Conexão entre física quântica e espiritualidade, segundo Dalai Lama

Conexão entre física quântica e espiritualidade, segundo Dalai Lama
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A conexão entre física quântica e espiritualidade é algo evidente para Dalai Lama. Segundo ele, todos os átomos do nosso corpo incluem parte dessa antiga tela que formava o Universo no passado.

Somos pó de estrelas e estamos conectados biologicamente a qualquer ser com vida. Somos seres de energia invisível que vibra, entidades unidas a tudo o que existe…

Se existe algo que todos nós sabemos é que ciência e espiritualidade não são exatamente conhecidas por conciliar seus princípios.

Assim, enquanto na Idade Média e no Renascimento era muito perigoso fazer progressos no campo científico em um contexto dominado pela classe eclesiástica (um exemplo desse caso é a triste história de Giordano Bruno), na atualidade as abordagens mais espirituais vêm sentindo há anos essa visão crítica e cética proveniente do mundo científico.

Agora, dizer que essas duas áreas ou universos tradicionalmente antagônicos da nossa sociedade conseguiram chegar a um acordo em algo é se arriscar demais. No entanto, algumas posturas foram aproximadas para despertar ideias que, sem dúvida, podem nos levar a refletir.

A filosofia budista é uma perspectiva capaz de estreitar laços com uma área tão complexa quanto fascinante da ciência: estamos falando da mecânica quântica.

Essa primeira aproximação aconteceu em 2015, em Nova Deli, na Índia. Dalai Lama esteve presente em uma conferência de dois dias sobre física quântica e filosofia Madhyamaka na qual, junto a uma série de importantes físicos e cientistas de diversas áreas, explorou uma grande variedade de temas a fim de descobrir pontos em comum. Eixos que se complementam e que, de algum modo, enriquecem ainda mais o conhecimento humano.

“Quanto eu tinha 19 ou 20 anos, desenvolvi uma grande curiosidade pela ciência. Na China, durante os anos 1954 e 1955, conheci Mao Tsé-Tung. Certa vez, ele me elogiou por ter uma mente científica e acrescentou que a religião era um veneno, esperando talvez que isso atraísse alguém que tinha uma mente científica.

No entanto, há mais de 30 anos, comecei uma série de diálogos centrados na cosmologia, na neurobiologia, na física, incluindo a física quântica, e na psicologia… Acredito que o budismo contribua muito com todos esses conhecimentos”.

-Dalai Lama-

Dalai Lama

Física quântica e espiritualidade: o que Dalai Lama nos diz?

As teorias que estabelecem uma conexão entre física quântica e espiritualidade não são novas, nem têm como referência apenas Dalai Lama.

Temos ao nosso alcance, por exemplo, livros como Ciência e Espiritualidade: uma integração quântica (sem tradução no Brasil) de Amit Goswami, professor aposentado de Física Teórica da Universidade de Oregon, nos EUA, e pioneiro de um novo paradigma que busca estabelecer as bases de uma ciência da consciência.

Ao mesmo tempo, também temos Fritjof Capra, renomado físico austríaco pesquisador de física subatômica. Esse cientista é conhecido por seu trabalho O Tao da Física (1975), no qual iniciou uma pequena abertura do mundo acadêmico ao mundo espiritual.

Não nos enganamos, portanto, ao dizer que está em curso uma clara aproximação entre a comunidade física e a filosofia budista.

De fato, físicos como Raja Ramanna, que faleceu há alguns anos, mais conhecido por seu papel no desenvolvimento nuclear da Índia, ficou interessado em seus últimos dias pelos textos do filósofo Nagarjuna para descobrir algo fantástico: muitos dos enunciados do fundador da escola Madhyamaka do budismo tangenciavam alguns princípios da física quântica.

Vamos analisar esses pontos em comum, esses princípios dos quais Dalai Lama falou em sua conferência em 2015, na Índia.

O que é a física quântica?

  • O termo “quântica” vem de “quantum”, que é a menor unidade que compõe a luz. Assim, o que a mecânica quântica busca, acima de tudo, é poder entender a fenomenologia do átomo e de todas as partículas elementares que o constituem.
  • Estamos perante uma ciência que teve início por volta do século XX e na qual nomes como Max Planck estabeleceram grande parte das teorias que temos à nossa disposição atualmente.
  • Trata-se de uma disciplina tão impressionante quanto complexa que se propõe a definir e entender aquilo que não se vê, aquilo que não se pode medir e todo o indeterminismo inscrito nas partículas que compõem a nossa realidade.
  • Desse modo, algo que descobriu é que se pudéssemos ver um átomo em um microscópio, o que veríamos é um pequeno furacão. Um vórtice no qual orbitam os quarks e os fótons.

Se nos aproximássemos um pouco mais, descobriríamos algo ainda mais impressionante: um vazio. Porque os átomos não têm estrutura física, porque são feitos, na verdade, de energia invisível, não de matéria tangível.

Essa ideia, a de que somos energia, é um dos pilares que estabelecem a conexão entre física quântica e espiritualidade. E foi sobre isso que Dalai Lama falou.

Física quântica e espiritualidade

Uma consciência que vai além do físico

Hoje em dia, podemos encontrar em quase qualquer livraria uma série de livros com o termo “quântico”: “comparação quântica”, “mente quântica”, “psicologia quântica”, “cura quântica”, etc.

É como se esse micromundo misterioso orquestrasse de repente grande parte de nossas atividades diárias. No entanto, a conexão entre física quântica e espiritualidade continua sendo uma das mais relevantes devido aos princípios estabelecidos por Dalai Lama durante sua conferência na Índia.

  • A física quântica demonstra que, muito além de tudo o que é tangível e material, há energia. O budismo sempre defendeu essa ideia e essa necessidade, a de transcender o físico para dar maior importância à nossa consciência. Afinal de contas, é essa impressão psíquica que dá sentido e forma à própria realidade.
  • Somos o que pensamos, e é o próprio pensamento que projeta o que está ao nosso redor.

Uma mente criadora

  • Amit Goswami, o professor de física na Universidade de Oregon já citado, afirma que o comportamento das micropartículas muda dependendo do que o observador faz. Quando um observador olha, aparece um tipo de onda. Quando o pesquisador não age, não há mudanças.

Tudo isso demonstra como os átomos são sensíveis a qualquer coisa que fazemos. O budismo sempre se referiu a esse mesmo aspecto: nossas emoções e pensamentos nos definem e definem a realidade ao nosso redor.

Conexão universal

Em cada um de nossos átomos reside parte desse pó de estrelas do qual o próprio universo se originou. De algum modo, assim como disse Dalai Lama, todos nós estamos conectados e fazemos parte de uma mesma essência.

Imaginar essa conexão pode nos ajudar a entender a importância de fazer o bem, porque tudo que fazemos reverberaria no Universo e seria devolvido a nós.

Para concluir, a conexão entre física quântica e espiritualidade nos leva a enxergar com outra perspectiva essa área da ciência. Talvez seja uma perspectiva mais sugestiva e, embora não seja aceitável para as mentes mais ortodoxas e rigorosas, merece a nossa atenção.

“Quando pensamos na possível conexão entre física quântica e espiritualidade, podemos ver que a mente não seria mais esse intruso acidental no reino da matéria, mas que se elevaria à classificação de uma entidade criadora e governadora do reino da matéria”.
-R. C. Henry, O Universo Mental


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