Quais são os efeitos de trabalhar à noite para a saúde do trabalhador?
São muitos os empregos que desenvolveram jornadas de trabalho durante o período da noite. Profissionais da saúde, seguranças e vigilantes noturnos, pessoas que viajam com muita frequência e pilotos de avião são só alguns exemplos de profissionais que realizam grande parte de sua atividade de trabalho durante a noite, ou até mesmo toda ela. Também são muitos os estudos que demonstram que os efeitos de trabalhar à noite reduzem significativamente a qualidade de vida e a expectativa de vida, entre outros fatores fundamentais do ser humano.
Não é fácil impedir que esse tipo de emprego ou período de trabalho exista, já que há muitos serviços públicos básicos que são desempenhados durante a noite. Há muitas instituições, no entanto, que pelo menos limitam o tempo de trabalho durante a noite.
Quais são os trabalhos desenvolvidos durante a noite?
Diante do aumento crescente de estabelecimentos com horários de abertura 24 horas, estão surgindo muitos novos postos de trabalho noturno. Além disso, também há profissionais que se dedicam à limpeza das ruas, à manutenção de instalações que funcionam durante o dia – como estações de trem e metrô, por exemplo – ou que trabalham como motoristas de veículos como caminhões ou ônibus.
Também temos nessa categoria os profissionais dos serviços básicos do mundo da saúde, como os enfermeiros, médicos e outras áreas da medicina e da saúde que fazem plantões para garantir o atendimento necessário a todos os pacientes. Esses postos de trabalho não existem exclusivamente no turno da noite, mas também nos turnos de dia e de tarde. No Brasil, milhões de pessoas trabalham, total ou parcialmente, em turnos noturnos.
O que acontece com o corpo se não dormimos durante a noite?
Quando não dormimos durante a noite, não conseguimos descansar completamente. Isso acontece por motivos biológicos: nosso cérebro se desenvolveu para descansar durante a noite. As pessoas que trabalham nesse período descansam cerca de 1 a 2 horas menos que o resto da população, e só os indivíduos com menos de 35 anos que trabalham à noite conseguem dormir quase tanto quanto as pessoas que não têm um turno noturno.
Além disso, não devemos pensar apenas na quantidade de horas dormidas, mas também na qualidade do sono. Em nosso corpo ocorre a produção de um hormônio chamado melatonina. Isso se dá durante a noite pois esse hormônio é responsável por regular nosso ritmo biológico de noite e de dia, o que faz com que o organismo saiba quando é dia e quando é noite – e portanto hora de dormir.
Por isso, nosso corpo passa por mudanças hormonais quando não descansamos no período da noite. Essas mudanças afetam ainda mais as mulheres, que experimentam mudanças durante a menstruação e são mais propensas a desenvolver um câncer de mama. Além disso, outro dos efeitos de trabalhar à noite é a perda de 5 anos da expectativa de vida por cada 15 anos de trabalho em turnos noturnos.
Além dessas mudanças, também é bastante comum notar um aumento da irritabilidade e das possibilidades de desenvolver alguma doença cardiovascular, de ter maus hábitos alimentares, problemas digestivos, transtornos de sono, fadiga crônica, e inclusive diminuição da vida social e familiar.
Como minimizar os efeitos de trabalhar à noite?
Quando não temos outra opção a não ser trabalhar à noite, é fundamental seguir algumas dicas que ajudem o nosso corpo a funcionar da maneira mais próxima da normalidade:
- Nada de trabalho noturno para maiores de 35 anos: se tivermos a possibilidade de escolher, é importante não optar por realizar trabalhos durante a noite se já passamos dos 35 anos, a idade limite para que nosso corpo se recupere com mais facilidade de um certo tempo trabalhando em períodos invertidos.
- Dormir antes de entrar no trabalho: podemos dormir preferivelmente enquanto está anoitecendo, por volta das 18 horas. Algumas horas de sono antes de ir trabalhar, mesmo que você vá cedo, por volta das 21 horas, serão muito benéficas. Assim, aproveitaremos o momento do dia em que nosso cérebro já está fabricando melatonina.
- Usar óculos escuros ao sair do trabalho: se ao sairmos do trabalho de manhã usarmos óculos escuros, poderemos enganar nosso cérebro no caminho de casa, onde também poderemos baixar as persianas e esquecer que é de dia – ou pelo fazer nosso cérebro esquecer.
- Tomar melatonina: se nosso corpo não é capaz de secretar esse hormônio da forma habitual, é imprescindível tomar um complemento meia hora antes de se deitar para estimular um sono mais natural.
- Isolar-se dos ruídos: devemos fazer todo o possível para evitar ruídos enquanto dormimos, já que o estado de vigília característico do dia pode afetar a qualidade do sono dos que devem dormir durante esse período.
- Fazer check-ups frequentes do nosso estado de saúde: está dentro dos direitos de qualquer trabalhador ter o tempo necessário para realizar exames que avaliem seu estado de saúde, o que é ainda mais necessário no caso de quem exerce seu trabalho durante a noite. No caso de profissionais do mundo da saúde, isso é útil para saber a hora de reverter os turnos quando nosso corpo já não lida mais de forma saudável com o horário invertido.
Dormir é uma necessidade, assim como comer e beber, e devemos promover uma boa higiene do sono em toda a população para receber bons serviços dos que trabalham nessa condição difícil que é estar acordado quando seu corpo gostaria de estar dormindo.