3 diferenças entre a abordagem idiográfica e nomotética da personalidade
A idiográfica e a nomotética são duas perspectivas diferentes que coexistem no estudo da personalidade. Embora o objetivo de ambas seja descrever esse constructo, há diferenças essenciais; conhecendo-as é possível ter uma ideia mais precisa do que implica estudar esta variável. A seguir, ensinaremos as diferenças entre a abordagem idiográfica e nomotética da personalidade.
Se fizermos uma pequena pesquisa, descobriremos que existem muitas definições de personalidade e que variam de acordo com a teoria. Mas, em geral, concordam que se trata de um conjunto de qualidades que condicionam o comportamento em determinadas circunstâncias.
Por exemplo, é comum falar de uma personalidade “explosiva” quando alguém reage impulsivamente à menor provocação. Seguindo essa linha, entre as características que compõem a personalidade estão os pensamentos, as emoções, as atitudes e as formas de agir.
Estudar a personalidade é complexo, pois é um constructo que se configura a partir de diversos fatores. Além disso, cada autor tem uma visão diferente do conceito e dos elementos envolvidos. Apesar disso, os pesquisadores observaram que existem certas constantes nos modelos de personalidade. A partir daí, foram definidas as duas perspectivas mais importantes: a idiográfica e a nomotética.
Antes de detalhar as diferenças entre as abordagens idiográfica e nomotética da personalidade, veremos ambas separadamente. Dessa forma, você terá uma ideia melhor de como elas se diferençam entre si.
Qual é a abordagem idiográfica da personalidade?
O modelo idiográfico de personalidade considera que nenhum ser humano é 100% idêntico ao outro. Ou seja, cada um de nós possui qualidades que ninguém mais no mundo possui e isso nos torna únicos. Portanto, a personalidade de cada um tem uma configuração irrepetível e deve ser avaliada dessa forma.
Quando os estudos são feitos com o método idiográfico, os participantes formam um pequeno grupo. O objetivo dessa classificação é determinar o que diferencia uma pessoa da outra. Portanto, não busca elaborar leis gerais para explicar o comportamento.
Qual é a abordagem nomotética da personalidade?
Ao contrário do que foi dito acima, a abordagem nomotética estabelece que as pessoas compartilham qualidades. Consequentemente, seus estudos são realizados com grandes amostras de populações, a fim de encontrar características comuns entre elas. Como resultado, podem ser feitas leis gerais que explicam como os seres humanos se comportam.
Agora que vimos cada conceito separadamente, podemos entender as diferenças entre a abordagem idiográfica e nomotética da personalidade: enquanto a primeira se concentra nas diferenças, a outra tenta descrever as semelhanças. Além disso, há outras distinções que precisam ser mencionadas.
1. Pesquisa quantitativa vs. pesquisa qualitativa
A abordagem nomotética realiza pesquisas tomando grandes amostras de populações para analisar suas características com métodos estatísticos. Por esta razão, testes psicométricos são usados para obter dados numéricos para interpretá-los. Assim, é possível definir qual é a norma em determinado grupo e ver se ela pode ser aplicada a outras populações semelhantes.
Por sua vez, a abordagem idiográfica se inclina para a pesquisa qualitativa, que se concentra na descrição de fenômenos. Os estudos idiográficos podem ser feitos com um único caso ou alguns e não usam instrumentos psicométricos. Em vez disso, eles usam ferramentas, como o método biográfico, para extrair o máximo de detalhes de uma pessoa.
2. Personalidade estática vs. personalidade dinâmica
Para os pesquisadores nomotéticos, a personalidade constituiria um mapa com traços ou pilares mais ou menos estáveis. Isso significa que não tende a variar muito ao longo do tempo. Além disso, é fragmentado, o que significa que é composto por vários elementos que podem ser analisados separadamente.
Por outro lado, no modelo idiográfico, a personalidade é vista como resultado de processos dinâmicos. Por isso, tende a mudar ao longo do tempo e, portanto, precisa ser estudado intensivamente. Além disso, é considerado holístico porque dificilmente poderia ser dividido, mesmo para estudo.
3. Objetividade vs. subjetividade
Outra diferença entre a abordagem idiográfica e nomotética da personalidade é sua abordagem teórica. Primeiro, os autores nomotéticos optam por realizar estudos com base na objetividade. Em outras palavras, extraem seus dados de uma “realidade objetiva” que não depende do que a pessoa pensa ou acredita.
Ao contrário, nos estudos idiográficos a subjetividade de cada um tem um peso maior. Não é o “mundo objetivo” que importa, mas a realidade interna de cada participante. Esta é a única maneira de descrever as características que os tornam únicos.
A abordagem idiográfica e nomotética na pesquisa científica
Vendo suas diferenças dessa maneira, pode-se pensar no idiográfico e nomotético como rivais um do outro. No entanto, na prática científica, tendem a ser complementares para a compreensão aprofundada de determinado fenômeno.
Para melhor ilustrar, citaremos o estudo de Ellison et al. (2020) sobre padrões idiográficos e nomotéticos em traços ansiosos em pacientes com TPB. O objetivo da pesquisa foi determinar como os sintomas do transtorno estavam relacionados a outras experiências emocionais conflitantes.
Dados de 42 pacientes psiquiátricos, incluindo pessoas com TPB e transtornos de ansiedade, foram analisados. A partir de suas conclusões, os autores sugerem que não há relação entre os sintomas de ansiedade e o diagnóstico de TPB. Por isso, diz-se que essas manifestações ansiosas podem ser de alguma forma idiográficas.
A abordagem idiotética
A abordagem idiotética surge da combinação do idiográfico e do nomotético. Desta forma, leva os elementos característicos de cada modelo, para realizar investigações mais complexas e ricas. Num estudo idiotético, o que se pretende é descrever leis gerais ou padrões comuns a partir de uma avaliação individual intensiva.
Para concluir, percebemos que as diferenças entre a abordagem idiográfica e nomotética da personalidade não são mutuamente exclusivas. Ambos os modelos podem ser usados para complementar os dados obtidos e ter uma visão ampla da personalidade.
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- Ellison, W. D., Levy, K. N., Newman, M. G., Pincus, A. L., Wilson, S. J., & Molenaar, P. (2020). Dynamics among borderline personality and anxiety features in psychotherapy outpatients: An exploration of nomothetic and idiographic patterns. Personality Disorders: Theory, Research, and Treatment, 11(2), 131. https://psycnet.apa.org/doiLanding?doi=10.1037%2Fper0000363