Donald Winnicott e sua teoria do falso eu

Donald Winnicott e sua teoria do falso eu
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 20 fevereiro, 2018

Donald Winnicott foi um famoso psiquiatra, psicanalista e pediatra inglês que desenvolveu uma abordagem interessante sobre a personalidade. Por causa do seu treinamento como pediatra, ele concentrou seus pensamentos nas crianças, especialmente no relacionamento entre a mãe e o bebê lactente e as consequências dele.

Ele trabalhou em conjunto com a famosa psicanalista Melanie Klein, inclusive no tratamento de um de seus filhos. Ele também foi presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise e um pensador de renome do século XX.

“Na brincadeira, e só nela, a criança ou adulto podem criar e usar toda a personalidade, e o indivíduo descobre a si mesmo somente quando cria.”
– Donald Winnicott –

Algumas de suas contribuições mais interessantes são o falso self ou falso eu, assim como seus conceitos de “mãe suficientemente boa” e “mãe banalmente dedicada”. Da mesma forma, o conceito de “objeto transicional” tem sido adotado por muitas escolas de psicologia.

A relação entre a mãe e o bebê, segundo Winnicott

Assim como outros psicanalistas, Winnicott afirma que, durante o primeiro ano de vida, a mãe e a criança constituem uma unidade. Você não pode falar sobre o bebê como uma entidade separada de sua mãe. Ambos compreendem uma unidade psíquica indivisível.

Mulher se aconchegando com seu bebê

Donald Winnicott diz que a mãe é o primeiro ambiente que um ser humano tem. A base total para desenvolvimento posterior. Portanto, especialmente nos primeiros meses de vida, a mãe é o universo do bebê. O mundo é praticamente sinônimo de mãe.

O conceito de “mãe suficientemente boa” surge neste momento. Ela é quem proporciona o cuidado necessário ao bebê, espontânea e sinceramente. Ela está disposta a ser a base e o ambiente de que a criança precisa. Sem ser perfeita, ela não excede o cuidado nem negligencia o bebê. Essa mãe dá origem a um self verdadeiro, ou a um verdadeiro eu.

Enquanto isso, a “mãe banalmente dedicada” é uma que desenvolve um apego excessivo ou superprotetor com seu filho. Que também não é capaz de responder às manifestações espontâneas da criança. Ela dá origem ao que Winnicott chamou de falso self ou “falso eu”.

Donald Winnicott e o falso eu

A mãe é como um espelho para a criança. A criança vê como ela olha para ele e aprende a identificar-se como humano a partir dela. Pouco a pouco o bebê se separa de sua mãe, e ela deve adaptar-se a isso. A criança tem gestos espontâneos que fazem parte de sua individualidade. Se a mãe os acolher, ele experimenta o sentimento de ser real. Se ela não faz, é formado um sentimento de irrealidade.

Criança emburrada em colagem

Quando essa interação entre a mãe e seu bebê falha, ocorre o que Winnicott chama de “corte da continuidade existencial”. Em outras palavras, isto significa uma ruptura radical do desenvolvimento espontâneo do bebê. E isto é o que dá origem ao falso self ou falso eu.

Winnicott diz que, nestas circunstâncias, o bebê torna-se “a mãe de si mesmo.” Isto quer dizer que ele começa a esconder o seu próprio ego para proteger-se. Ele aprende a mostrar apenas o que, por assim dizer, sua mãe quer ver.

Os efeitos do falso eu

Existem diferentes níveis de falsificação no eu. De acordo com Winnicott, no nível mais básico há aqueles que adotam uma atitude cortês e totalmente adaptada às normas e deveres. No outro extremo está a esquizofrenia, uma condição mental em que a pessoa fica desassociada a tal ponto que o seu verdadeiro eu praticamente desaparece.

Para Winnicott, o eu falso aparece em todos os transtornos mentais graves. Neste caso, a pessoa usa todos os recursos disponíveis para estruturar esse falso eu e mantê-lo. O objetivo deste é enfrentar um mundo que é percebido como imprevisível ou não confiável.

Winnicott diz que uma boa parte dos esforços de uma pessoa com um falso eu muito forte são orientados para a intelectualização da realidade. Ou seja, para transformar a realidade em um objeto da razão, e não das emoções, afetos ou atos criativos. Quando tal intelectualização tem sucesso, o indivíduo é percebido como normal. No entanto, ele não experimenta o que vive como algo pessoal, mas sim como algo estranho.

Pessoa com máquina no lugar da cabeça

Ele não consegue se sentir feliz por seus triunfos nem se sentir valorizado. Para ele, foi o seu falso eu que alcançou os objetivos ou que está sendo valorizado. Com isso, marca uma ruptura entre si mesmo e o mundo. Seu verdadeiro eu fica confinado, fantasiando e experimentando um mal-estar que nunca consegue entender por conta própria.


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