Efeitos psicológicos da migração nas crianças
Os efeitos psicológicos da migração nas crianças podem durar até a idade adulta. Muitos chegam com traumas, trazendo como sombra a angústia emocional de deixar para trás um dos pais ou familiar. No entanto, é comum nem sempre avaliar à primeira vista as lutas internas que trazem consigo, bem como as que irão sofrer durante a sua adaptação ao novo país.
Por outro lado, também é importante considerar as razões pelas quais elas migram. Há famílias em busca de melhores oportunidades de trabalho. Outros entram na ilegalidade em busca de melhor qualidade de vida.
Da mesma forma, as crianças que viajam como refugiadas -sozinhas ou acompanhadas- quase sempre apresentam grande vulnerabilidade psicológica. Continue lendo e aprofunde as consequências dessas realidades.
Os últimos anos experimentaram os mais altos níveis de deslocamento forçado da história. Isso força o desenvolvimento de novos programas de atendimento psicológico para migrantes.
Quais são os efeitos psicológicos da migração nas crianças?
Há muitos adultos que migraram com a família na infância e que hoje sofrem de problemas de saúde mental; ansiedade generalizada, depressão maior, vícios, transtorno de estresse pós-traumático, por exemplo. Um dos maiores problemas com as crianças migrantes é que nem sempre recebem a assistência psicológica de que precisam.
A emigração é um fenômeno crescente e está presente em quase todo o planeta; de uma forma ou de outra, o ser humano recupera sua natureza nômade. Trabalhos como os publicados pela Cambridge University Press, em 2011, destacam que conhecer a anatomia dessa realidade permitiria compreender melhor as consequências do fenômeno, adotando medidas preventivas contra as negativas.
Sabe-se que enquanto as crianças desenvolvem transtornos de apego, os adolescentes tendem mais a comportamentos autodestrutivos. Da mesma forma, viver sem status legal ou com pedido de asilo pode causar estresse crônico, tanto para os adultos quanto para a população migrante de crianças e adolescentes. Conheça, desde já, mais efeitos associados.
1. Ansiedade de separação
Um dos efeitos psicológicos da migração nas crianças é a ansiedade de separação. Às vezes, elas não entendem por que devem deixar suas casas, seus pertences e se separar de figuras significativas. Muitas vezes, pode acontecer que os filhos viajem apenas com um dos pais. Às vezes, como acontece com algumas crianças refugiadas, elas o fazem sem acompanhamento.
Essa separação das figuras de apego e do que era cotidiano para elas certamente tem um impacto emocional considerável sobre elas.
2. Incerteza e sofrimento psicológico
A migração impõe um sentimento de instabilidade que pode ser interpretado como ameaçador, principalmente na infância. Uma criança começa a ficar feliz quando interpreta que o contexto que a cerca é seguro e com picos de estresse muito controlados. Mesmo que você não entenda tudo o que acontece ao seu redor, você sabe ou sente onde estão as margens de segurança.
A família que migra nem sempre encontra de imediato um lar acolhedor. Esse processo gera estresse nos adultos que é inoculado nas crianças, já que os mais velhos são sua principal referência.
3. Processos traumáticos
Entre os efeitos psicológicos da migração nas crianças, são frequentes os derivados do trauma. Há crianças que carregam consigo a memória de experiências dolorosas de seus países de origem. Além disso, a própria viagem pode ser cercada de incertezas difíceis de administrar, mesmo para adultos. O que haverá naquele lugar para onde eu vou? Como poderei me comunicar com pessoas que falam outro idioma?
Emigrar é um processo que não termina quando alguém chega pela primeira vez à porta da sua nova casa. Às vezes, a adaptação e suas dificuldades abrem na criança a ferida de traumas que ela já trazia consigo, da mesma forma que acontece com os adultos.
Muitos adolescentes podem apresentar comportamentos mal adaptativos e desafio à autoridade, como sequelas de necessidades emocionais não satisfeitas.
