Definição e características do idealismo

O idealismo filosófico é definido como uma teoria que busca explicar o conhecimento que temos do mundo a partir de ideias. Convidamos você a conhecer mais sobre essa corrente.
Definição e características do idealismo

Última atualização: 10 setembro, 2024

Em termos gerais, o idealismo filosófico baseia-se na tese de que o mundo constitui uma representação mental das ideias dos sujeitos. Porém, essa concepção é muito ampla e, ao longo da história, foi abordada de diferentes maneiras através de pensamentos diversos.

René Descartes é considerado o pai dessa doutrina, mas podemos encontrar vestígios em tempos mais remotos. Contudo, é importante destacar que essa ideologia se consolidou durante os séculos XVII e XVIII. Muitos até recusaram o termo até a época de Immanuel Kant.

O que é o idealismo?

É uma teoria que toma como ponto de partida o sujeito cognoscente e suas ideias em relação ao mundo exterior. O objetivo que persegue é responder às questões: Como podemos conhecer as coisas que nos rodeiam? Como o ser humano sabe? Nesse sentido, estamos diante de um idealismo gnoseológico responsável por refletir sobre o conhecimento e suas possibilidades.

Outra característica importante a destacar dessa doutrina é a consequência que emerge do seu ponto de partida. Se o indivíduo é considerado o primeiro elemento na construção do conhecimento, então o que se afirma sobre o mundo externo é uma representação subjetiva.

Como resultado, é um pensamento desconfiado e cauteloso, não só em relação à realidade externa, mas também contra tudo o que se afirma real e verdadeiro. Assim, essa atitude de desconfiança também põe em causa as ideias e os conteúdos mentais do sujeito.

Origem e história do idealismo

O início dessa corrente costuma situar-se nos tempos modernos, tendo René Descartes como seu precursor. Contudo, é possível traçar as origens dessa concepção filosófica até Platão e sua teoria das ideias. Segundo esse intelectual grego, existem dois mundos: um sensível e outro inteligível.

O mundo sensível é caracterizado pela constante evolução e corrupção das coisas. No mundo inteligível está a verdade e a realidade que causam as coisas sensíveis. Isso questionou a experiência sensível como base do conhecimento. Pelo contrário, as ideias passaram a representar o insumo para a construção do conhecimento. Consequentemente, a filosofia de Platão é considerada idealista.

Idealismo moderno

Essa forma de pensar constitui a teoria predominante da filosofia moderna. Descartes inaugura-a, colocando no centro do pensamento o sujeito portador da razão e da consciência. Consequentemente, ele considera que a única fonte segura de conhecimento é o “eu”. Dessa forma, conhecemos o mundo que nos rodeia porque está em relação ao sujeito.

Idealismo alemão

Na Alemanha, essa corrente filosófica representou um ressurgimento e uma novidade face ao que se pensava nos anos anteriores. Quem abriu as portas para essa teoria foi Immanuel Kant, autor que inspirou outros filósofos como Johann Fichte, Friedrich Schelling e Friedrich Hegel.

A novidade mais radical de Kant foi realizar uma síntese entre empirismo e racionalismo. Para isso, criou um sistema filosófico que reunia três dos problemas mais prementes da filosofia: conhecimento, ética e estética.

Dessa forma, ele expõe os princípios fundamentais do conhecimento em sua grande obra Crítica da Razão Pura (1781). Da mesma forma, em sua Crítica da Razão Prática (1788) ele traz para o centro da discussão a importância da ação voltada ao dever.

Principais características

A filosofia idealista é caracterizada pelo lugar predominante que dá à mente, à consciência ou às ideias para definir e explicar a realidade material. Ao longo dos anos, essa teoria foi formulada de várias maneiras. No entanto, apresenta as seguintes características essenciais:

  • Ênfase no sujeito e em sua consciência: essa corrente sustenta que a realidade não é independente da mente do sujeito cognoscente. Assim, a subjetividade é a construtora do mundo externo.
  • Primazia das ideias: o centro da sua atenção é como as coisas são para o sujeito. Isso significa que suas ideias são ouvidas. Nesse sentido, pode-se afirmar que o “eu” funda as coisas como suas ideias.
  • Racionalidade humana: enfatiza a razão humana. Não se trata de uma racionalidade abstrata, e sim de uma razão que é uma qualidade específica do ser humano. Por essa razão, os filósofos idealistas iniciam a sua reflexão a partir do “eu”.
  • Aspecto ontológico: o ser do sujeito e das coisas baseia-se no pensamento e, portanto, nas ideias. Destaca-se, assim, o aspecto ontológico da corrente idealista, uma vez que o ser se identifica com o pensamento.
  • Aspecto teológico: a maioria dos idealistas não consegue deixar de basear a sua filosofia em Deus e, portanto, na religião. Essa virada teológica permite ao filósofo não abandonar o aspecto divino, além de fundar a partir dele o mundo externo.
  • Divisão entre sujeito e objeto: é superada pelo idealismo absoluto de Hegel, que considera que sua filosofia unifica ambos os aspectos. Porém, essa oposição entre subjetividade e objetividade surge graças à análise filosófica que estuda, por um lado, como o sujeito conhece e, por outro lado, reflete sobre a forma como apreende a realidade ou a exterioridade.

