A criança interior e a técnica da fotografia
Dizem que dentro de cada um de nós existe uma criança interior. Todo ser humano que é hoje um adulto foi, evidentemente, uma criança. E como qualquer criança, nasceu com uma carga genética determinada à qual foi somada a influência do ambiente para formar quem é hoje em dia.
O ambiente é importante porque influencia de maneira substancial a criança, que começa desde cedo a aprender a partir do entorno que a rodeia. Dessa forma, a técnica da fotografia pode nos ajudar quando esse aprendizado inicial não foi dos melhores.
O apego é um vínculo afetivo intenso, duradouro, de caráter singular, que se desenvolve e se consolida entre dois ou mais indivíduos por meio das suas interações recíprocas, e cujo objetivo imediato é a busca e manutenção da proximidade em momentos de ameaça, já que proporciona segurança, consolo e proteção. Dessa forma, a maioria das crianças estabelece um apego seguro.
No entanto, não são todos os pequenos que têm esse sucesso. Toda criança precisa de alguém que traga segurança, confiança e, evidentemente, os recursos necessários para sobreviver – alimentação, higiene e refúgio.
Se alguém não recebe isso no começo da vida, é possível que desenvolva algumas carências que acabam ultrapassando a infância e se projetando na vida adulta.
Esses vazios ficam gravados na parte mais profunda da pessoa: seu inconsciente. Como consequência, quando são adultas, desenvolvem padrões de comportamento com outras pessoas ou sentem certas emoções de forma recorrente sem um motivo que podem identificar de forma consciente.
Por isso, saber como foi a nossa infância e que necessidades não foram satisfeitas de forma adequada é algo imprescindível para conhecer a nós mesmos e saber o que precisamos trabalhar.
A técnica da fotografia
A técnica da fotografia para curar a criança interior tem o objetivo de nos ensinar a dar a nós mesmos o afeto de que nós precisamos. É uma estratégia emocional que desperta no paciente memórias, sentimentos e sensações que muitas vezes vêm sendo reprimidas há anos ou décadas.
Com a técnica da fotografia, o terapeuta instiga o paciente a falar com a criança que há dentro de si. A fotografia serve, nesse sentido, para que seja mais fácil para o paciente desenvolver essa comunicação, que tem um caráter simbólico.
A técnica da fotografia pode se desenvolver de várias formas. Cada terapeuta deve propor um jogo a partir da sua própria criatividade que se adapte ao paciente que está diante de si.
Haverá pacientes com características de pensamento mais racionais ou mesmo que fujam um pouco das emoções, e com esses será mais difícil colocar a técnica em prática.
Uma vez que o paciente tiver a fotografia de quando era criança em mãos, o terapeuta pedirá a ele que a observe durante alguns minutos sem nenhum tipo de julgamento, só tentando se conectar com essa parte infantil que ainda vive dentro dele.
Quando o paciente alcança essa conexão, o terapeuta o direciona para conseguir efetuar uma comunicação sincera e afetiva com a criança. Pode, por exemplo, perguntar: “O que essa criança sente quando seus pais não estão disponíveis para ela?” ou “Do que essa criança está precisando?”.
A princípio, são realizadas perguntas destinadas a esclarecer os sentimentos da criança que, em grande medida, refletem as emoções que o adulto experimenta no momento atual.
O paciente poderia, portanto, responder: “A criança se sente sozinha e vazia”, “Ela está se sentindo insegura e nervosa, espera que sua mãe chegue logo e a abrace”.
Quando essas perguntas já tiverem sido feitas, a ideia é que o paciente ajude a criança. Ou seja, que ele ajude a si mesmo. Para isso, o terapeuta pode perguntar ao paciente: “O que você vai dar para essa criança a partir de agora?”, “Você acha que vale a pena persistir nessa relação amorosa que cada dia desvaloriza mais uma criança que já sofreu com isso?”, “Como você pode fazer para ajudar a criança a sair daí e alcançar um sentimento de segurança?”.
Dessa forma, o paciente vai se dando conta de que a criança, mesmo já sendo adulta, continuava buscando segurança no exterior. Tentava preencher suas carências e vazios infantis com bebidas alcoólicas, relacionamentos abusivos ou o vício no trabalho.
O paciente tem que compreender que a segurança não está do lado de fora como acontecia quando era uma criança, mas sim que essa tão desejada segurança está em seu próprio afeto direcionado a si mesmo.
Se o paciente começa a acalmar a criança, a lhe dar amor incondicional, então começará a curar a sua criança interior.
O que acontece depois de curar a criança interior?
A técnica da fotografia não é nada mais do que uma estratégia psicológica baseada nas emoções e em experiências que pode ser empregada na terapia. É um meio para chegar a um fim, e não um fim em si mesmo.
Para conseguir curar a criança interior, é necessário que você mantenha todo o amor, afeto e atenção que prometeu dar a si mesmo no seu dia a dia. Para isso, você pode, por exemplo, anotar algumas frases atrás da fotografia.
Você pode escrever, por exemplo, “Não deixarei que te tratem assim de novo, eu vou cuidar de você”.
Essas frases não devem apenas serem deixadas lá, elas devem criar um compromisso e assim gerar um comportamento. Para isso, as técnicas comportamentais são ferramentas valiosas.
Uma vez que o paciente cura a sua criança interior, começa a viver uma vida mais livre e plena. Torna-se capaz de se apoiar em pilares do seu interior ao invés de buscar segurança no entorno, no ambiente ou nos outros. Começa a abraçar a si mesmo, a gostar de si mesmo de forma incondicional.
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- Cadarso, V. Abraza a tu niño interior. Editorial Palmyra