4. Distúrbios somáticos
Queixas somáticas são comuns entre crianças e adolescentes que migram com seus pais. Emoções difíceis, medos, traumas ou estresse constante acabam em desconforto, dor e doença sem correlato físico. A Universidade Católica do Chile destaca essa característica em uma investigação. Em geral, esses distúrbios psicossomáticos se manifestam da seguinte forma:
- Fadiga.
- Tontura.
- Dores de cabeça.
- Taquicardia.
- Náusea e vômito.
- Problemas digestivos.
- Dificuldades de sono.
- Dor musculoesquelética.
- Problemas de pele, como eczema.
5. Depressão
Não brincar, retrair-se, não se interessar pelo ambiente e problemas para dormir ou comer resultam da depressão infantil em migrantes; um fenômeno que exige mais atenção. Muitas vezes, os sintomas do transtorno depressivo se confundem com a dificuldade de adaptação ao novo país.
Comportamentos inseguros, tristeza ou desconexão do seu ambiente nem sempre se devem aos desafios do processo adaptativo. Embora este não seja um desafio isento de estresse, pode ser um problema mais profundo.
6. Comportamentos desadaptativos
Entre os efeitos psicológicos da migração em crianças estão os comportamentos desadaptativos ou desafiadores. Nesse caso, costumam aparecer em maior grau em pré-adolescentes ou adolescentes. A dificuldade em lidar com emoções difíceis, problemas cotidianos e o peso de muitos traumas não resolvidos às vezes se traduzem em comportamentos como os desta lista:
- Elas sentem falta da escola.
- Egocentrismo e teimosia.
- Elas brigam com frequência.
- Elas não assumem a responsabilidade.
- Baixa tolerância à frustração.
- Elas desafiam as regras da família.
- Elas destroem objetos ou móveis.
- Atitudes negativistas/oposicionistas.
- Comunicação desrespeitosa ou violenta.
- Crianças e adolescentes migrantes às vezes podem ser muito irritáveis.
9. Bullying ou bullying escolar
Se a adaptação já é um desafio para a criança migrante, esse processo tende a ser dificultado por vivências de bullying. Essas figuras vistas como “diferentes” em tais cenários são frequentemente alvo de ridicularização e ataques. Isso traça experiências de grande dureza para os pequenos.
8. O caso das crianças migrantes de “segunda geração”
Filhos migrantes de “segunda geração” são aqueles que nasceram no país para onde seus pais emigraram. Elas também enfrentam desafios psicológicos específicos.
- Freqüentemente, têm dificuldades em desenvolver sua identidade.
- Elas se sentem desenraizadas, como se estivessem vivendo entre dois mundos.
- Apesar de terem nascido no país, percebem o peso da rejeição ou da discriminação.
- As crianças imigrantes de “segunda geração” também são vulneráveis ao estresse, ansiedade e depressão.
- Muitas sofrem a reprovação dos pais quando assumem comportamentos e costumes do país onde vivem. Elas estão sob pressão para atender às altas expectativas de seus pais.
Ansiedade alta e disfuncional é muito comum em pequenos migrantes. Muitas vezes, eles o desenvolvem ao ver certas reações e comportamentos em suas próprias famílias, no dia a dia.
Cuidar da saúde mental das crianças migrantes
Emigrar é um verbo carregado de incerteza. É para adultos e ainda mais para crianças, que em muitos contextos estão cientes de sua vulnerabilidade. Como sociedade de acolhimento e como acolhimento individual, resta criar e fortalecer instituições e mecanismos de atendimento imediato a esses grupos.
Num mundo em constante mudança e onde a migração só vai aumentar, é necessário um ato de consciência global como sociedade. Qualquer um pode se encontrar nessa situação em algum momento. Talvez essa experiência já faça parte de quem você é ou do que seus pais foram. Você tem que ser mais sensível e desenvolver estratégias para ajudar e não atrapalhar. E muito mais quando se trata de crianças.
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