Diga que você me ama: o histrionismo no amor

O histrionismo no amor é egocêntrico, exige atenção e, às vezes, é manipulador. Por esse motivo, pode ser desconfortável e difícil lidar com ele em um relacionamento.
Diga que você me ama: o histrionismo no amor
Cristina Roda Rivera

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Roda Rivera.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

“Diga que você me ama, ainda que eu não me importe” é algo que poderia vir de uma pessoa com tendência antissocial. Enquanto isso, “diga que você me ama porque eu preciso”, poderia ser dito por uma pessoa com um padrão de comportamento dependente. “Diga que me ama e deixe os outros verem”, seria típico de um narcisista. No entanto, uma pessoa esquiva poderia querer ouvir estas palavras, mas evitar demonstrar esta vontade por causa do medo.

Já o histrionismo no amor é mais difícil de definir. Poderíamos compará-lo com a frase: “diga que me ama nas suas redes sociais, de uma forma muito especial, inusitada e interessante”.

Resumir em frases curtas a “essência” de alguns padrões ou estilos de personalidade é muito ousado. No entanto, também é útil para entender a dificuldade de identificar um padrão de personalidade predominante em algumas pessoas. De fato, muitas querem ser amadas de todas essas maneiras.

Além disso, em uma época na qual todos fazemos um pequeno show sobre as nossas próprias histórias de amor diante do público, diferenciar um padrão de histrionismo no amor não é uma tarefa fácil.

O que é um estilo de personalidade

Ter um estilo de personalidade significa que a pessoa interpreta as situações de uma maneira específica, reagindo positivamente a determinados contextos e sendo “alérgica” a outros. Além disso, ela se comporta de certas maneiras consistentemente, sobretudo nos relacionamentos.

Assim, uma pessoa com um transtorno de personalidade tem características basicamente semelhantes àquelas do estilo correspondente, porém de uma maneira muito mais pronunciada.

Por exemplo, um estilo narcisista geralmente faz com que as pessoas sejam bem-sucedidas, enquanto um estilo histriônico se caracteriza por um alto grau de drama e manipulação. Os últimos querem muita atenção e precisam de muitos sinais das outras pessoas para que vejam que são importantes.

Ambos os estilos são particularmente comuns, especialmente na terapia, e também são compatíveis com muitas tendências das sociedades industrializadas ocidentais.

Diga que me ama, mas sem discrição

Deve haver muito histrionismo no amor da ficção para que as novelas turcas tenham sucesso. No entanto, na realidade, o histrionismo no amor não é nem tão romântico nem tão passional. Pelo contrário, é percebido como antinatural, difícil e até mesmo perigoso. Ao contrário do narcisista, não há medo de ser ridículo diante dos outros, pois isso é preferível a passar despercebido.

As personalidades histriônicas geralmente gostam de ser capazes de monopolizar a atenção daqueles ao seu redor. Porém, o que está por trás desse desejo?

Para essas pessoas, não ser visto ou ouvido é aversivo. Neste caso, caem e desmoronam inúmeras vezes. Portanto, este é um padrão de personalidade, pois é muito difícil que eliminem essa forma de agir em comparação com outras pessoas sob as mesmas contingências e resultados.

Sua história pessoal é histriônica porque, desde pequenas, assumem que chamar a atenção é a melhor forma de se relacionar. Nesse ponto, surge a eterna questão: a personalidade é dada primeiramente pela genética ou pelo ambiente?

A vida no histrionismo: um drama constante

As pessoas com transtorno de personalidade histriônica têm uma necessidade constante de buscar a aprovação dos outros. Elas usam o charme, a sedução, a manipulação e o flerte para chamar a atenção para si mesmas. Geralmente ficam com raiva ou deprimidas quando passam despercebidas ou não são o centro das atenções.

Estima-se que entre 2-3% da população tenha o transtorno de personalidade histriônica, e as mulheres são 4 vezes mais propensas a ter essa condição do que os homens. No entanto, os especialistas sugerem que as mulheres podem receber o diagnóstico desse transtorno de forma excessiva, enquanto os homens podem ser subdiagnosticados.

A personalidade histriônica é mais rara em homens e menos tolerada socialmente. O histrionismo se traduz aqui na jactância, em se gabar e em embelezar o relato das aventuras vantajosas que procuram mascarar a sua fraqueza e falta de virilidade. A atitude de Don Juan mascara as inibições sexuais.

O histrionismo no amor

É comum que essas pessoas evitem relacionamentos afetivos genuínos com os outros. A personalidade histriônica precisa dos outros constantemente para se sentir valorizada.

Essa dependência afetiva, juntamente com o egocentrismo, está associada a uma extrema intolerância a frustrações que, em certos casos, assumirá formas espetaculares, sendo o choro intenso e a raiva excessiva as mais frequentes.

A instabilidade caracteriza o estado de espírito habitual deste tipo de personalidade: explosões de entusiasmo e de desânimo se sucedem implacavelmente. Há também hiperatividade emocional.

As pessoas com essa condição são egossintônicas, ou seja, elas acreditam que o seu comportamento é normal e, por isso, têm dificuldade para admitir que têm um problema. Por causa disso, pode ser um desafio conseguir fazer com que procurem tratamento psiquiátrico, que geralmente se concentra na psicoterapia.

Como consequência, os entes queridos lutam para lidar com um comportamento excessivamente dramático e emotivo. Por isso, muitas vezes, é o parceiro ou outros parentes que vão à psicoterapia para aprender a administrar a vida cotidiana.

Pessoas insatisfeitas nos relacionamentos

Um estudo publicado no Journal of Sex and Marital Therapy descobriu que as mulheres histriônicas tinham assertividade sexual, autoestima, desejo sexual e satisfação conjugal significativamente mais baixas. Também experimentavam níveis mais altos de preocupação sexual, tédio sexual e disfunção orgástica. Além disso, também tinham maior probabilidade de ter um caso extraconjugal do que as mulheres do grupo de controle, ou seja, sem traços histriônicos.

Portanto, é importante reconhecer e se familiarizar com o quadro do transtorno, caso o parceiro tenha esse tipo de personalidade. De fato, estas são pessoas que geralmente se preocupam muito com a aparência e têm rápidas mudanças de humor, podendo assim parecer “superficiais” à primeira vista.

A importância da terapia

A melhor maneira de entender o seu parceiro é se educar sobre o seu transtorno, até mesmo participando de uma terapia de casal com ele. Dessa forma, vocês dois poderão aprender mais um sobre o outro e também sobre como superar quaisquer obstáculos que o relacionamento possa estar enfrentando.

A intervenção diante do histrionismo  geralmente envolve psicoterapia, uma forma de “terapia da fala” que permite que a pessoa descubra novas partes de si mesma e aprenda mais sobre a forma como pensa, age e sente.


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  • Apt C, Hurlbert DF. The sexual attitudes, behavior, and relationships of women with histrionic personality disorder. J Sex Marital Ther. 1994 Summer;20(2):125-33. doi: 10.1080/00926239408403423. PMID: 8035469.

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