Filósofos idealistas

A maioria dos filósofos que contribuíram para esse modo de pensamento eram modernos, pois sua reflexão estava voltada para o sujeito que conhece e como realiza tal operação mental. Foi assim que muitos desses intelectuais tomaram as ideias como ponto de partida.

Platão (427 a.C. – 347 a.C.)

Como dissemos, Platão pode ser considerado um idealista porque coloca o mundo das ideias no plano inteligível. Elas têm um estatuto ontológico de realidade, ou seja, são reais. Isso pode causar confusão com o realismo. Porém, não se pode negar a importância das ideias como essência das coisas que nos rodeiam. Daí sua teoria idealista.

René Descartes (1596–1650)

O problema filosófico de Descartes é a incerteza do conhecimento e seu objetivo é construir uma filosofia certa e segura. Para isso, parte da dúvida como método e coloca entre parênteses todo o conhecimento sobre o mundo, inclusive a própria realidade.

Isso o leva a encontrar sua primeira certeza indubitável: o pensamento subjetivo. Em sua frase “Penso, logo existo” estabelece-se a primazia do sujeito e de seu pensamento e, com ela, a importância das ideias a serem conhecidas.

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716)

A filosofia de Leibniz resumiu muitos anos de reflexão, especialmente aquela iniciada por Descartes e continuada pelos seus sucessores. Nesse aspecto, esse intelectual propôs que o mundo é composto por substâncias simples e indivisíveis chamadas mônadas. Elas são o componente fundamental das coisas. Sua teoria idealista pode ser traçada na atividade das mônadas, uma vez que delas vêm as ideias.

George Berkeley (1685–1753)

Embora Berkeley não se reconheça como idealista, a sua adesão a esse sistema é indubitável. E é porque nega completamente a matéria e considera as qualidades dos objetos completamente subjetivas. Ou seja, são ideias e não substâncias materiais. Com base nisso, as coisas que nos rodeiam são, inteiramente, representações subjetivas.

Emanuel Kant (1724-1804)

O idealismo transcendental que Kant mantém considera que o sujeito tem limites quando se trata de conhecer. Então, só podemos ter conhecimento de fenômenos, como coisas que afetam a sensibilidade.

Isso implica que existem coisas inacessíveis à razão humana. Estas são os númenos ou coisas em si. Kant estabelece o espaço e o tempo como as formas puras de sensibilidade que, juntamente com as categorias, produzem conhecimento.

Johann Gottlieb Fichte (1762-1814)

Parte do pensamento idealista proposto por Kant. Na verdade, esse filósofo alemão afirma que ninguém tinha compreendido o precursor dessa teoria até ele chegar. Assim, Fichte alega que o “eu” está originando e fundando o “não-eu”, ou também a objetividade. Dessa forma, a única forma de superar esse dualismo entre sujeito e objeto ou entre “eu” e “não-eu” é através da síntese que o conhecimento efetua.

Frederico Hegel (1770-1831)

O idealismo absoluto de Hegel representou o ápice da doutrina. Em sua obra Fenomenologia do Espírito (1807), expõe as etapas pelas quais a consciência deve passar para alcançar o conhecimento absoluto. O autor procurou construir um sistema filosófico científico e sistemático que unisse o sujeito ao objeto.

A construção do mundo baseada no idealismo

A corrente filosófica idealista nos convida a pensar na relação entre a mente e a realidade, uma vez que essa doutrina sustenta que o mundo externo é uma construção e representação subjetiva. Tal ideologia teve muitos defensores e, portanto, variações ao longo da história.

Desde os seus primórdios que remontam à Grécia Antiga com a teoria das ideias de Platão, até à Modernidade com os grandes filósofos idealistas, estamos perante um pensamento que evidencia o carácter ativo dos sujeitos no conhecimento.


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