Emoções autoconscientes: culpa, vergonha e orgulho

A culpa, a vergonha e o orgulho são emoções que se relacionam com o sentido do eu e que surgem a partir de uma série de avaliações e atribuições internas.
Emoções autoconscientes: culpa, vergonha e orgulho
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Sentir vergonha na hora de expor uma opinião, sentir culpa por aquilo que fizemos um dia, ou orgulho por uma conquista alcançada. Qualquer um dos exemplos anteriores corresponde a uma série de emoções nas quais há uma avaliação relativa ao próprio eu e que, no âmbito da psicologia, foram chamadas de emoções autoconscientes.

São estados emocionais que têm uma série de características comuns, mas que também apresentam alguns traços específicos, dependendo de como forem avaliados o comportamento e a atribuição dos mesmos.

“Uma emoção não causa dor. A resistência ou repressão de uma emoção causa dor”.
-Frederick Dodson-

Mulher refletindo de olhos fechados

As emoções autoconscientes

Nos últimos anos, as emoções têm assumido um certo protagonismo. Elas não são mais as grandes esquecidas, muito pelo contrário. No entanto, ainda nos resta muito para descobrir sobre elas.

Embora seja verdade que, atualmente, há muitos estudos sobre as emoções básicas e a inteligência emocional, o mesmo não acontece com aquelas com uma variabilidade e complexidade maior, como é o caso das emoções autoconscientes.

Apesar de tudo, o interesse por esse tipo de emoção aumentou de forma progressiva e já existem modelos teóricos sobre elas. Assim, segundo os diversos estudos realizados, as emoções autoconscientes compartilham uma série de características importantes:

  • São emoções secundárias. Isso quer dizer que surgem a partir da transformação de outras emoções mais básicas.
  • São emoções complexas. É necessário ter o desenvolvimento prévio de certas habilidades cognitivas, como uma noção do eu ou a autoconsciência, ou seja, é necessário que exista uma diferença entre o eu e os demais.
  • São emoções sociais. Aparecem em contextos interpessoais.
  • São emoções morais. Este tipo de emoção é fruto da interiorização de valores, normas e critérios culturais a partir dos quais se estabelece o que é correto e o que não a nível comportamental. Além disso, são fundamentais como elementos motivadores e controladores do comportamento moral junto com a empatia.

Por exemplo, a culpa e a vergonha são capazes de inibir comportamentos considerados imorais ou de facilitar aqueles classificados como altamente morais. Por outro lado, o orgulho estaria associado a uma boa ação e ao reforço resultante de ações similares no futuro.

Outro dado importante a levar em conta é que, apesar destes tipos de emoções serem consideradas autoconscientes, os diversos autores que as estudaram afirmam que a autoavaliação realizada não precisa ser consciente nem explícita.

Aspectos diferenciais da culpa, da vergonha e do orgulho

Apesar dos traços que as emoções autoconscientes compartilham, também existem certos aspectos que as diferenciam. Cada uma delas surge diante de um evento determinado, tem uma experiência subjetiva particular e envolve uma série de comportamentos distintos.

Michael Lewis desenvolveu um modelo que explica as emoções autoconscientes a partir de duas variáveis:

  • A avaliação positiva ou negativa do próprio comportamento.
  • A atribuição interna (global ou específica) feita sobre o comportamento.

Segundo o autor, avaliamos nossos pensamentos, sentimentos e ações como êxitos ou fracassos segundo uma série de regras, padrões e metas, tanto culturais quanto pessoais. A partir disso, criamos atribuições internas, ou seja, refletimos sobre a sua origem e significado.

Se considerarmos que o sucesso e o fracasso se devem ao nosso eu em seu conjunto, a atribuição interna será global, e se considerarmos que são decorrentes de um pensamento, ação ou sentimento determinado, será específica. A partir daí, surgiria uma ou outra emoção.

Todo este processo depende tanto de influências culturais quanto de variáveis pessoais. Por esta razão, uma mesma ação pode ser considerada um erro por uma pessoa e um sucesso pela outra, e o mesmo ocorre com as atribuições, que podem ser globais ou específicas dependendo da pessoa.

