Os dispositivos eletrônicos e as alterações do sono

Foi comprovado que existe uma relação clara entre os dispositivos eletrônicos e as alterações do sono. Algumas pesquisas apontam que esses aparelhos influenciam os ritmos circadianos, responsáveis pela vigília e pelo descanso.
Os dispositivos eletrônicos e as alterações do sono
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 30 maio, 2020

Recentemente, têm surgido alguns estudos que relacionam o uso de dispositivos eletrônicos a alterações do sono. Foi encontrada uma relação entre ambos os fatores. Basicamente, foi estabelecido que os dispositivos eletrônicos são potencialmente nocivos para os ritmos normais de sono, e que eles podem alterar significativamente a qualidade do mesmo.

O tema é preocupante se levarmos em conta que, atualmente, são muitas as pessoas que usam seus telefones celulares, notebooks e aparelhos similares de maneira frequente e prolongada. Além disso, cada vez mais pessoas só conseguem dormir com o telefone na mesa de cabeceira, e muitos levam o celular para a cama para continuar trabalhando.

Há evidências de que todos esses comportamentos podem ser problemáticos. Existe um vínculo entre os dispositivos eletrônicos e as alterações do sono. A National Sleep Foundation, da Universidade da Califórnia, chegou à conclusão de que os aparelhos desse tipo levam a um sono mais curto e de pior qualidade.

O sono é o único remédio eficaz”.
-Sófocles-

O uso prejudicial dos dispositivos eletrônicos

A luz artificial e os ritmos circadianos

Os ritmos circadianos são todos os processos de mudança que ocorrem nos seres vivos em um lapso de tempo inferior a 24 horas. São ciclos que seguem sempre uma mesma ordem e que se sucedem por etapas. Entre outros muitos aspectos, esses ritmos regulam os ciclos do sono. Equivalem ao que é comumente conhecido como “relógio biológico”.

Uma pesquisa realizada na Universidade de Connecticut publicada na revista Philosophical Transactions, da Royal Society, destacou que a luz artificial tem o potencial de alterar os ritmos circadianos. Em particular, pode afetar o ciclo de sono.

O estudo estabeleceu uma relação direta entre os dispositivos eletrônicos e as alterações do sono. Esses aparelhos trabalham com a luz artificial, e o sono está muito condicionado pelos ritmos circadianos.

Estes, especificamente, fazem com que o organismo fique mais ativo nos momentos em que há luz, e mais passivo quando reina a escuridão.

Os ciclos circadianos são determinados, em grande medida, por células especializadas que ficam na retina. Quando as telas dos aparelhos eletrônicos estão acesas, ocorre uma distorção. Assim, embora seja noite, o corpo ativa as funções diurnas, quando precisaríamos que elas fossem desativadas para favorecer o sono.

Descobertas sobre os dispositivos eletrônicos e as alterações do sono

A Universidade da Califórnia chegou a conclusões similares às que explicamos no ponto anterior. Na verdade, eles foram além, e indicam que as telas de luz azul dos computadores e telefones reduzem a produção de melatonina. Este hormônio afeta a qualidade do sono. Quando está em níveis baixos, faz com que seja mais difícil conciliar o sono e diminui a duração do mesmo.

Outro ponto relevante é que o péssimo costume de manter o telefone celular ou o notebook ao nosso lado, mesmo quando vamos para a cama, impede a redução da atividade neuronal. Esses dispositivos nos mantêm em alerta, e o que precisamos antes de dormir é exatamente o contrário: relaxar.

O pior de tudo é que, enquanto dormimos, é possível que alguém nos envie mensagens ou alertas pelo celular. Quem está muito condicionado ao uso do mesmo desperta rapidamente para observar do que se trata. Na verdade, até quando o telefone não toca, há uma tensão subjetiva pela possibilidade de que toque. Isso não nos deixa dormir bem.

Mulher usando celular na cama

Efeitos indesejáveis

O psiquiatra e psicanalista David Dorenbaum afirma que o binômio formado pelos dispositivos eletrônicos e as alterações do sono também tem outras consequências. Ele garante que o uso intensivo desses aparelhos faz com que seja mais difícil se lembrar dos sonhos. Ocorre uma espécie de analogia entre o mundo que vemos através da tela e as imagens oníricas.

Na verdade, um estudo realizado com mil estudantes da Austrália, com idades entre 13 e 16 anos, mostrou que os aparelhos eletrônicos estavam associados a uma menor qualidade do sono, o que, por sua vez, provocaria efeitos adversos na saúde mental. Os jovens da amostra apresentavam sinais mais significativos de depressão.

Os dispositivos eletrônicos não são o problema. A verdadeira dificuldade está no seu mau uso. Quando bem gerenciados, os aparelhos tecnológicos facilitam as nossas vidas e tornam outras funções mais simples. No entanto, quando mal utilizados, tornam o ser humano vulnerável e dependente da sua disponibilidade.


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  • Arévalo, R., Arevalo, R., Ibarra, G., Nuila, A., & Valle, A. (2018). Impacto de la luz emitida por los dispositivos electrónicos móviles utilizados antes de dormir en la calidad del sueño. Sinapsis UJMD, 8(1), 68-74.


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