O que é o doomscrolling e por que precisamos detê-lo?

Nós as consumimos sem nos darmos conta. As notícias tristes, negativas ou preocupantes ocupam as redes sociais e o nosso cotidiano, mas é preciso ter cuidado, pois os efeitos psicológicos que elas têm sobre a nossa mente são significativos.
O que é o doomscrolling e por que precisamos detê-lo?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

Psicólogos de todo o mundo estão nos advertindo para um fato cada vez mais comum (e preocupante). Doomscrolling é um termo que define a nossa recente obsessão por ler notícias negativas ou deprimentes. Desastres naturais, relatos daqueles que perderam pessoas queridas por causa de determinadas doenças, notícias alarmantes de última hora…

Muitos vão negar com a cabeça e dizer que não, que não caíram neste hábito. No entanto, embora não sejamos conscientes, fazemos isso diariamente. Isso acontece porque a fluência de notícias negativas tem superado as positivas nos últimos meses. Ou seja, estamos expostos quase sem nos darmos conta a esse tipo de estímulo psicológico adverso calado.

Nós nos acostumamos a “consumir” esse tipo de notícia até o ponto de normalizá-las? A verdade é que nos acostumamos a entrar nas redes sociais e a tropeçar nessas realidades. No entanto, não nos habituamos, porque o cérebro sofre, porque o número de transtornos de ansiedade e de casos de depressão vem aumentando cada vez mais, e esta é uma das causas.

Jovem preocupada lendo notícias

O que é o doomscrolling?

Em um contexto cheio de mudanças e incertezas constantes, é comum estarmos mais atentos do que nunca ao celular e, especificamente, às redes sociais. O doomscrolling é um novo termo que surgiu no Twitter ao longo de 2020 e que define a repentina tendência a ler notícias deprimentes ou negativas.

Nos últimos meses, ele começou a se popularizar desde que foi mencionado na revista Los Angeles Times. A publicação fez isso para se referir a todas as palavras que, de alguma forma, descrevem a nossa situação atual. No fim das contas, a linguagem não é mais do que o reflexo das realidades sociais das pessoas, e daí vem a sua riqueza, dinamismo e particularidade.

Formas por meio das quais o doomscrolling se manifesta

O doomscrolling chega a quase qualquer geração que tenha, sobretudo, acesso às novas tecnologias. No entanto, a fluência de más notícias também é uma constante na televisão, o que faz com que os idosos fiquem sempre atentos a estas informações de viés negativo, triste ou alarmista.

  • Sentimos isso quando escolhemos nos deter diante de uma notícia sombria e a lemos ou ouvimos por completo.
  • A notícia costuma ter um impacto emocional breve.
  • O problema surge quando a exposição é contínua, de maneira que, pouco a pouco, ocorre um acúmulo de emoções negativas.
  • Além disso, também há outro fato evidente. Não usamos filtros. Nós nos deslocamos pelas redes sociais (fazendo o scrolling) e, no fim, nos detemos naquela notícia de última hora alarmante ou triste. O nosso olhar se detém naquela publicação no Twitter que compartilha uma experiência pessoal adversa…
  • Quase sem nos darmos conta, a mente acumula uma quantidade imensa de dados, imagens e relatos que prejudicam o nosso bem-estar psicológico.

Por que fazemos isso?

Alguns veículos de mídia falam sobre uma nova tendência nas pessoas de buscar ativamente esse tipo de informação mais desagradável. Isso não é totalmente verdade. Na realidade, nos últimos meses esse tipo de publicação se proliferou de maneira significativa. Estamos mais expostos e, no geral, o cérebro tem uma maior tendência a buscar o “ruim” antes do “positivo”.

  • Em um contexto como o atual, queremos estar informados e, no geral, a exposição às redes sociais é maior.
  • Temos mais tempo. Também há um fato evidente: nos sentimos mais preocupados, a incerteza pesa, e queremos saber o que acontece em nosso mundo quase a cada segundo.
  • Isso faz com que estejamos mais atentos às notícias negativas porque a mente está sempre em alerta e superestimulada.

Qual é o efeito dessa tendência sobre a saúde mental?

O doomscrolling não é inofensivo; ele tem um forte impacto sobre o bem-estar psicológico, e devemos ter isso em mente. Um estudo realizado na Universidade de Sussex, por exemplo, indicou que as notícias negativas não apenas elevam a preocupação, mas também alteram o nosso humor.

Em muitos casos, este fato pode se somar a outros para causar uma depressão ou um estado de ansiedade. O mais complexo é que esta realidade atua como um círculo vicioso. Ou seja, não conseguimos parar de ouvir esse tipo de notícia, e embora saibamos que isso nos afeta, não conseguimos parar porque precisamos saber o que está acontecendo.

Há outro ponto importante: as notícias negativas são mais lembradas do que as positivas. Como se isso fosse pouco, os algoritmos das redes sociais e da Internet vão continuar nos expondo a esse tipo de informação sem nos darmos conta. Os efeitos sobre a saúde podem ser muito adversos.

Homem usando celular

Como podemos reduzir o doomscrolling?

A forma mais óbvia de reduzir o efeito do doomscrolling é evidente: restringir o tempo que passamos diante das redes sociais. Uma solução que parece tão simples na verdade é mais complicada do que imaginamos. A aderência psicológica que temos pelas tecnologias é tão elevada que não somos conscientes dela. É necessário fazermos um exercício de reflexão a respeito para começarmos a reduzir esse tempo de exposição.

Devemos evitar que as redes sociais roubem não apenas o nosso tempo, mas também a nossa saúde mental. Portanto, seria recomendável estabelecermos momentos específicos do dia para ler as notícias. Responder apenas as mensagens mais importantes é outra estratégia. Vamos evitar, por exemplo, que olhar o celular seja a nossa primeira ação depois de nos levantarmos pela manhã ou antes de irmos dormir.

Por último e não menos importante, o doomscrolling pode ser reduzido focando a atenção em tarefas, interesses e atividades mais positivos e gratificantes. Uma conversa com um amigo ou um passeio ao ar livre são maneiras reconfortantes de otimizar a saúde mental. Vamos investir mais tempo nesses hábitos para manter um equilíbrio que nos permita ir além das telas.


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  • Johnston, Wendy & Davey, Graham. (1997). The psychological impact of negative TV news bulletins: The catastrophizing of personal worries. British journal of psychology (London, England : 1953). 88 ( Pt 1). 85-91. 10.1111/j.2044-8295.1997.tb02622.x.

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