A seguir, explicamos as características principais deste tipo de emoção segundo a perspectiva de Lewis.

Culpa e vergonha, emoções com autoavaliações negativas

Quando sentimos vergonha, fazemos uma avaliação negativa do eu a nível global. Desejamos nos esconder ou desaparecer porque percebemos que passamos por algo ridículo e a única coisa que queremos é nos livrar do mal-estar.

De fato, sentimos uma certa confusão mental, mas se desfazer desse estado emocional não é tão fácil quanto reparar uma determinada ação, por isso recorremos a mecanismos como o esquecimento e a reinterpretação do que aconteceu.

Por outro lado, a culpa surge de uma avaliação negativa do eu, mas a nível específico, ou seja, por uma ação concreta. Nos sentimos culpados por algo que fizemos, pensamos ou sentimos, porque cometemos um erro. 

No entanto, nesse caso não se interrompe a ação. A culpa leva a comportamentos para reparar a ação e se livrar, assim, do estado emocional experimentado, além de uma reflexão sobre como agiremos no futuro.

Lewis considera a culpa como menos destrutiva e mais útil do que a vergonha, devido à implicação de medidas corretivas.

Mulher cobrindo o rosto com vergonha

Orgulho e arrogância, emoções com autoavaliações positivas

O orgulho surge a partir de uma avaliação positiva do eu de caráter específico. Quando sentimos orgulho, nos sentimos satisfeitos por uma ação própria. Por ser um estado emocional prazeroso, é muito provável que a nossa tendência seja a de tentar reproduzi-lo novamente.

Michael Lewis, em seu modelo explicativo sobre as emoções autoconscientes, também fez referência a uma disposição da personalidade, mais do que a uma reação emocional, para se referir a um orgulho exagerado: a arrogância.

Trata-se de uma emoção que se origina a partir de uma avaliação positiva a nível global, mas se encontra associada ao narcisismo em casos extremos.

Quando uma pessoa experimenta a arrogância, está muito satisfeita consigo mesma. Por isso, tentará manter este estado, embora não seja tão fácil. Além disso, ela costuma estar associada a um sentimento de superioridade, razão pela qual provoca a rejeição dos demais.

Conclusões sobre as emoções autoconscientes

No que pensamos quando sentimos vergonha? A que atribuímos o nosso orgulho ou por que experimentamos culpa? Reconhecemos o estado de arrogância em algum momento de nossas vidas?

Como vimos, se algo diferencia as emoções autoconscientes, é o processo de desenvolvimento que as caracteriza, relacionado com a avaliação do próprio eu. Isso é algo que podemos comprovar no nosso dia a dia quando as experimentamos.

No entanto, ainda há muito a estudar sobre esse tipo de emoção, tanto a nível pessoal quanto social, como, por exemplo, até que ponto o orgulho e a arrogância são emoções positivas e em que momento se transformam em estados emocionais com consequências negativas.

O universo emocional é apaixonante, mas não deixa de ser complicado e, em algumas ocasiões, misterioso, devido ao fato de que é influenciado por um grande número de variáveis e aspectos.

Ainda assim, é fundamental estudá-lo, pois ele facilita o entendimento e a compreensão da nossa essência, uma contribuição a mais para completar a resposta para uma das nossas maiores dúvidas: como funcionamos?


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  • Etxebarria, I. (2003). Las emociones autoconscientes: culpa, vergüenza y orgullo. En E. G. Fernández-Abascal, M. P. Jiménez y M. D. Martín (Coor.). Motivación y emoción. La adaptación humana (pp. 369-393). Madrid: Centro de Estudios Ramón Areces.

  • Lewis, M. (2000). Self-conscious emotions: Embarrassment, pride, shame, and guilt. En M. Lewis y J. M. Haviland-Jones (Eds.), Handbook of emotions (pp. 623-636). Nueva York: The Guilford Press.


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