Você e seu parceiro estão cansados de discutir sempre pela mesma coisa?
As discussões no relacionamento são inevitáveis, mas nem por isso são mais suportáveis. Ainda mais quando os motivos são sempre os mesmos. Repetidamente. É irritante, não é verdade? Você está cansado de discutir com o seu parceiro pelo mesmo motivo de sempre? O assunto não ficou claro, mesmo após tantas vezes batendo na mesma tecla?
A boa notícia é que podemos chegar a um acordo que reduza de imediato a quantidade de tempo que estamos dedicando a uma determinada questão; porém, é necessário, antes, identificar a raiz do problema. Muitas vezes não se trata de algo específico, mas sim da discussão em geral. Nesse caso, a estratégia para abordar o problema é diferente, já que costumam haver outros motivos, como a briga pelo poder entre o casal, que contribuem para o confronto.
Modelo educativo baseado no desentendimento relacional
Um dos principais motivos pelos quais muitos casais discutem repetidamente é porque aprenderam a fazer isso com seus pais. Internalizaram a ideia de que não é possível administrar os conflitos entre o casal. Ao mesmo tempo, aprenderam também a utilizar estratégias para que a discussão perdure. Uma dessas estratégias é a de reciclar argumentos: repeti-los várias vezes com palavras diferentes, gerando a sensação de que sempre existe nova informação a dar.
Do mesmo jeito que seus pais desperdiçavam esses argumentos cada vez que estavam incomodados com algo, seus filhos fazem o mesmo com os seus parceiros. Na realidade, o que se busca é proclamar a superioridade da própria posição, e não compreender a perspectiva de cada um para chegar a um acordo aceito pelos dois, que sirva para restaurar a harmonia.
Ou seja, muitos casais discutem porque aprenderam um modelo baseado no desentendimento relacional. Esse modelo é contrário à ideia de que é possível negociar um conflito de maneira produtiva. No fundo, ele passa uma mensagem muito clara: os problemas de casal são irreconciliáveis e a única maneira de sair desse impasse e superar a frustração é intimidar o outro mais do que ele o intimida. Funciona assim até que ambos acabam tão cansados e angustiados que param por puro esgotamento, muitas vezes após se esquecerem do motivo que iniciou a discussão.
A solução é identificar se em nossas discussões de casal existe essa situação. Reciclamos os mesmos argumentos repetidamente? As nossas discussões se parecem com as dos nossos pais? Sabemos por que realmente discutimos? As discussões sempre surgem das mesmas exigências e objeções? Reagimos automaticamente diante de determinadas situações, como uma mola, e começamos a discutir sem mais nem menos?
Agora pense em quão saudável era a relação de seus pais, se terminou bem, se eram felizes como um casal. Se você não quer isso para você, comece a mudar o chip e se acostumar com a ideia de que existe outra forma de administrar os conflitos em casal. É possível viver sem discutir com o seu parceiro todos os dias, fazendo com que os confrontos terminem em um acordo e não em uma trégua que só serve para que os dois recuperem as forças, retornando à mesma situação quando os níveis de energia se estabilizam.
É possível chegar a um acordo, mas é necessário começar a agir como se isso fosse possível, eliminando esse padrão automático de conduta, reprogramando as reações diante dos estímulos que você deve identificar. Nesse sentido, você deve cultivar a atitude de que a maioria das diferenças na sua relação em casal são reconciliáveis.
“Não é o que dizemos que machuca, mas a forma como dizemos.”
-John Gray, em Os homens são de Marte a as mulheres são de Vênus –
Autoproteção quando você se sente vulnerável nas discussões no relacionamento
Ficarmos chateados com o outro também é uma forma de nos protegermos, especialmente quando nos sentimos atacados ou vulneráveis. Essa reação ocorre quando nos sentimos ameaçados, o que nos faz contra-atacar e tentar ganhar a batalha como uma maneira de evitar que fiquemos expostos.
Com muita frequência, somos dependentes da opinião e da valorização de nossos parceiros. Assim, quando o outro questiona a nossa competência, a nossa inteligência ou as nossas virtudes, sentimos a nossa autoestima seriamente comprometida, ou seja, nos sentimos vulneráveis. É por isso que sentimos a necessidade de nos defender, porque isso faz com que os sentimentos de vulnerabilidade fiquem imunes.
Por outro lado, quando tentamos nos defender dessa maneira, é comum que terminemos atacando o outro nos seus pontos de maior vulnerabilidade, culpando-o por nossos problemas sem medir o estrago que podemos causar com aquilo que estamos recriminando. O que antes era medo, agora pode ser uma sensação de poder e força graças ao aumento da adrenalina, o que pode supor um reforço dessa atitude tão venenosa a longo prazo.
Nesse contexto, quando a raiva aflora com muita facilidade, costumamos esquecer de escutar o outro. Lembremos que estamos tratando de “nos defender”. A solução é aprender a validar a nós mesmos, para fortalecer o nosso próprio ego sem condicioná-lo a ninguém. Precisamos encontrar o nosso próprio caminho de crescimento e enriquecimento pessoal, nos aceitando de maneira incondicional, com os nossos próprios defeitos.
Muitas vezes discutimos por questões nossas que vemos refletidas no outro. No entanto, se formos capazes de nos aceitar e de sermos benevolentes, compassivos e compreensivos com nós mesmos, de nos perdoar, também seremos capazes de tratar o outro da mesma maneira. A solução também é buscar uma perspectiva diferente, com empatia e compreensão. Entender a posição do outro, apesar de ser diferente da nossa, nos ajudará amenizar a raiva e a manter o controle.
“Me lembrei das mil coisas desagradáveis pelas quais havíamos passado e deixei que a solidariedade recuperasse a força. Que desperdício seria, disse a mim mesma, estragar a nossa história deixando tanto espaço para os maus sentimentos; os maus sentimentos são inevitáveis, o essencial é contê-los.”
-Elena Ferrante, em A menina perdida-
Existem diferenças que são irreconciliáveis
Existem certas diferenças nas discussões com o seu parceiro que, por sua própria natureza ou ideologia, simplesmente não podem ser resolvidas. Essas discrepâncias sem solução podem ser adaptadas, ou inclusive aceitas, mas isso não as converte em compatíveis.
O problema é que é difícil encurtar essa distância e, apesar do nosso esforço, é comum que surjam problemas. Porque, apesar de sabermos que as diferenças estão aí, de maneira irracional acabamos nos sentindo ameaçados por essas discordâncias. De fato, discutir com o parceiro por motivos ideológicos ou de natureza pessoal costuma ser uma forma de autoafirmação e de se rebelar diante do sentimento de alienação que o outro nos causa.
A solução para superar essas diferenças irreconciliáveis, seja qual for a sua natureza, é identificá-las e, simplesmente, excluí-las da conversa. Ou seja, devemos nos esforçar para apreciar e respeitar essas diferenças inalteráveis. É necessário que nos foquemos nos pontos nos quais podemos chegar a um acordo, sem sentir que as convicções do outro ou a sua forma de ser são uma ameaça às convicções e à nossa forma de ser.