Como detectar os primeiros sinais de autismo na infância
Detectar os primeiros sinais de autismo na infância é essencial para fornecer às crianças as ferramentas necessárias para seu desenvolvimento emocional, social e comunicativo. No entanto, em alguns casos, sinais como evitar contato, dificuldade para balbuciar e apontar passam despercebidos.
Para saber se uma criança tem transtorno do espectro autista (TEA), é preciso prestar atenção a esses tipos de detalhes, por menores que pareçam. A Dra. Ana Isabel Sanz, psiquiatra e psicoterapeuta que dirige o Instituto Psiquiátrico Ipsias, compartilhou conosco mais indicadores que alertam pais e cuidadores.
Sinais de autismo nos estágios iniciais do desenvolvimento infantil
A Clínica Mayo explica que o TEA é uma condição neurológica que afeta o desenvolvimento do cérebro e a maneira como as pessoas se socializam, causando problemas de interação e comunicação na sociedade. Segundo o Dr. Sanz, crianças com essa condição geralmente apresentam os seguintes indicadores comuns:
1. Antes do primeiro ano
Durante os primeiros meses de vida, diferentemente dos bebês neurotípicos (cujo desenvolvimento neurológico é típico ou padrão), os bebês com autismo podem não interagir com o ambiente.
Sanz acrescenta que antes de um ano de idade, “eles podem não responder ao seu nome, mostrar pouco interesse em interagir com as pessoas e evitar contato visual”. Se os pais perceberem que seu filho está um pouco desconectado dos outros, é fundamental consultar um pediatra imediatamente.
2. Entre 12 e 24 meses
À medida que os bebês crescem e chegam ao primeiro e segundo anos de vida, eles começam a adquirir novas habilidades de comunicação e socialização. No caso de crianças autistas, elas têm dificuldade em balbuciar palavras naturalmente, apontar para objetos que chamam sua atenção ou tentar cumprimentar os pais.
3. Após 24 meses
À medida que a criança passa dos 2 anos de idade, os marcos do desenvolvimento devem se tornar mais evidentes. No entanto, crianças com autismo podem ter desenvolvimento de linguagem limitado e usar poucas palavras para se comunicar.
O Dr. Sanz observa que elas também podem ter dificuldade em imitar ações ou sons e podem reagir exageradamente a certos estímulos (como ruídos altos, luzes fortes ou certos cheiros).
Da mesma forma, “no comportamento, crianças mais novas podem apresentar movimentos peculiares e repetitivos que não condizem com o contexto”, como balançar, girar ou bater as mãos.
“Qualquer atraso significativo na linguagem, falta de sorriso social e ausência de contato visual entre o bebê e as pessoas ao seu redor são indicações suficientes para procurar orientação médica.”
Sinais de autismo em estágios posteriores da primeira infância
Segundo a especialista e em consonância com informações da Academia Americana de Pediatria, durante o crescimento os sinais do autismo são mais evidentes, principalmente em áreas como linguagem, compreensão e regulação emocional. Vejamos os seguintes sinais que auxiliam no diagnóstico após a primeira infância:
- Explosões emocionais: agressividade e dificuldade em controlar as emoções são comuns em crianças autistas, especialmente durante situações que envolvem mudanças inesperadas ou frustração.
- Comportamentos peculiares: “Geralmente há uma rigidez perceptível, uma necessidade de seguir rotinas específicas e dificuldade em lidar com qualquer mudança ou fator imprevisto.” Mudanças inesperadas, por menores que sejam, podem causar grande desconforto.
- Na compreensão: crianças e adolescentes com autismo geralmente têm dificuldade em entender humor, ironia e significados figurativos. Por isso, piadas, metáforas ou duplo sentido são confusos para eles, pois tendem a interpretar tudo literalmente.
- Na fala: crianças com autismo tendem a ter ecolalia, que é a repetição de sons ou palavras que ouvem, em vez de usar a linguagem espontaneamente. E elas mostram dificuldades em manter uma conversa, “exceto sobre temas muito específicos que lhes interessam”, ressalta Sanz.
O autismo é uma doença ou um traço de personalidade?
“Não é um traço de personalidade em nenhum caso”, diz o Dr. Sanz, explicando que é um conjunto muito amplo de variações no funcionamento do sistema nervoso que modificam “com gravidade variável” a interação social, a regulação emocional e a expressão comportamental.
A origem desse espectro variado de manifestações sociais, emocionais e comportamentais é produzida por uma alteração no processo normal de desenvolvimento e estruturação dos tecidos e conexões estabelecidas no sistema nervoso.
Essa é uma área do conhecimento ainda incipiente, mas já há fatos concretos que mostram como o cérebro autista segue um processo de proliferação celular e organização de conexões neuronais diferente daquele dos cérebros ditos “neurotípicos” ou não autistas.
“Aos poucos, avança-se na compreensão das influências genéticas que possivelmente também são moduladas por fatores ambientais, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, explica o profissional.
O papel dos pediatras e educadores na detecção precoce do autismo
Pediatras e professores desempenham um papel fundamental na detecção do autismo na infância, permitindo uma intervenção precoce e eficaz. A psiquiatra Ana Isabel Sanz explica que durante as consultas regulares de puericultura, os pediatras “utilizam instrumentos de triagem específicos, como questionários e escalas de desenvolvimento, para avaliar áreas-chave como linguagem, interação social e comportamento”.
Se após a avaliação com o pediatra for constatado que a criança apresenta traços autistas, o paciente pode ser encaminhado a um especialista para uma avaliação mais específica.
Ela acrescenta que “psiquiatras, neurologistas pediátricos, psicólogos e fonoaudiólogos podem conduzir avaliações detalhadas e desenvolver um plano de intervenção individualizado”. Isso serve para confirmar o diagnóstico e fornecer opções de tratamento.
No campo educacional, os professores também podem identificar comportamentos indicativos de autismo e comunicar suas preocupações às famílias. É fundamental que essa conversa seja sensível e respeitosa, “dando exemplos concretos dos comportamentos observados”, para alertar os pais e trabalhar em equipe pelo bem-estar do menor, esclarece a profissional.
A intervenção deve ser o mais precoce possível, pois “é um fator fundamental para alcançar um desenvolvimento psicoemocional, familiar, social e laboral satisfatório no futuro”. No entanto, o Dr. Sanz alerta que a coordenação entre profissionais de saúde, educação e assistência social continua sendo um desafio.
A detecção precoce do autismo pode mudar a vida das crianças
Identificar os sinais do autismo durante a primeira infância proporciona acesso a abordagens eficazes que melhoram a comunicação, a adaptação e a qualidade de vida das crianças e suas famílias; e isso é essencial para ajudar crianças com essa condição.
Além disso, é importante lembrar que um diagnóstico não é um prognóstico. O caminho é pavimentado com a orientação de especialistas, o comprometimento da família e o apoio e a empatia das pessoas ao seu redor. Você identificou algum desses sinais em seu filho ou em algum jovem membro da família? Não hesite em procurar informações e ajuda; não há razão para trilhar esse caminho sozinho, muito menos com medo.
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