcionados ao ver a reação dos outros quando fazem algo por eles. Embora não esperem algo em troca, geralmente não ficam felizes com a forma como reagem, pois, no fundo, esperam admiração pelo seu comportamento.

Como se relacionar com essas pessoas?

Relacionar-se com uma pessoa que tem um complexo mártir não é uma tarefa fácil. Isso acontece porque ela fala constantemente sobre as suas dificuldades, e isso pode nos afetar significativamente.

Além disso, ela pode tentar fazer com que você se sinta endividado quando a ajuda. Portanto, para lidar com esse tipo de pessoa, você deve seguir três estratégias simples:

  • Não aceite favores ou outros comportamentos a seu favor que ela possa entender como sacrifícios. Quanto mais você recebe de uma pessoa martirizada, maior a probabilidade de ela ficar decepcionada com você, causando possíveis conflitos no futuro. No entanto, não se trata de rejeitar tudo, mas de avaliar quando é realmente necessário e tentar levar a pessoa à sua própria autossuficiência.
  • Não contribua para a conversa quando ela falar sobre seus sentimentos de pesar e vitimização. Tente não cair em compaixão ou reforçar a sua angústia. Tente fazer comentários que destaquem apenas resultados positivos.
  • Converse. Se essa pessoa é importante para você, tente conversar, explicando que o comportamento dela não faz você se sentir bem e não é benéfico para ela. Em um primeiro momento, a reação dela será defensiva, mas se você falar com calma, apreciar seu esforço e oferecer soluções, poderá ajudá-la.
Mãe e filha conversando

E quando você tem complexo de mártir?

Mais difícil do que tratar alguém com complexo mártir é perceber e reconhecer que você mesmo o tem. Se você suspeita de que age assim, avalie seu comportamento nos seguintes aspectos:

  • A reação das pessoas quando você faz algo por elas o incomoda. Você acha que os outros não reagem como “deveriam”.
  • Você costuma dizer “sim” quando, na verdade, quer dizer “não”.
  • Você inventa desculpas quando se oferece para algo que não pode fazer.
  • Quando você diz “não”, se preocupa que outras pessoas possam substituí-lo ou ser mais valorizadas do que você.
  • Você oferece ajuda rapidamente sem avaliar cuidadosamente as suas opções.
  • Você sente que costuma colocar as necessidades dos outros antes das suas.

O que fazer para mudar a mentalidade do complexo de mártir?

Primeiro, você deve perceber e reconhecer que algo está acontecendo, pois este é o passo mais importante para a mudança. Então, você precisa procurar outras maneiras de agir e entender que elas não farão de você uma pessoa ruim.

Ser aceito ou amado não é algo determinado pelo que você faz, mas por quem você é. Buscar agradar e atender às necessidades de todos é um fardo mental que não leva a lugar algum.

Encontre maneiras diferentes de interagir nos seus relacionamentos. Assuma um papel diferente. Talvez seja hora de tomar a iniciativa, tomar as suas próprias decisões e começar a cuidar de si mesmo se até agora você viveu sua vida em função dos outros.

Nesse processo de mudança, é fundamental considerar se essa é uma maneira equilibrada de se relacionar. Além disso, você deve pensar se está se colocando acima, abaixo ou ao lado do outro.

Acima de tudo, assuma suas responsabilidades e respeite a liberdade dos outros. É hora de assumir seus erros e entender que cada pessoa reage e entende a vida de uma maneira. Assim, a sua não pode depender deles.

Por fim, converse com outras pessoas sobre o seu processo de mudança. Certamente elas entenderão, e podem até ajudar a torná-lo mais fácil e suportável. No entanto, seja paciente. Há pessoas que talvez tenham se aproveitado dessa situação ou que simplesmente precisem de mais tempo para se adaptar à sua nova maneira de agir.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.